Capítulo 41 √

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Eu fazia minha corrida diária, em um parque perto de casa em Charmkovik, eu gostava de usar o entardecer para isso. Normalmente quando Alison não estava em casa, eu trazia Lilith comigo e a sentava em uma toalha de piquenique a minha vista. Mas tendo Alison em casa, tirei este tempo só pra mim.

Eu sequer me lembro da última vez que ouvi falar de um crime em Charmkovik. A policia sequer andava armada.

E eles sequer desconfiavam que tinham uma assassina conhecida debaixo de seus narizes.

Após mais ou menos uma hora de corrida, a noite já havia caído, e eu estava completamente suada, apesar do clima frio. Isto porque estavamos na primavera, o inverno era quase infernal. Menos pra Lilith que amava a neve como ninguém.

Falando nesta, havia se acalmado após termos conversado, aceitando até mesmo visitarmos amanhã a casa de Sebastian Coltrane. Claro, eu tive que deixar claro que não o "namoraria". O que era claro até mesmo pra mim. Que apesar dele parecer o partido perfeito a se investir, e eu sei que se me empenhar... Consiguiria dobrar. Meu interesse até então, não passa de ter uma boa foda, com um homem visivelmente atraente e interessante.

Desanuviei meus pensamentos, lembrando de passar no mercado, pois a diabinha andava pedindo struedel de maçã e Carmo havia  chegado pela tarde no vilarejo com sua nova recém adquirida esposa, Beverly (sim, como a cidade da Califórnia e sim loira, peituda e bronzeada como uma californiana), sabendo eu que aquele italiano bonachão se hospedado em casa odeia saladas, assim como quer um infarto por conta de triglicérides de tanta massa sendo consumida: eu tinha mesmo que passar no mercado.

Da praça ao mercado era apenas um quarteirão, caminhei a passos rápidos até ele, pois havia caido sobre mim aquela velha sensação que me persegue. A de estar sendo observada.

Eu não tinha medo. Havia uma adaga nas minhas vestes, e uma mulher que sabe se defender dentro de mim.

Era incômodo.

Adentrei ao estabelecimento e comprei tudo o que precisava, me sentindo uma dona de casa qualquer ao achar alguns preços absurdos. O inferno pode jogar com a sua cara, antes mesmo que você queime nele.

E quando passava por uma partilheira, senti de novo a sensação, e em seguida um vulto preto passou do outro lado, tão rápido que poderia ser qualquer pessoa dentro do lugar.

Droga, agora a loucura era tanta que estou vendo coisas?

Quando sai do mercado, estava com as sacolas e minha bolsa-carteira em mãos, a sensação se fez mais intensa, enquanto eu saía do quarteirão dizendo pra mim mesma deixar de ser uma louca paranóica, quando passei perto de um beco, estava tão absorta, preocupada com a sensação que não notei alguém ali, me senti ser puxada pra trás pelo braço, e uma voz asquerosa dizer "passa tudo, madame" notei por visão periférica ser um homem sujo, quase da minha altura atrás de mim, este sacou um canivete. Um assalto, minha vontade era sorrir da irônia, afinal isso era a coisa mais incomum neste lugar. Esse é um azarado.

Eu soltei as sacolas, sentindo o canivete a minha lateral, no quadril. Eu teria que me virar levemente para golpea-lo, quando ele puxou minha carteira de minha mão pra si, me afastei o suficiente para o faze-lo, mas antes que eu efetuasse, ouvi um baque surdo.

E seu corpo veio ao chão, e eu tive que me afastar para que ele não caísse sobre mim. E este bateu a cabeça contra a parede.

Haviam lhe acertado por trás, notei então que tinha alguém atrás de si, que havia lhe dado uma coronhada, meus olhos voltaram para este colocando o revólver prateado de volta a suas vestes escuras.

Pois bem, Alexis, acho que você está em Gotham.

Mal pude vislumbrar seu rosto, antes que ele me desse as costas e seguisse rapidamente pelo beco escuro cheio de poças d'agua. Mas foi o suficiente, para que eu pudesse notar, uma máscara preta em couro cobrindo sua face e um grande capuz.

Senti tudo em mim se arrepiar devido ao sentimento... familiar? Sequer pensei antes de passar perto do corpo desmaiado do maldito assaltante, peguei seu canivete e minha carteira, e corri atrás do mascarado enquanto meu coração batia descompassado.

Era a sede por adrenalina, talvez. Algo em mim, apenas gritava para que eu prosseguisse. E o fiz.

O beco virava a direita, ficando estreito e o chão fundo se enchia d'agua, vi sua sombra no final dele, movi meus pés, molhando meus tênis, esforçando-me ao máximo, mas quando cheguei em seu fim, nada encontrei. Era como se tivesse virado fumaça e evaporado.

Encostei meu corpo contra a parede e respirei fundo. Que loucura.

Todos os meus sentidos estavam aguçados.

Dei meia volta, lembrando que deixei minhas sacolas de compra pra trás, mas então pisei em algo, olhei pra baixo notando um pequeno objeto prateado, me abaixei e o peguei, era um anel. Puxei o celular de meu bolso, e iluminei a peça caminhando de volta pelo beco.

Então, meus olhos se arregalaram, ardendo e minha garganta se fechou, enquanto minha mente maquinava coisas, tentando processar o que eu via.

Era o anel da família Vicentinni.

Carmo tinha um, com um detalhe nos olhos da pequena gárgula, duas pequenas pedras de rubi.

Neste haviam esmeraldas, como o que vi tantas vezes no anelar de... Nicholas.

Vacilante, iluminei dentro dele, para que não restasse dúvidas a mim, e pisquei seguidas vezes, para crer que estava gravado “N. I” dentro dele.

Soltei um esgar, em estado de ebulição, segurando a jóia em minha mão, meu corpo tremia, o muito que fiz foi sair correndo pelas ruas de Charmkovik. Em desespero, torpor.

Abri a porta de casa em um rompante, o ar faltava em meus pulmões.

— CARMO! CARMO! INFERNO, ONDE VOCÊ ESTÁ? CARMO? — Berrei chamando por ele, aos prantos. Pronta pra quebrar o mundo inteiro.

Alison apareceu ao pé da escada, assustada.

— Que isso, Alexis? Ele saiu com a Lilith... Como ele sempre faz. O que aconteceu? — Soltou algo que captou minha atenção. Carmo sempre sai sozinho com Lilith... Ela volta contente.

Como ele sempre faz.

Ele a leva pra ve-lo...— Constatei, com as vistas turvas, me sentia sem forças. Inferno, era tanta frustração e ódio correndo dentro de mim, como ele pode fazer isso comigo?

Isso não podia ser real.

Anos não são dias.

— Por que está chorando assim, Lexi? — Soltou sem entender. — Ver quem? — Perguntou alarmada, descendo as escadas, correndo em minha direção, enquanto eu desmoronava sobre o sofá.

— Nicholas.

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Pois então, que loucura, não?

O mascarado pode ser apenas o Batman.

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- cris

DicotomiaOnde histórias criam vida. Descubra agora