Capítulo 7.

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*Acima a música do capítulo.

Pedalei devagar até a casa de Isaac, e no caminho até o colégio, o coloquei a par do meu incrível e suicida plano.

Pense, visualize a imagem de um garoto magricelo, de óculos fundo de garrafa e com uma caixa craniana desproporcional ao seu corpo, rindo histericamente em uma vizinhança vazia. Imaginou? Bem, essa bonita e tocante imagem foi a reação do meu amigo. E digo, não foi uma cena agradável de se ver.

Isaac riu como se tivesse escutado a melhor piada do universo, e, bom, talvez parecesse mesmo uma anedota. Afinal, nem eu mesmo acreditava que estava cogitando colocar esse plano em prática.

Quando meu amigo parou de gargalhar, voltando a sua expressão comum de guaxinim entedediado, freou sua bicicleta, me olhando sério.

- Cara, fica tranquilo, quando ele partir seu coraçãozinho, eu junto os cacos pra você. Saca?_ ele falou.

- Valeu cara._ respondi, agradecido por ter meu amigo ao meu lado nessa nova e desafiadora empreitada.

Logo, alguns quarteirões depois, já prendiamos nossas bikes no bicicletário. Seguindo pelos jardins repletos de pequenas árvores podadas em diferentes e estranhos formatos.

Meus olhos varriam todas as direções, analisando rapidamente cada estudante, a procura do meu amado alvo.

Não o vi na entrada, e tão logo o sinal tocou, fazendo todos seguirem para as suas respectivas aulas. Biologia, gramática e física foram as primeiras disciplinas antes do horário do almoço.

No rio de jovens que andavam pelos corredores, rumo ao refeitório, nenhum sinal de Salazar, cheguei a me questionar se ele poderia não ter ido ao colégio naquele dia.

Mas não, logo que me sentei junto a Isaac em uma das mesas retangulares próxima a máquina automática de salgadinhos e refrigerantes, lá estava ele.

Mais de cem metros nos separavam, mas apenas vê-lo, foi o suficiente para meu coração disparar. Você conhece a sensação, não é?

Salazar estava sentado sozinho, mas próximo a ele alguns garotos e garotas comiam e conversavam animados, vez ou outra o puxando para o papo. Eu podia ver seus lábios se movendo em resposta a turminha que queria sua atenção. Mas ele falava muito pouco, como se o assunto não o interessasse.

Eu já tinha o observado comendo no refeitório centenas de vezes, e sabia por exemplo que ele gostava de suco de uva, salgadinhos de cheddar e do sanduíche de rosbife que era vendido na cantina. Quase sempre eram essas as coisas que ele estava comendo.

Também sabia que ele interagia, mesmo que pobremente, com alguns alunos nessas ocasiões, quase sempre eram os mesmos alunos, que eu sabia que eram do último ano, assim como ele. Porém ele sempre parecia entendiado e desligado do que era falado e feito por esses colegas. E assim que acabava sua refeição, colocava seus fones e deixava o recinto para algum lugar que eu desconhecia.

Eu havia pensado em falar com ele no refeitório, mas abandonei essa idéia, o lugar era cheio demais, e eu chamaria muito a atenção de todos se me aproximasse dele ali. Resolvi então, que seria melhor descobrir para onde ele ia após comer, e não havendo tanta platéia, eu poderia enfim, dizer algo a ele.

Quando ele se levantou, jogando as embalagens do que consumiu na lixeira, colocou os fones e caminhou em direção a porta dupla de saída. Sinalizei a Isaac que estava indo, e meu amigo meu deu um joinha em apoio.

Caminhei devagar, mantendo uma distância relativamente grande dele, fingindo mexer no celular, para não chamar a atenção de alguns alunos que passavam por nós. Ele seguiu pelos corredores, passou próximo as escadas, e saiu pela porta lateral da escola, que dava acesso as quadras de esportes e ao campo de futebol.

Ali já não havia quase ninguém, e eu tive que diminuir ainda mais meu passo. Me esgueirei por algumas árvores, algumas paredes, me sentindo o próprio stalker.

Sentia o suor escorrer pela minha nuca, meus lábios estavam secos e minha respiração acelerada.

No minuto seguinte ele subiu alguns degraus da arquibancada, sentando se na mesma. O campo a sua frente vazio e silencioso. Eu, escondido na saída do vestiário, podia vê-lo perfeitamente. Braços cruzados, recostado no degrau superior, fones no ouvido.

Eu não sabia exatamente o que ia falar, embora, confesso, tenha ensaiado ridiculamente diversas frases em frente ao espelho do meu quarto. Contudo, naquele momento minha mente estava inquieta, com várias possibilidades do que eu podia falar, ao mesmo tempo que não chegava a uma decisão específica sobre qual.

Eu estava entrando em tela azul.

Antes que Kevin.Yant.exe parasse de funcionar, sai do meu estado de inércia. Andei os poucos metros que faltavam para entrar no campo, meu caminhar era pesado, lento. Como se algum neurônio meu tivesse um pingo de compaixão do seu dono, tive a idéia de por o celular no ouvido, e como se estivesse em uma ligação, caminhei próximo a arquibancada, fingindo estar entretido demais para perceber a presença de alguém.

Com o canto dos olhos matinha Salazar a vista, para não me afastar muito, e notei que ele nem sequer me olhava.

Naquele momento a coragem que carregava e que não era muita, ameaçou se esvair, e reunindo os restos da mesma, eu finalizei a ligação falsa, me virando para encara lo, fingindo supresa por encontar alguém alí. 

O olhei, e deixei sair pelos meus lábios a primeira coisa que meu cérebro elaborou. E em um instante já falava, alto e levemente trêmulo:

- Esperando algum jogo?

- Esperando algum jogo?

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I Hate Apple! ( Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora