XXII

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Passamos o dia em preparativos, Sam partiria de madrugada com Nathan e mais tarde durante a manhã o Major Greene, e sob o comando de Horatio Gates partiriam com os seus regimentos para Saratoga, seria ali o campo de batalha, se saíssemos vitoriosos iríamos todos para Filadélfia novamente. O jantar não foi tão animado quanto o pequeno almoço, acabamos o dia com os estômagos embrulhados, e eu com os olhares de Imelda, triste sobre mim.
-Imelda, peço-lhe que suba ao meu quarto hoje para me ajudar a arrumar as roupas de Sam, se não se importar claro.
- Sim, claro que irei, menina. Tudo o que precisar. – deixei Sam ir com os homens para a sala das “conjuracoes”, sabia que ele me iria dar um tempo com Imelda e subiria em seguida, deu-me um beijo na face e eu subi com uma  Imelda pesarosa atrás de mim.
- Bem menina, qual a arca que o coronel Heughan quer levar, uma pequena ou uma grande? Se for sozinho que leve a mais pequena, ponho lá quantas mudas?
- Imelda…
- Bem se a menina for com ele deverá levar a mala grande, porque não deverá separar-se dos seus vestidos, pode precisar deles, a menina em sociedade deve apresentar-se bem vestida. – não se calava parecia uma grafonola.
- Imelda… sossegue, chegue aqui,  sente-se aqui ao meu lado.
Observei-a a sentar-se alisando o vestido nem olhava para mim. – menina,  se precisa de ir sem mim, vá, não me ligue isto é coisa de velha, há-de passar, não se amofine por mim. – cheguei-me a ela, abracei-lhe os ombros rechonchudos.
-Não lhe disse mais que uma vez que não vou a lugar nenhum sem si..? Que não poderia nunca em sã consciência deixá-la em lugar algum? – olhou para mim com os olhos rasos de água – é  sério Imelda quando digo que você é a minha “mãe “ querida.
Bateram à porta ao mesmo tempo que abriram, era Sam que se encostou a ela olhando em torno do quarto, até que caminhou ao nosso encontro puxou uma cadeira e sentou-se de frente para Imelda, pegou-lhe nas mãos – Imelda.
- Ai mãezinha do céu, o que aconteceu? Que cara é essa? o que foi? – rebentou num choro lamurioso, olhando de mim para Sam.
-Nada de grave, escuta com atenção as palavras de Sam, e nota que o que te vamos contar é um segredo de estado, não pode sair deste quarto.
- Céus, o francês…  o que fez o homem? ou  está alguém doente?
-Nada disso Imelda, se deixares falar vamos contar-te, calma, escuta com atenção. – disse-lhe.
- Sim está bem, diga então, meu querido.
-Bem Imelda, como Andreza estava a dizer é sigilo absoluto. – Imelda assentiu com a cabeça. – bem, só eu vou partir com o soldado Nathan Hale, vou numa missão de espionagem Nathan vai alistar-se no regimento de Howe e eu vou dizer que mudei de trajetória, que me zanguei com Washington, que já não partilho dos seus ideais, que a independência é apenas uma ideia na cabeça dele, que Inglaterra não pode deixar os Americanos, que Washington é um lunático.
-Meu deus, homem! vai fingir que deixa de ser quem é?
-Sim, é isso.- Sam levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro. – é  necessário para sabermos os passos deles.
-E Andreza? Vai ficar aqui, nós vamos ficar aqui?
- É, vão. Ninguém sabe da existência dela, a não ser os nossos, ninguém sabe que tenho um amor maior – e olhou para mim com ternura – aqui sei que estarão seguras e sei também que se algo correr mal... você agarrará nela e a levará em segurança para Monticello ou mesmo para Inglaterra.
- O quê? – levantei-me de sobressalto – nunca mais irei para Inglaterra e nada vai correr mal, tu prometeste que voltarias.
- E é o quero! Voltar. – chegou-se a mim e abraçou-me – Mas se não conseguir tens de me prometer que vais com Imelda ou para Monticello ou para Inglaterra o que for mais seguro para as duas – olhou para Imelda – sei que o fará que a protegerá como tem feito até aqui, promete-me isso? – baixou-se perto dela, desamparando-me ali no meio do quarto.
- Sempre! – disse-lhe ela segurando nas suas mãos – vá descansado, fazer o que tem a fazer, vá com o coração em paz, a velha Imelda ainda tem muita força para levar a vida adiante por mim e pela minha menina. Mas vai voltar eu sei que vai, o vosso amor é grande e tão bonito que não merece que a vida o desperdice assim sem mais. – e beijou-lhe as mãos uma a uma.
Depois de Imelda sair do quarto, fiquei junto à janela sem nada dizer, agora estava com medo, medo de que o mundo ruísse à minha volta  e que no meio desses escombros eu não conseguisse encontrar o homem da minha vida novamente. Ouvi-o despir-se, não me virei não queria  que visse as minhas lágrimas, não queria que me visse assim sem alento. Chegou até mim, nu, e baixou-se, virou-me o rosto para ele, tinha um sorriso terno estampado nele, a sua boca tão perto de mim, os cabelos caídos pelas suas costas largas, os seus olhos azuis cristalinos como lagos, repletos de amor, podia quase ver-me neles, como espelhos.
- Tu és a minha vida, Andreza e juro por tudo que vou voltar para ti, não te preocupes, anda vem para a cama, vem – puxou-me por um braço levemente e despiu-me, abraçou-me, beijando-me o rosto, os olhos, o nariz, as orelhas, o pescoço e perdi-me nele, dentro dele, agarrou-me ao colo e depositou-me entre os lençóis macios.
- Vou sentir tanto a tua falta – e foi a única coisa que lhe disse com sentido, a partir daquele momento entrámos numa nuvem de desejo um pelo outro, acariciámo-nos aumentando o ritmo conforme os corpos nos pediam, absortos no que cada um de nós dava e o outro retirava, dando esperança às dúvidas de quem olha em frente e vê um túnel de incertezas, o bater do seu coração confundia-se com o meu, todo o amor libertado em gotas de suor e de respiração ofegante, a minha paixão por ele era um mar revolto de encontro a rochas que me seguravam, que eram o seu corpo.
De madrugada, o sol que já queria despontar  bateu-me levemente no rosto, virei-me para ele que  estava virado para mim, a dormir ainda tão relaxado, olhei por todo o seu rosto para o fixar em mim, queria passar-lhe a mão, delinear com a ponta de um dedo todos os seus ossos, como um pintor numa tela, tão bonito, ao mesmo tempo que era um rosto cinzelado, era suave, bonito, as suas sobrancelhas tão bem desenhadas, as pestanas compridas, o nariz fino, a boca, essa era a minha perdição a boca mais bonita do mundo, apetecível, senti um nó na garganta e o estômago apertado, um arrepio inexplicável correu da minha espinha até à nuca, remexi-me e senti que a sua mão que antes estava na cintura se movimentava ao longo das minhas costas, navegando por elas.
- Bom dia amor – olhou-me nos olhos - não me acordaste?
- Não, estava a admirar-te. – sorri-lhe e pousei a minha mão no seu rosto. – queria guardar a tua imagem, assim descansado, tão belo.
- Belo? Hummmm não sei se isso é coisa que se diga a um homem, que se quer valente para o dia. – e riu-se chegando-me mais para ele.
- Belo sim, para mim não há ninguém mais belo e valente. És o meu príncipe galante. – beijei-lhe a ponta do nariz..- tens a boca mais bonita que já vi – e beijei-lhe os lábios, devagar, passando a minha língua por eles. Entreabriu a sua boca e meti a minha língua por dentro dele, apalpei-o sem vergonha, corri as minhas mãos pelo seu corpo duro, já tão desejoso do meu. – Amo-te hoje e para sempre. - E não me fez esperar mais, adentrou-se em mim com sofreguidão, fez-me tudo o que tinha vontade mais uma vez, como que para deixar a sua marca, senti que as células do meu corpo estavam mais vivas que nunca  e abri-me a ele para que me amasse mais uma vez, apaixonadamente.
Na hora de ir, todos estávamos à porta com o coração nas mãos, todos se despediram, Patrick seu pai abraçou-o e beijou-lhe o rosto, Lá Fayette, Washington, Greene, Gates, Betsy, Imelda, todos lhe desejaram a melhor das sortes, fui com ele até ao cavalo, que agarrei pela cabeça murmurei-lhe “traz-mo de volta”, antes de montar abraçou-me olhou nos meus olhos e disse-me : - em nome da Liberdade e do amor que sinto por ti, pela esperança num mundo novo, um mundo decente que dê aos homens a chance de trabalhar, por um mundo de razão, um mundo seguro, tu e eu Andreza, sempre tu e eu. – beijou-me intensamente, pulou para o cavalo passou a mão no meu rosto e seguiu caminho com Nathan ao seu lado.

Onde Tu Fores... IreiOnde histórias criam vida. Descubra agora