Pense em uma mulher incrivelmente linda. Que faria qualquer homem velho ou novo, cair aos seus pés.
Essa era a mãe de Salazar.
Quando aquela jovem mulher entrou no quarto de Salazar, foi como se o sol entrasse junto dela, tamanho era o brilho da sua presença.
O garoto era uma cópia exata da mãe, os mesmos olhos, cabelos castanhos e sorriso gracioso.Marie Salazar chegou do trabalho logo que a noite caiu, e mesmo assim, se preocupou em fazer um lanche com vários petiscos para mim e seu filho.
Conversamos os três durante algum tempo, e depois de perceber que já haviam se passado algumas horas, e tendo recebido algumas mensagens irritadas de minha mãe, decidi que era hora de ir embora.
Senhora Salazar, muito gentilmente me ofereceu uma carona, e mesmo eu tendo negado a princípio, depois de certa insistência de mãe e filho, acabei por aceitar.Me despedi de Salazar, me certificando de fazer algo que devia ter feito antes, mas por vergonha e medo, me segurei ao máximo para fazer. Pedir seu número de telefone. O que para a minha satisfação imensa ele deu, sem nenhuma pergunta.
No caminho até minha casa, eu e Senhora Salazar, fizemos uma viagem típica entre um jovem e uma mãe, com inúmeras perguntas feitas por ela a minha pessoa. Coisas triviais como: se eu tinha irmãos, o que meus pais faziam, e se eu gostava do colégio.
Perguntas de mãe.
Todavia, quando o pequeno carro vermelho estacionou, e eu já me preparava para agradecê-la, Marie pigarreou, me lançando uma nova pergunta, porém dessa vez, muito mais perigosa.
- Você gosta do meu filho?
- O que quer dizer?_ falei, disfarçando a surpresa da questão.
- Deixe me ser bem clara. Quentin não tem amigos, nunca teve, e de repente, surge você, o convidando para sair, vindo a nossa casa. O que você pretende com essa aproximação?_ Marie falou, franzindo as sombrancelhas.
Ok, eu sabia que Salazar não era cercado de amigos, nem o cara popular do Gordon, muito embora, eu tivesse certeza que se ele quisesse poderia ter e ser ambos. Mas isso não fazia sua pergunta ter algum sentido para mim. Por isso, me apressei a perguntar:
- Sempre quis ser amigo dele, por isso me aproximei. Por que está me fazendo esse tipo de pergunta?
Ela pareceu pensar por um tempo, olhando a rua vazia e escura à sua frente. Em seguida, mirou seus olhos para mim, mostrando um olhar pesaroso e preocupado.
- Quentin não é como os outros garotos. Você já percebeu, não é?_ Marie disse.
A olhei firme, e a respondi convicto:
- Sim, eu sei. Ele é calado e distraído, mas não vejo nenhum problema nisso. É só o jeito dele.
- Não é apenas isso. Quentin só diz a verdade, ele é incapaz de mentir._ Senhora Salazar falou.
Balencei a cabeça sem entender, pois para mim, isso era uma coisa boa.
- E o que há de mal em ser sincero? Isso não faz dele uma pessoa melhor para se ter como amigo?
Ela sorriu, mas não havia qualquer humor no suspender de lábios.
- Em teoria sim, mas na vida real, não. Você não consegue entender a situação. Na vida real é preciso saber a hora e o lugar para ser franco, mas meu filho não tem essa habilidade. Ele só fala a verdade sempre. Não importa o momento ou a pessoa.
Antes que eu pudesse indagar qualquer outra coisa, Marie continuou sua explanação:
- Viemos para esta cidade para fugir de tudo o que ele passou, para recomeçar. Quantin sofreu tanto, ele não entendia porque as pessoas o olhavam feio quando ele começava uma conversa, ele não entendia porque as crianças da escola riam quando falavam com ele. Aos poucos ele se tornou o esquisito do colégio, do prédio, ele era o garoto estranho, que só falava besteira.
- Mas porquê? Só por falar a verdade?_ questionei, sentindo que ser honesto era algo para se orgulhar, e não algo passivo de desdém.
- Kevin, não mentir é uma atitude considerada bizarra na vida em sociedade, é preciso entender que a mentira social é algo necessário para viver entre outras pessoas. Você não pode falar tudo o que pensa e sente. E é exatamente isso o que Quentin faz.
- Eu não entendo..._ disse em um sussurro.
- Ele enfrentou muitos problemas por conta disso. Foi, e é difícil para ele. Mas enquanto crescia, foi entendendo que quanto menos se expusesse, mais faria parte do mundo. Logo ele se interessou por animais, que lhe davam amor sem julga-lo, sem pedir nada além de amor, e agora até mesmo um pequeno trabalho ele tem, tudo isso graças a sua evolução em se manter discreto.
- Mas isso o fez se isolar, não é o certo._ respondi.
- Não é certo, mas assim é melhor. É melhor que ele seja apenas o garoto calado do que o aluno piada. Eu não quero ver meu filho sendo o saco de risadas dos outros. Agora ele estabeleceu um limite, uma linha de até onde ir em interações, um limite seguro. Mas surgiu você, que mesmo nas respostas vazias que ele dava, continuou empurrando essa linha. Eu quero saber porquê.
- Porque eu não me importo, eu quero estar com ele, conversar com ele, não importa se ele só fala a verdade sempre. Isso só faz ele mais especial._ disse de forma firme.
Marie destravou a porta do carro, acenando com cabeça para que eu descesse. O que imediatamente fiz.
Assim que coloquei meus pés no asfalto, me senti na obrigação de lhe dizer algo, o que fiz, a encarando sério.
- Salazar é importante para mim, eu não vou me afastar.
A bela mulher sorriu novamente, aquele lindo sorriso tal qual o filho tinha.
- E eu estarei de olho em você._ disse ela. Logo partindo com veículo rubro.
Era estranho e parecia um conto ficcional, imaginar que pudesse existir alguém incapaz de contar uma única mentira. Além disso, era perigoso e assustador, pois se ele falava sempre o que pensava e sentia, isso significava que qualquer que fosse o assunto que eu abordasse com ele, não receberia respostas falsas ou meias verdades.
Isso era o pior e melhor cenário possível.
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I Hate Apple! ( Romance Gay)
RomansaNão, eu não sou um adolescente que sofre bullying, eu não me acho feio, nem deslocado. Mas... bem, eu sou um gay dentro de um closet, porque armário é muito anos 90. Esse é meu relato sórdido e peculiar de como eu me apaixonei pelo ser humano mais...