Capítulo 15

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♦PONTO DE VISTA \ NICHOLAS

— Quem é Otto? — Ouvi a voz irritante de Carola, me perguntar.

Respirei fundo, a olhando de esguelha, fazia-se quase quinze anos que Otto sumiu, eu tinha dezoito anos quando ocorreu, Carola tendo agora seus vinte, era apenas uma criança na época, e como esse era um assunto proibido, ela não sabia de nada. E se dependesse de mim, ninguém mais falaria disso.

— Não é da sua conta. — Soltei sem a mínima paciência e saí do carro, vendo ela fazer menção de fazer o mesmo. — Fique aí. — Mandei, e ela bufou contrariada e se encostou contra a poltrona.

— Vai demorar? — Perguntou, e eu fechei a porta do carro sem responde-la.

Carola tinha a missão de me ajudar na noite de hoje. Ela queria missões perigosas, mas teria que ficar de vigia.

Eu queria que ela desaparecesse. Pois bem, ninguém tem o que quer.

Caminhei até o galpão, notando sobre o telhado, a espreita, um atirador, dei a volta para entrar pelos fundos, havia um homem na porta, antes que eu me aproximasse, ele a abriu para que eu passasse. E o fiz.

Ouvi a porta ser fechada atrás de mim, e avistei Paul e seus homens ali, em volta de uma pequena mesa, como a de qualquer bar podre pelas vielas da cidade.

— Ivanov, quanto tempo! — O homem raquítico e tatuado me saldou, me estendendo a mão. A encarei, suja e esquelética, e ergui o olhar. Não, eu não iria apertar.

Ele a recolheu, abrindo um sorriso de prata, dentes de prata, pois as drogas possivelmente levaram os verdadeiros.

— Vamos direto ao ponto. — Fui objetivo.

— O dinheiro primeiro. — Disse, sorrindo e passando a língua sobre a boca rachada, tão podre e asqueroso como qualquer rato de esgoto.

Retirei de dentro do casaco, o pacote.

E um dos homens ali, tirou de trás de si um envelope em papel cartão.

Deixei sobre a mesa o dinheiro, com as mãos sobre ele. E o homem colocou o envelope ali.

— Me deixe ver. — Trouxe o envelope para mim, sem ser impedido. Puxei dali uma folha, ela continha uma foto de Otto, em um presídio, usando a típica roupa laranja, segurando uma placa. Com um nome falso, Joseph Smith. E um número de identificação.

Voltei o papel impresso para dentro do envelope.

— Certo. — Murmurei, e empurrei para eles o pacote de dinheiro.

— Fechado. — O verme confirmou, checando o pacote de dinheiro, havia exatamente a quantia pedida ali. E ele tinha consciência disso, eu era um bom pagador, todos sabiam. E da mesma forma, não tolerava o contrário.

Saí daquele lugar sentindo olhares em minhas costas, estando altamente alerta, preparado para sacar a arma se preciso fosse, mesmo estando seguro que não. Ouvindo sobre minha cabeça, barulho de fios elétricos, olhei para cima vendo os fios dos postes de luz que iluminavam o lugar, engolindo em seco e sentindo minha pele se arrepiar.

Eu odiava esse barulho, imagens bombardearam minha mente, um garoto de oito anos, nú, e aos berros, levando choques do próprio pai, pisquei seguidas vezes, e respirei fundo recobrando o controle.

Como soldados que voltavam transtonardos de suas guerras, os torturados conviviam dia após dia, com o inferno em suas mentes.

Como Alexis, ela nunca esquecerá o que passou com o padrasto. E neste caso, não era só a violação sexual, a moral, a psicológica, era a verdadeira merda. E de violação psicologica, eu entendia.

DicotomiaOnde histórias criam vida. Descubra agora