V | gummy bears

594 81 95
                                    

🦉

Não foi fácil no início, mas pensou que fosse apenas uma questão de tempo até que finalmente fossem uma família feliz.

Quando Jungkook foi adotado pelos Jeon, uma família de Busan, ele não pôde deixar de pensar que era sua chance de ser um garoto como os outros, um menino normal. Se lembrava de como Taehyung sorriu triste quando ele foi embora, mas ainda assim se sentia tão bem. Teria um sobrenome só dele, seria alguém.

Tinha poucas lembranças dos pais biológicos. Uma surra que lhe rendeu cicatrizes pálidas e incômodas era a coisa mais sólida que tinha daquela relação, mas mentiria se dissesse que não sonhava todas as noites em ser chamado de filho por alguém. Mesmo agora, depois de tantos anos e tantos sonhos falídos, se parasse pensar se lembraria com clareza de como Taehyung fez de tudo para que ele se sentisse amado quando não tinham nada além de um ao outro.

Por isso, quando a relação com os pais adotivos se mostrou cada vez mais insustentável, ele voltou para Daegu com um sobrenome na identidade e mais algumas cicatrizes. Quando retornou, Taehyung estava um pouco mais quebrado, os olhos cada vez mais vazios, mas mantinha o mesmo sorriso no rosto, a mesma mão sempre estendida pronta para levantá—lo não importava quão fundo estivesse. Sabia que tinha alguma culpa por ter deixado ele ali sem pensar duas vezes, mas não é como se ele fosse deixa—lo ficar.

— O que você tanto pensa encarando essa tigela? — Jimin perguntou se sentando de frente ao mais novo que comia um lámen agora já completamente gelado. — Não acordou ainda? — O mais velho viu Jungkook tirar alguma coisa do bolso e jogar sobre a mesa.

— Dahli, Índia — disse encarando Jimin que agora tinha um olhar sério. — Passagem só de ida.

— Hoseok? — O outro concordou e eles ficaram em silêncio.

— Eu sei que foi o Tae que pediu, mas eu não posso simplesmente ir embora de novo hyung — tentou buscar pelos olhos do amigo, mas ele estava ocupado demais desviado o olhar para a passagem em suas mãos, sem conseguir encara—lo. — Não posso fazer isso com ele outra vez, não depois de tudo que ele fez por mim a vida toda.

— Eles estão no seu rastro JK, você já tem passagem e antecedente — suspirou antes de continuar — eles não vão demorar a bater na nossa porta, eu não falo por mim ou pelo Tae porque a gente consegue dar conta, somos três fodidos — riu sem humor passando as mãos pelos cabelos de forma nervosa — , mas as meninas ainda podem ser algo além daqui, entende? Elas ainda podem sair disso sem se sujar.

—Hyung, ele está desabando, bem diante dos meus olhos e eu não posso deixar isso acontecer. Não posso virar as costas e ir pra — pegou a passagem para ler o nome desconhecido mais uma vez — , Dahli, como se nada estivesse acontecendo.

— Ele não vai descansar enquanto a West Village não se resumir a uma memória, JK, ele não vai perdoar — Jimin suspirou vendo o mais novo abaixar a cabeça. — Eu não sei se conseguiria fazer isso se me pedissem, então como posso cobrar isso dele? Eu não quero ver ele desabar, só o pensamento me causa desespero, mas nós dois sabemos que ele vai desabar se souber que isso vai destruir eles também.

— Essa vingança só tem feito ele de vítima, não faz sentido, hyung.

— Olá, Tico. Boa tarde, Teco — Dahyun entrou na cozinha e se sentou ao lado de Jungkook tomando a tigela de macarrão para si sem notar o clima pesado entre os dois mais velhos. — Tão bonzinho, fez meu almoço — falou colocando um pouco na boca na boca antes de seu rosto se contorcer em uma careta ao notar a temperatura, mas apenas deu de ombros, continuando a comer.

— Sorte sua que não sou de agredir animaizinhos — Jungkook esnobou se levantando e mostrando a língua para a mais nova que ria com as bochechas cheias de comida. — Tem que trabalhar hoje?

Amor Fati | VmonOnde histórias criam vida. Descubra agora