Prólogo

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As paredes mofadas sempre serviam de inspiração, como as nuvens no céu onde se podia enxergar animais e casquinhas de sorvete. 

Taehyung via naquelas paredes galáxias inteiras e tentava colocar isso nas folhas do pequeno caderno com o lápis cinza que tinha ganhado de uma das freiras.

Para Namjoon, nada ou ninguém no mundo era mais etéreo que Taehyung quando estava completamente mergulhado em seu próprio mundo usando sua mente para transformar a desgraça em arte. Cresceram juntos dentro das paredes escuras do orfanato, ambos sem saber do passado e com medo do futuro. Tinham um ao outro e só, nada mais tinham e nada mais queriam.

— Eu ouvi uma conversa da madre essa manhã — a voz em transição de Taehyung fez Namjoon sorrir e se sentar ao seu lado no chão de madeira estufada. — Acho que era sobre você.

— Sobre mim? — franziu o cenho já pensando se tinha quebrado alguma regra. — Será que ainda é sobre o vaso de cravos? Já disse que foi acidente! — Taehyung riu colocando o caderno de lado e deitando a cabeça no colo do mais velho logo recebendo um carinho nos cabelos longos.

— Era sobre uma família.

— Família? Será que aquele casal que veio aqui semana passada vai adotar alguém? — Por ser um lugar com crianças mais velhas não era comum haver adoções no St. Peter, por isso sempre que acontecia era um evento e todos ficavam muito felizes.

— Você, hyung. Eles querem adotar você — Taehyung disse de olhos fechados.

Desde que ouviu aquilo sentia uma dor quase física pela possibilidade de ficar sem o melhor amigo, e pela culpa que sentia. Se sentia egoísta, afinal como podia não ficar feliz por ele?

— Deixa de bobagem ninguém quer adotar um garoto de 14 anos, eles só foram legais comigo. Devem adotar Jungkook que é o mais novo — respondeu simples dando o assunto por encerrado. Tinha perdido qualquer esperança de ser adotado e já estava bem com isso.

— Eu ouvi, hyung — Taehyung falou se deitando de barriga para cima, os olhos grandes procurando por respostas no rosto do outro. — Eles vêm aqui amanhã pra começar o processo de adaptação.

— Tae, você tá falando sério? — Namjoon arregalou os olhos quando Taehyung anuiu voltando a se virar na direção da parede. — Eu... Eu não v-

— Vai sim, você vai por mim — Taehyung falou sem olhar para ele. Não conseguiria se o fizesse. — Quero que você tenha uma família, hyung.

—Você é a minha família. — Namjoon não podia suportar a ideia de perder o melhor amigo.

— Eles são policiais, você não sonha em ser detetive? Vai ser divertido lá, eles disseram ser de Ilsan, não é? Eu posso te visitar nas férias, você me mostra as paisagens. — Sorriu mínimo enquanto ainda recebia um carinho lento no couro cabeludo.

Ambos sabiam que aquilo era mentira.

As semanas passaram depressa. O casal Kim era muito simpático e tinham uma boa conexão com Namjoon. Logo estava tudo acertado, papéis assinados e malas prontas.

Era a última noite de Namjoon no orfanato.

Taehyung e ele fizeram o de sempre como se nada estivesse para mudar. Passaram o dia juntos conversando sobre seus planos de dominação mundial, qual doce era o mais gostoso e rindo sobre o sotaque engraçado das freiras norte-americanas. Durante o dia esqueceram várias vezes que era o último, mas ali sentados no terraço vendo as constelações não tinha como ignorar o óbvio.

— Eu quero te dar duas coisas — Taehyung falou depois de um tempo em silêncio. — A primeira é isso. — Tirou um embrulho pequeno de dentro do casaco do uniforme e Namjoon pegou confuso.

Amor Fati | VmonOnde histórias criam vida. Descubra agora