O cosmos parece agraciar você em um momento, e no seguinte te dar um belíssimo tapa na cara!E eu levei um dos mais fortes e brutais.
O passeio chegou ao fim sem maiores acontecimentos ou surpresas. Logo nos amontoavamos nos ônibus para retornar para nosso cotidiano adolescente.
Todavia, um fato no mínimo estranho ocorreu nessa volta ao lar, e mal sabia eu, em minha ignorância sobre os porquês da vida, que me veria tão perdido.O primeiro vislumbre da minha derrocada, se deu em uma atitude bastante banal, mas que tinha muita significância.
Sentei me no último banco do automóvel, guardando o lugar ao lado para que no retorno para casa Salazar pudesse ficar ao meu lado. Ele foi quase o último a entrar no ônibus, pois levou muito tempo separando o lixo, em papel, plástico, vidro ou orgânico nos latões de recicláveis do parque.Por fim ele entrou, a para a minha nada grata surpresa, sentou no primeiro lugar livre, ignorando meus acenos no fundo do automóvel.
Fiquei imóvel, sem entender o motivo da sua atitude, e claro, fiquei a viagem inteira imaginando as possíveis razões para isso.
Eu não fazia idéia, mas aquela, foi só a ponta de um iceberg de acontecimentos, muito maior do que o que afundou o Titanic.
Chegamos a cidade ainda no meio da tarde, e por mensagens Mina avisava que teria pizza em sua casa, convidando nós três para fazer companhia a ela.
Ao descermos em frente ao colégio, onde alguns pais esperavam por seus respectivos filhos, antes mesmo que eu me aproximasse de Salazar, pude ver que sua mãe estava entre esses progenitores.Eu, Mina e Isaac o vimos ignorar nossos gritos, e rapidamente entrar no carro vermelho de Sra. Salazar, sumindo pela rua em seguida.
- O que houve com ele?_ Isaac me questionou.
- Não faço idéia._ disse em verdade, pois eu me fazia a mesma pergunta.
Ao chegar em minha choupana, encontrei brevemente meus pais na cozinha, ambos fazendo um bolo que parecia complicadíssimo, assistindo um tutorial na internet. Beijei minha mãe, dei um meio abraço em meu pai, e sem mais, subi para o meu quarto.
Tranquei a porta, sacando o celular do bolso. Procurei o contato de Salazar e fiz a ligação, do outro lado o telefone chamou até cair na caixa de mensagens.
Tentei novamente, e tive o mesmo resultado.
Mandei mensagem, uma, duas, três vezes.Nada.
Nenhuma resposta.Buscava em todos os dias do passeio qualquer atitude ou fala que pudesse o ter irritado ou magoado, mas nada vinha a minha mente.
Ao retornamos do lago aquela noite, nós estavamos felizes, ele um pouco calado, mas sorrindo. Dormimos logo que chegamos na barraca, acordamos cedo e nada relevante ocorreu.Por que ele agiu daquela forma na volta?
A cada minuto eu olhava o telefone, e ele nem mesmo havia visualizado minhas mensagens.
Tomei um banho e me tranquei no quarto, sem nem descer para comer, o que chamou a atenção dos meus pais, visto que eu não pulava refeições. Afirmei a minha mãe que estava apenas cansado e queria dormir, mas sono foi o que menos tive naquela noite.
Eu pensava e pensava chegando a lugar algum, revisitando todo o tempo que passamos juntos eu não via nenhum indício do que podia ter acontecido.
Eu estava literalmente no escuro.
E esse mesmo breu me seguiu não só naquela madrugada, como também nas semanas que vieram.
Ele faltou por vários dias ao colégio, não foi nem ao menos trabalhar naquela semana. Continuando a ignorar minhas ligações e mensagens.
Eu me preocupava que algo sério pudesse ter acontecido, e não demorei a procura-lo em sua casa. O que foi uma péssima idéia.Passei três dias indo a sua residência sem nenhum sucesso, chamava muitas vezes ao portão e mesmo vendo as luzes acesas, ninguém me atendia.
Na quarta tentativa, quando estava prestes a desistir Sra. Salazar abriu o pórtico de acesso ao terreno, me olhando séria, dura.
Me analisou da cabeça aos pés, me fuzilando com os olhos.- O que você quer?_ falou.
Pigarrei nervoso, mesmo que eu não soubesse o porquê.
- Eu...eu quero falar com o Salazar._ respondi a encarando.
- Ele não quer falar com você, vá embora.
Sua voz era ríspida, grosseira, mas além disso havia algo a mais, um sentimento que eu não sabia exatamente explicar.
- Ele não quer falar comigo? Por quê?_ questionei.
A bela mulher à minha frente, cruzou os braços sobre o peito, assumindo uma postura ainda mais intimidadora, me fitando com os olhos castanhos semi serrados antes de começar a fazer sua explanação.
- Eu sabia que isso iria acontecer, eu confesso que quase cheguei a me iludir, ao ver meu filho mais feliz, mais falante em casa e saindo para aproveita a sua juventude. Achei por pouco tempo que essa boa mudança poderia ser obra sua e de seus amigos. Mas algo me avisava pra não abaixar a guarda, no fundo algo me dizia.
Sem entender, falei em seguida.
- O que houve? Porque está dizendo tudo isso? Salazar estava feliz sim! Ele estava!
- Feliz? Quentin me pediu para busca-lo por mensagem, o peguei sem fazer nenhuma pergunta, pois eu sei que ele odeia ser questionado quando não pode mentir sobre o que pensa e sente. Por isso eu nada disse. Ele estava aéreo e mais calado que o normal durante o trajeto e eu sabia que algo tinha acontecido. Quando passamos por este portão, meu filho, meu amado filho, começou a chorar! Ele chorava tanto, tão sentido. Ele correu para o quarto, e me pediu entre lágrimas que eu não perguntasse.
Eu fiquei mudo, eu não pensava em nada para dizer. Salazar havia chorado? Por quê? Nós tivemos um passeio maravilhoso, a noite no lago fora mágica, incrível. Teria sido o abraço? Ele não gostou? Mas foi ele quem pediu, e não houve nenhuma malícia no ato, eu o abracei com carinho e respeito às suas palavras, nada além disso.
- Você sabe o que é ouvir seu filho chorar durante uma noite inteira? Ver seu filho faltar as aulas e ao trabalho porque não quer encarar o mundo? Eu espero que tenha valido a pena pra você._ Marie Falou.
- Mas eu não fiz nada! Eu juro! Eu nunca faria nada para magoa-lo, nunca!_ falei alto, sentindo meu rosto queimar, de raiva, de vergonha.
A mulher bufou, voltando a falar:
- Você fez algo sim! Eu posso não saber o quê, mas eu sei que fez. Ele não quer te ver, nem falar com você. Suma da vida dele!
Não argumentei, sabia que não devia, não com uma mãe embebida em raiva e proteção. Sai caminhando pesado, sem rumo e tentando mesmo que inutilmente não chorar.
Eu odeio chorar, mas naquele dia eu não consegui segurar nenhuma lágrima. Como poderia?
Salazar estava triste e chorou por minha causa, por algo que eu fiz, mesmo que eu não fizesse idéia do motivo. Isso doía, doía muito.
Mina me procurou para saber o que aconteceu, mas eu não sabia explicar, eu não sabia o que tinha feito. Isaac vinha com a mesma frequência em minha casa, embora eu não tivesse paciência e nem ânimo para lhe dar atenção. Eu sabia que ele ficaria ali, ao meu lado, mesmo que não pudesse fazer nada por mim.
Uma semana se passou, e logo outra se iniciou, e eu cheio de uma culpa imensa e incerta, me prontifiquei a me desculpar com ele por qualquer coisa que o tivesse machucado.
Entretanto, se tornou uma verdadeira luta se aproximar de Salazar. Se antes ele era alheio mas presente, agora ele me evitava descaradamente. A menor presença da minha pessoa no mesmo lugar que ele estava, era o suficiente para fazer o garoto fugir.Parecia uma corrida de gato e rato, em que eu era o gato malvado e insensível, e ele era o rato mais lindo e assustado do mundo.
Aquilo estava me deixando louco!
Até que eu bolei um plano, enchi me de uma coragem sobre humana e disse que nem mais um dia eu passaria sem me desculpar com o garoto que amava.
Se fui eu o responsável a fazê-lo chorar, cabia somente a mim trazer seu belo sorriso de volta.
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I Hate Apple! ( Romance Gay)
عاطفيةNão, eu não sou um adolescente que sofre bullying, eu não me acho feio, nem deslocado. Mas... bem, eu sou um gay dentro de um closet, porque armário é muito anos 90. Esse é meu relato sórdido e peculiar de como eu me apaixonei pelo ser humano mais...