Capítulo 18.

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A água da pequena banheira já começava a ficar fria demais, e eu já estava imerso dentro dela à tempo suficiente para ouvir a voz do meu pai batendo a porta para que eu saísse.

Me afundei no objeto arredondado logo que cheguei da casa de Salazar, minha mente estava ligeiramente caótica, depois de tudo o que sua mãe havia me falado.
Uma pessoa que não consegue mentir, então, esse era o motivo daquele garoto ser tão alheio as pessoas a sua volta. Ao contrário do que parecia, aquilo era uma questão de proteção para ele, e não de preferência.

Imaginar o quanto aquilo devia ser difícil para o garoto, estava fazendo minha cabeça pesar. Imaginar o quanto ele se privou de tudo para não ser excluído e humilhado me parecia triste e bastante injusto.

Cada pequena coisa que eu descobria, cada pequeno lado novo dele que me era mostrado, só me fazia gostar dele ainda mais. Saber que ele era ainda mais diferente dos outros, só o tornava ainda mais especial e único para mim.

Como eu podia ama-lo tanto? Como eu podia pensar e sorrir a cada vez que ele falava comigo, quando me olhava e sorria para mim? Eu nunca achei possível gostar de alguém assim, com toda essa força. Nunca parecia suficiente o tempo em que eu passava perto dele, eu queria sempre mais.

Imaginar que eu tinha chance de ser correspondido já era uma história diferente, e muito longe de acreditar que poderia acontecer, contudo, isso não me fazia deseja-lo menos. Como eu poderia?

Refletindo e analisando tudo dessa nova óptica, eu não poderia dizer se ele realmente não tinha interesse amoroso em ninguém, ou se apenas ignorava as investidas por conta de sua personalidade diferente. Não havia forma de ter certeza sobre isso. Talvez ele quisesse sair e namorar com as belas garotas que sempre o convidavam, talvez ele as desejasse em segredo. Afinal, ele provavelmente tinha desejos e tesão por algo. Ele é um adolescente!

Isso trouxe ainda mais perguntas, das quais eu não tinha respostas, e mais minha mente vagava em diversos questionamentos.

Salazar se masturbava?

O que o excitava?

Eu queria afastar esses pensamentos, não queria imaginar novamente o garoto de lindo sorriso, arfando e gemendo enquanto se tocava.

Obviamente eu não consegui.

A cada piscar de olhos lá estava estampada na minha cabeça a cena do garoto nu, com o membro na mão, friccionando e estimulando o cumprimento, que claro, na minha imaginação era longo, com veias contornando a grossura moderada.

O imaginava mordendo os lábios vermelhos e grossos, os olhos fechados. Era uma cena linda, e extremamente excitante. Quente o suficiente para eu me tocar, alisando com urgência meu próprio pau, estimulando com desejo minhas bolas, até que ao vê-lo gozar em meu devaneio, eu também chegava ao um orgasmo que não parecia suficiente para mim.

Ao ouvir novamente meu pai me chamar a porta, me levantei, limpando a banheira. Me afundei no meu quarto, em minha querida cama, depois de vestir só uma bermuda de algodão. Fixei meus olhos no teto, observando a pouca claridade da rua entrar pela minha janela entre aberta.

Claro, eu continuava pensando no garoto.

Indaguei comigo mesmo se eu lhe perguntasse sobre sexo, o que ele diria? Como reagiria? Ficaria ofendido? Envergonhado? De certo me falaria a verdade. Mas que tipo de verdade seria?

Eu deveria conversar com ele sobre algo tão íntimo? Mas isso era algo comum entre garotos. Talvez ele não ficasse bravo. Resolvi que esperaria a hora certa para abordar esse tema, mas que o faria, pois imaginar suas respostas sinceras sobre isso era algo que me interessava completamente.

Ah... se Quentin Salazar soubesse o quanto de tempo e pensamento sua existência me consumia...

Se ele soubesse que tinha meu pobre coração em suas mãos...

O que ele sentiria? Como me olharia?

Eram tantas perguntas, que me traziam a memória um poema que havia lido há muito tempo na biblioteca do Gordon. Eu me lembro de achar aquele livro de poesias por acaso, mas que em um de seus poemas havia um trecho em que eu via meus sentimentos descritos com uma impressionante perfeição.

" Você é o motivo dos meus banhos demorados, e minha cabeça bagunçada."

O livro consistia em uma compilação de poemas, de autoria de um escritor italiano chamado Tommaso Martinelli, e as doces e profundas palavras definiam o amor e o desejo por alguém com uma excelência hipinotica.

Li e reli aquele pequeno livro inúmeras vezes,  e a cada nova leitura, eu pensava nos meus sentimentos por Salazar.

Eu pensava o quanto eu amava aquele garoto.

E assim, o sono se arrastou por mim, e antes que eu chegasse a adormecer completamente, o rosto do garoto foi a última coisa que pensei, pedindo ao cosmos que meus sonhos fossem povoados por ele.

Nota:

O poema citado neste capítulo encontra-se na maravilhosa obra Os espertos não sabem amar, que é continuação de outra obra entitulada: Os dois lados da moeda. A autora destas perfeições é a incrível outsidermermaid, e os convido a conhecer e apreciar essas duas histórias lindas e maravilhosamente bem escritas.

I Hate Apple! ( Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora