Vigésimo Nono.

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ISABELLE

Eu odiava aeroportos. Não só porque havia o estresse de passar na alfândega - e eu sempre tinha a sensação que os oficiais me parariam e diriam que meu passaporte estava vencido ou alguma coisa do gênero e eu acabaria deportada para o Brasil em um avião de carga junto com animais. É, eu sabia que a coisa não funcionaria assim graças a meu Green Card. Mas nunca se sabe.

O ponto é, que eu realmente odiava aeroporto porque eles eram lotados de pessoas nas mais diversas situações. Principalmente em Nova Iorque.

Haviam pessoas como Charles era, que estavam vestidas formalmente e carregavam somente uma pequena mala – para dois dias no máximo – enquanto iam viajar a trabalho. Haviam pessoas olhando ao redor perdidas, sem saber exatamente para onde deveriam estar indo ou se queriam estar indo. Haviam as famílias, algumas barulhentas e outras silenciosas, viajando juntas – e estas geralmente me traziam saudade de quando meus pais viajavam comigo e minha irmã. Haviam os casais.

Ah, os casais. Esses eram os piores para mim.

Você sempre encontra um casal que está se separando. A cena pode até ser bonita, mas eu sempre me senti culpada vendo um momento tão triste e pessoal deles sendo exposto para qualquer um. As vezes você encontra o casal que está se revendo. Ai é tudo mais bonito e deprimente também, quando você está solteira.

Que é o meu caso.

Mas não é que eu esteja deprimida por estar solteira. Quer dizer. Obviamente eu adoraria poder levar uma pessoa como Charles para conhecer minha família e fazê-lo bombardear a todos com seu charme inglês. E como nós não estávamos mais juntos, tudo que eu podia trazer era meu amigo gay que insistia em estudar português, minha melhor amiga barulhenta e o Ty – que não entendia absolutamente nada.

— O que significa "é nóis na fita"? — Mike me perguntou, seu português puxadíssimo, quase inteligível.

Estávamos todos sentados no portão de nosso embarque, esperando nosso voo ser chamado dentro de uma hora.

— Não faço ideia. As pessoas só falam isso. — Respondi abrindo o livro que eu havia comprado no free shop e tentando começar a lê-lo.

Amanda e Tyler havia sumido, indo procurar comida para dividir entre todos já que a comida do avião geralmente é deplorável.

— E "tire o cava-"... Pera, que palavra é essa, Belle?

— Cavalinho. — Falei lendo para o que ele apontava em seu dicionário português-inglês que continha ditados e frases usuais brasileiras.

— Tire o cavalinho da c-ch-chuva? — Mike tentou, franzindo a testa como se as palavras fossem absurdas.

— É o que você diz para uma pessoa quando quer que ela perca as esperanças em alguma coisa.

— Porque você diria para alguém tirar o cavalo da chuva? Não é mais fácil você dizer "não vai dar certo, esquece isso"?

— Mike. — Suspirei sem ter cabeça para pensar nessas coisas. Eu estava ansiosa demais em encontrar minha família. — Eu não faço ideia. Os brasileiros são doidos. Se você souber pedir comida e direção em português, já está bom demais.

Mike deu ombros, mas ficou em silêncio grande parte do tempo depois disso, lendo atentamente seu dicionário. Quando Amanda e Tyler voltaram, segurando sacolas de free shop com salgadinhos e lanches naturais, ele parou de prestar atenção no que lia e começou a conversar com eles.

Alguns minutos depois Amanda me cutucou com o cotovelo, apontando para a tela de embarque que dizia que nosso avião estava sendo preparado para que as pessoas entrassem. Assenti e nós esperamos mais quinze minutos até as pessoas começaram a ser chamadas. E nada mais do que meia hora depois, estávamos entrando no avião.

BFFF - Best Fucking Friends ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora