XXXV

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O índio à minha frente abriu-me a porta da tenda e fez-me sinal para que entrasse, estava escuro e o cheiro pungente de fumaça misturado a algo que me fez encolher e fechar os olhos, sangue? Abri os olhos devagar para me acostumar à pouca luminosidade, ao fundo uma mulher sentada, cantava num som rítmico, outro homem a seu lado batendo de leve numa espécie de tambor, baixinho, mexendo o corpo para trás e para a frente e ali de olhos fechados, num catre um corpo quieto, não pude mais, corri, assustando a mulher e o homem que pularam para o lado o homem deixando cair o Tambor, ainda me tentou agarrar o braço, mas deitei-lhe um olhar como que a dizer-lhe que se me impedisse poderia matá-lo, desviou-se indo até onde estavam os outros, Pulaski também correu mas o índio do tambor agarrou-o por um braço - vem precisamos falar. Águia no Vento, puxou-o para fora e ele foi com ele.
- OH Sam, Sam meu amor estou aqui. - e beijei-o ajoelhada no chão coloquei a minha cabeça no seu peito para lhe ouvir o coração, batia, leve, mas batia, senti a sua mão nas minhas costas muito suave, olhei-o - Sam? -ele abriu os seus olhos tentou um sorriso
-Finalmente, o meu coração está de volta. - abracei-me a ele e chorei, não consegui engolir as lágrimas, beijei-lhe os olhos as faces, enquanto passava as minhas mãos pelo seu corpo, senti no seu peito um curativo, mesmo perto do coração. - Querida , calma os meus familiares assim vão pensar que me queres comer - piscou-me um olho - senão morri até agora, aposto que não vai ser aqui contigo perto de mim.
- Ah Sam, quase que morri de saudades. Mas agora vou cuidar de ti, diz-me por favor como te sentes, meu querido? - passei-lhe a mão pelo rosto que apesar de tudo até estava barbeado. Os seu olhos de felino nos meus, querendo transbordar um sorriso. Tateou à procura da minha mão.
-Melhor agora que te tenho aqui comigo. - beijei-o ao de leve.
- Quem estava aqui contigo? São familiares teus? Eu não sei as regras da boa educação aqui, queria fazer boa figura, mas não sei. - falei-lhe com o rosto encostado no seu peito. A sua mão subiu para me acariciar os cabelos, o rosto, os seus olhos fechados, suspirou.
- Sê quem tu és meu amor, isso é o bastante para alguém te querer. - fiquei ali até que o senti adormecido, levantei-me passei-lhe a mão na testa estava quente mas não aquele quente febril, olhei à minha volta e estava ali muita gente afinal, alisei as minhas saias tentei arranjar o cabelo prendê-lo nos ganchos, agora sim estava arrependida de não o ter cortado, Casimir também ali estava, veio até mim e postou-se ao lado de Sam, olhou para mim com uma mão estendida.
- Posso? - queria tocar-lhe percebi, sentir que ele estava ali. Não senti ciúmes, as lágrimas caíram-me pela face sem eu dar por isso.
- Sim, cl.. Claro - afastei-me para trás só um pouco e vi uma lágrima correr pelo rosto dele, colocou apenas uma mão sobre o seu peito, como eu fiz quando o vi, só para lhe ouvir o coração bater
- Pronto, agora está tudo bem - Inclinou a cabeça para baixo e fechou os olhos deixando mais uma lágrima cair, Sam abriu novamente os olhos, olhou de Pulaski para mim questionando, acenei com a cabeça afirmativamente e Sam viu que estava tudo bem.
- Casimir, - e colocou a sua mão sobre a dele sobressaltando-o, olharam um para o outro, e se eu não soubesse ainda dos sentimentos de Pulaski pelo meu marido, naquele momento vi o tamanho do amor que ele lhe devotava, senti tanta pena dele, ele merecia alguém, um amor tão grande como o que eu estava a ver sair-lhe pelos poros, pelos olhos, senti também a força do seu desejo, quase que tinha cheiro, Sam sentiu o mesmo retesou o seu corpo involuntariamente , mas não se afastou nem desviou a sua mão.- obrigada homem, por ter trazido a minha vida de volta para mim. Nunca lhe poderei agradecer o bastante. - Casimir encabulado, retirou a sua mão e fingiu limpar os óculos ao mesmo tempo que se voltava para mim indicando que me aproximasse.
- Sam, não sei quem tomou conta de quem, nunca antes senti tanta afeição por uma mulher, quase, quase que me apaixonava - deu um sorriso torto - vocês mudarão a América e Deus permita tenham muitos filhos para a povoarem com gente de princípios. Espero que sejam as pessoas mais felizes ao cimo da terra porque bem merecem. - endireitou-se e colocando as mãos atrás das costas qual um general, - agora descanse esses ossos Coronel, que a América espera por si, assim como sua esposa, ela - puxou-me pelo cotovelo delicadamente - sente muito a sua falta, acredite. - fiquei vermelha que nem um tomate, estava a referir-se ao meu sonho da noite passada, onde gemi até mais não como se Sam estivesse a fazer amor comigo. Sam olhou para nós e levantou uma sobrancelha.
- Andreza, estás doente? Tens febre? - perguntou-me tentando esticar o braço para me alcançar, cheguei-me a ele, sentei-me novamente no chão para o poder abraçar no catre e o seu braço rodeou-me, senti-me em casa.
- Se sentir saudades do seu homem e fazer um alarido sobre isso, sim está com febre, de amor - fechou os lábios um no outro olhando de lado para o chão - ou falta dele. - respondeu Pulaski por mim, que enfiei o meu nariz na camisa do meu marido, fechei os olhos e inspirei.
-Hum, vão ter de me explicar melhor essa história, não sei bem se percebi, Casimir chame o meu tio por favor. Pediu Sam. - Casimir chegou-se ao pé de Águia no vento que também estava ali e levou-o até Sam - tio esta é a minha esposa, Andreza Adams Heughan - levantei-me coloquei as minhas mãos sob o meu colo e fiz uma ligeira mesura e Águia respondeu-me com uma vénia perfeita ao velho estilo inglês - não é a mulher mais bonita que já viste?
- É um gosto Andreza minha sobrinha, finalmente Sam pode dormir descansado sem pedir para se ir embora todo o santo dia, foi difícil a nossa Pejuta wichasha (vim a saber depois ser a curandeira) teve de o amarrar para que não fugisse, não chegaria ao fim da aldeia, mas dava cabo dos tratamentos que lhe estavam a fazer, vamos deixá-lo descansar agora?
-Não sei - não queria sair de perto dele. Olhei para Sam como que a perguntar o que deveria fazer, se seria educado pedir para ficar com ele.
- Bem vão lá, deixem estar Andreza só mais um pouco comigo por favor, daqui a pouco ela vai. - todos assentiram e saíram da grande tenda, reparava agora que havia várias fogueiras na tenda e por cima de cada uma, uma espécie de chaminé por onde saia o fumo e catres espalhados à volta como se fosse um dormitório. - é o dormitório dos homens, as mulheres têm outro e há a dos casais.
- Dormem todos juntos? Os casais também? - olhei para ele que estava a sorrir-me.
- Sim, os solteiros e viúvos dormem todos aqui, e os que não têm cá as esposas como eu - e riu-se mas ao mesmo tempo fez um esgar de dor.
-Ah cuidado, doí-te muito? O ferimento foi grande?
-Foi quase fatal, mas ainda não foi desta vez, e não há-de ser nos anos vindouros porque eu decidi que quero continuar vivo para te amar e te servir como um homem deve fazer com a mulher que ama, percebi que sentiste muito a minha falta, - colocou uma mão no meu queixo e eu cheguei perto dos seu lábios.
-Sim sempre, mas esta noite estivemos mais próximos, no meu sonho - olhei-o nos olhos, beijei-lhe os lábios - esta noite estavas dentro de mim e acordei ofegante com o teu nome na minha boca e um general ao fundo da tenda encostado na lona com medo que eu talvez o agarrasse, - senti o seu sorriso nos meus lábios e o seu peito resfolegou numa pequena gargalhada.
- Hum, a sorte é que Pulaski é um homem sério.
- E gosta mais de ti que de mim...
-Sim, mas respeita-me como eu o respeito e só lhe posso agradecer por sempre estar por perto quando necessito de um amigo, mesmo quando descobri o porquê e não vou dizer que recebi essa atenção da melhor forma, senti que deveria afastá-lo que não era próprio, mas entendo agora e vi hoje nos seus olhos, amor é amor, venha de que forma vier, vestido ou revestido, amor é o único sentimento que vale a pena - Puxou-me, beijou-me novamente mais demorado, entreabriu os lábios para sentir a minha língua que tocou na dele, e senti um calor enorme entre as minhas pernas puxou-me a minha mão para baixo e senti aquela parte da sua anatomia rija sob a minha palma- sorri-lhe e beijei-lhe a ponta do nariz.
- Sim, meu amor ainda não é agora nem será nos anos vindouros. - Ficamos ali por uns momentos, não o larguei, a minha mão continuou no mesmo sitio a dele no meu pescoço os lábios quase unidos, até que o senti adormecer.

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