Capítulo 24

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(...)

- Não vou para o hospital. - Nicholas voltou a repetir.

- Não tem discussão. - Decretei, enquanto eu dirigia seu carro pelas ruas movimentadas de Detroit, ele estava no carona, deitado, no banco reclinado, com uma outra bolsa de gelo no rosto, ainda usando a droga do kimono, minha vontade era pegar aquela faixa preta e enforca-lo com ela.

Quer saber? Bem feito. Quem procura, acha.

- Odeio hospitais.

- Ninguém gosta. - Rebati. - Tem alguma clínica que você prefira, ou vou te levar pra um posto médico qualquer? - Quis saber, mas eu há havia optado por uma clínica particular conhecida, no centro da cidade.

- Tanto faz, contanto que eu saia hoje.. - O ouvi murmurar segundos depois, desviei os olhos da rua, e me virei pra ele.

- Não tenho culpa se resolveu apanhar, ursinho.

- Apelido de merda. - Rosnou.

- Eu acho adequado, vocês dois são fofos e tudo mais... - Impliquei, contendo um sorriso. Ele ia acabar me jogando pra fora do carro.

- Já me chamaram de muitas coisas, mas fofo, não é uma delas. - Declarou.

- Que pena.

- Alexis, eu já estou todo quebrado, você quer mesmo me infernizar?

- Você que começou.

- Não, não foi.

- Foi sim.

- Não foi.

- Cala a boca.

- Eu conheço uma velha canção em italiano, tocada no Vaticano, quer me ouvir cantar?

- Não.

Ao chegarmos na clínica, Nicholas foi automaticamente encaminhando para exames e Raio X das costelas. Fiquei em uma recepção privativa esperando, só então percebi que ainda estava usando roupa de ginástica. Bufei impaciente, se tem algo que acaba com meu humor é: esperar.

Assim que Nicholas saiu do exame, eu o acompanhei em seu atendimento, ele, além dos hematomas no rosto, do qual levou dois pontos no supercílio e ganhou alguns curativos aqui e ali, fraturou mesmo uma das costelas, como Charlie disse, e isso queria dizer: repouso. O encheram de analgésicos e haviam enfaixado seu tórax, algo bastante desnecessário, ele julgou. Por via das dúvidas seria necessário ficar em observação, mas teimoso como uma porta emperrada, obviamente ele não aceitou a internação.

Antes que saissemos dali, ele enfim se olhou no espelho, pareceu uma vadia estapeada quando avaliou seu rosto e os pontos no supercílio.

- Estou horrível... - Sussurrou, perplexo, se encarando no espelho, no quarto que a clínica o disponibilizou. Não estava tão ruim, era drama, já vi homens na Maycorp em situações mil vezes pior, irreconhecíveis, após levarem uma surra. Nicholas estava Nicholas, um Nicholas que levou uma surra.

- Está. - Concordei com ele, só pra desespera-lo mais um pouco. Prossegui. - Ao sairmos juntos daqui, vão pensar claramente que um monstro aprisionou uma princesa. - Falei tocando seu ombro.

Ele me olhou, fixamente.

- Você é uma princesa? - Indagou, me olhando de um jeito engraçado. Eu sorri, pra ele, sem me conter, enquanto balançava a cabeça negativamente.

- E você vai me dizer que não é o lobo mau? - Instiguei, com pretenção.

- Estou bastante satisfeito sendo eu. - Fez uma pausa - E estou indo pra casa. - Disse, e ficou de pé, com a mão sobre o lugar da fratura.

DicotomiaOnde histórias criam vida. Descubra agora