XXXIV

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Certos do caminho que tomávamos, mais Pulaski do que eu, íamos falando sobre o que estava a acontecer na América, as mudanças de mentalidades, os escritos que estavam a assolar a sociedade sobretudo a situação dos nativos mas  principalmente a escravidão, Pulaski tinha o mesmo entendimento:
- É infame – dizia – o tráfico de homens, mulheres e crianças viola os direitos mais sagrados da humanidade, o tratamento dado a estas pessoas é cruel não são vistos de mais nenhuma forma senão como carga que deve ser transportada da maneira mais rápida e barata possível.
- É verdade, caro amigo, como é possível ser o cristianismo a encorajar esta prática  tão repugnante, eu não consigo sequer pensar que se deva punir um Homem que apenas almeja para si e para os seus o que nós temos garantido, a nossa liberdade, a dignidade do ser humano, espero que Washington pense nisso, porque por mais que eu valorize a união de todos os Estados eu não admitiria os estados do Sul na União, a menos que eles concordassem com a descontinuação desse comércio vergonhoso, porque a meu ver isso enfraquece a União, o aumento de escravos enfraquece os Estados.. É um comércio diabólico em si e vergonhoso para a humanidade.
-Penso que Washington também não aceita o comércio escravo, mas não será fácil ir contra os proprietários, eu posso não vir a assistir a tão grandioso acto, a abolição, mas sei que demos os primeiros passos para que tal aconteça. – e assim continuámos no nosso caminho, trocando opiniões julgando-nos já perto de Cahokia, Pulaski achou melhor descansarmos, e entrarmos na aldeia no dia seguinte com o raiar do dia, enquanto ele montava a nossa pequena tenda eu fui catar uns paus para fazermos uma pequena fogueira, as noites já estavam muito frias e se não aquecêssemos os ossos seria impossível dormir alguma coisa, eu sentia-me muito cansada, não tinha tido mais episódios de vómito ou tonturas, apenas me sentia dorida  e muito cansada, quando nos deitávamos , durava muito pouco tempo acordada, dormia em seguida, sonhava imenso com Sam que estava  abraçada a ele, nesta última noite, tive um sonho erótico onde Sam fazia amor comigo, eu podia senti-lo dentro de mim, beijava-me com doçura ao mesmo tempo eu pedia-lhe que o fizesse com força que não se apiedasse de mim, e ele agarrava-me os seios beliscando-me os mamilos, sentia-o ofegar no meu pescoço, foi tão real que acordei com um enorme suspiro dizendo o nome dele, sentei-me e vi que estava totalmente enrolada nos cobertores e Casimir estava acordado sentado ao fundo da tenda. Eu suava por todos os lados e a minha respiração estava ofegante parecia mesmo que tinha acabado de fazer amor, passei a mão pelo rosto e senti que estava a arder.
- Não sabia se a deveria acordar – Casimir Pulaski olhava-me muito sério – chamou pelo Sam tantas vezes que me assustei. Mas depois… – pigarreou e passou a mão pela sua cabeça para afastar os cabelos dos olhos  – peço desculpa Andreza deveria ter saído da tenda. – o homem estava tão vermelho quanto eu. – peço  desculpa, não queria observar. – eu estava deveras envergonhada. Mas não podíamos ficar neste impasse precisávamos um do outro neste momento, por Sam, então descontraí:
- Eu é que peço desculpa, mas…  nós não mandamos nos sonhos, - e baixei o meu rosto – estava com Sam, sinto tanto a sua falta—abanei a cabeça, ainda respirava forte mas já mais pausadamente – não é vergonha nenhuma a minha sensação, apenas peço desculpa por os meus sonhos não se terem lembrado que eu não estou com Sam e nem sozinha.
-Claro, Andreza, é natural.. Não pense que eu vejo algum mal no amor, logo eu? Não…  eu apenas vi que os seus sentimentos são muito fortes.. E…  talvez mais fortes por sentir que estamos perto, muito perto de Sam, bem.. Podemos se calhar ir comer qualquer coisa?
-Sim, sim vamos, ainda temos algum pão e queijo.. E água, tenho muita sede.
- Imagino senhora, você ofegava, por deus- e riu-se deixando-me encabulada, mas já mais descansada. Estávamos a comer cada um entretido com os seus próprios pensamentos quando ouvimos o zunir e uma flecha caiu bem no centro da nossa fogueira. Pulaski de imediato puxou do rifle e eu levantei-me de um pulo indo agachar-me atrás dele, ele rodava o rifle fazendo pontaria por entre as árvores, não víamos nada nem ninguém, quando senti um puxão  vindo detrás e uma faca afiada na minha garganta. – Casimir – gritei,  e ele  voltou-se de arma em punho mas foi imediatamente arremessada para o chão assim como ele, vi ante os meu olhos arregalados dois nativos pularem sobre  ele, que mesmo assim não parava de estrebuchar, meu Deus quase o matam, levantei as minhas mãos num acto de rendição e gritei, - não, esperem, não o magoem, somos amigos, nuwita, nuwita – disse-lhes várias vezes sabia que significava “amigo” Sam tinha-me dito – por favor nuwita – os homens afrouxaram o meu aperto mas continuaram em cima de Pulaski, mantendo-o junto ao chão. – queremos ver Heughan, eu sou a sua mulher, por favor  nuwita. – levantaram Pulaski do chão e um dos homens deu ordens num tom imperativo, o que estava atrás de mim ainda segurando – me por um braço olhou para mim muito sério – Heughan, disseste tu, mulher?
- Sim, viemos por Heughan é o meu homem, meu marido e apontei para a minha mão esquerda onde tinha a minha aliança de casada – Heughan e eu, marido e esposa – trocaram olhares entre uns e outros assentindo, levantaram Pulaski, que tinha uma das faces cheia de terra e os óculos de esguelha.
- Sou o General Casimir Pulaski, sou camarada  e amigo de Sam Heughan, sei que está doente aqui em Cahokia, vim trazer-lhe a sua mulher. – e puxando um braço, que eles logo largaram endireitou os óculos. Entre os índios fomos arrumando as coisas do acampamento, de vez em quando tiravam-nos as coisas das mãos para as observarem, foi com certa dificuldade que fiz com que Pulaski mantivesse a calma, retirava as coisas das mãos dos índios e guardava-as com uma certa fúria.
- Calma – disse-lhe – você  não podia com eles todos, estamos bem, não vale a pena enfurece-los.
-Não gosto de me sentir impotente, é só isso! – estava mal humorado, compreendi que sentiu que não me defendeu quando mais precisava – que diria Sam  de mim se eu lhe perdesse a mulher – e continuava a colocar as coisas nos alforges zangado, até que o cavalo relinchou sentindo também os ânimos do General.
- Casimir – mas ele não me ouvia – Casimir escute está tudo bem, vamos lá, o que importa agora é ir para junto de Sam, saber como ele está.
-Sim tem razão. – voltou-se para o índio que tinha falado inglês – Vamos? Leve-nos até o coronel. Por favor. – e com os cavalos atrelados lá fomos com eles à nossa frente sem pressa nenhuma, ouvia o bater do meu coração ribombar na minha cabeça, sentia borboletas no estômago, não me parecia que conseguisse segurar o pão e o queijo que tinha comido há pouco, os índios iam numa amena cavaqueira como se estivessem a passear num jardim, Pulaski já mais calmo olhava em frente, não sei se sentia como eu, provavelmente não, era um homem de guerra afinal de contas, malditos homens, malditos sempre com a fúria na ponta dos dedos, e eu o que tinha na ponta dos meus?  agarrei com mais força as rédeas do cavalo. Quando passamos a colina ali estava Cahokia, uma aldeia  recheada de tendas todas em volta de duas tendas maiores, homens, mulheres espalhados nos seus trabalhos e crianças correndo de um lado para o outro, até que nos avistaram, as crianças rodearam-nos mexendo em nós e as mulheres deixaram os seu afazeres para se juntarem  aos índios que nos traziam perguntando, ou pelo menos pela entoação era o que parecia, sorri-lhes, afinal eram também o povo do meu marido, então queria ser bem recebida, as mulheres chegavam-se a mim e mexiam-me no cabelo que estava caído ao longo das costas nem tive tempo de me arrumar deveria estar toda desgrenhada, não aguentando mais cheguei-me ao índio que falava inglês
-Onde está o meu marido? Quero vê-lo – pedi-lhe. Ele assentiu e agarrando-me pelo cotovelo, levou-me adiante pela fila de mulheres e homens que se tinha formado até uma das tendas maiores, o meu coração pulava no peito se pudesse corria, mas mantive-me calma olhando de um lado para o outro, sorrindo.

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