Amor Fati | Vmon

VI | new scars

🦉

Taehyung fechou os olhos ao passar os braços pela cintura de Namjoon encostando o rosto nas costas dele. Aspirou o cheiro gostoso de amaciante que se misturava ao perfume amadeirado que o detetive usava, um calor que acalmava e agitava cada célula de seu corpo em completa contradição. Uma brisa fria insistia em bater contra os dois enquanto o mais velho pedalava sem pressa pelas ruas já desertas da cidade. Taehyung tremia um pouco e abraçava forte o corpo maior em busca de conforto.

O cheiro do Kim mais velho não tinha traço algum do que foi quando eram crianças. Taehyung se lembrava bem como os cabelos dele cheiravam a sabão e as camisetas puídas do uniforme tinham um cheiro, quase misterioso, de maçã. Ninguém sabia dizer porque suas roupas cheiravam a fruta, mas Taehyung dizia que o mais velho cheirava ao outono porque tinha nascido nele assim como ele mesmo cheirava ao vento frio e ferroso do inverno. Agora Namjoon tinha cheiro de estrela de cinema, pensou consigo mesmo de olhos fechados sentindo o corpo maior se mover contra seu rosto devido ao esforço das pedaladas.

A cidade já dormia, era tarde o suficiente para que tudo estivesse fechado e agora o único barulho naquelas ruas normalmente agitadas era o farfalhar da sacola de doces que era carregada no guidão e das rodas da bicicleta deslizando pelo asfalto. O silêncio era confortável, a forma como notaram poder estar um com o outro sem dizer nada e ainda assim ser tão... Bom. Como se palavras e diálogos fossem só alegorias para aquele momento de êxtase que era estar em silêncio.

Por um momento, Taehyung pensou em um cenário pós apocalíptico como o dos filmes e que por um milagre ele e Namjoon tinham sido os únicos a sobreviver. Só os dois e um mundo inteiro de silêncio para deixar que suas vozes ecoassem. Os dois e mais nada, imensidão vazia para que explorassem a vida, se explorassem.

Já Namjoon tentava sem sucesso conter um sorriso satisfeito em seu rosto, porque ter Taehyung abraçado a ele enquanto andava de bicicleta em uma noite tão linda parecia um de seus tantos sonhos. O céu estava nublado e por isso não podiam ver as estrelas. Aquilo costumava ser a coisa preferida dos dois. Subir ao telhado e olhar as estrelas. Namjoon inventava constelações e sempre caía na risada quando os olhos do mais novo brilhavam em crença. Se lembrava de como tinha medo de deixar Taehyung sozinho porque ele podia ser ingênuo demais.

Mesmo que não houvesse estrelas para enfeitar o céu noturno, Namjoon nunca achou Daegu tão bonita quanto naquela noite.

Entrou com a bicicleta no pequeno parque onde as pessoas costumavam fazer caminhada pela manhã ou ao fim da tarde, mas que naquele horário não tinha ninguém o que dava ao lugar um ar de mistério que jamais teria a luz do dia, desceram e pararam a bicicleta em uma árvore passando a andar um do lado do outro sem dizer nada. As mãos se esbarraram e Taehyung se virou para pedir desculpas, mas Namjoon apenas entrelaçou os dedos ignorando o olhar surpreso do outro.

Pararam de andar quando chegaram à pequena ponte que se estendia sobre o riacho onde algumas carpas podiam ser vistas durante o dia. Taehyung se estendeu inútilmente querendo ver os peixes coloridos, e fez um biquinho chateado quando não conseguiu nenhum vislumbre deles. Estremeceu quando um vento frio bateu nele o fazendo encolher um pouco. Devia ter pego um casaco mais grosso, Namjoon riu do mais novo e o puxou gentilmente para um abraço.

Taehyung fechou os olhos e se deixou abraçar, o mais velho passou a fazer um carinho nos cabelos longos do outro, enrolando nos dedos as mechas do cabelo ondulado e sedoso pensando em como gostava deles daquele jeito mais longo. O mais novo se deixava ficar nos braços do outro sentindo cada músculo de seu corpo reagir com certo alívio, sempre que era abraçado por Namjoon era como voltar para casa.

Se separaram e os dois passaram a observar a água porque olhar nos olhos era sempre difícil demais, se olhassem saberiam o que se passava na cabeça um do outro e não sabiam estar prontos para saber. Não era uma questão de coragem ou covardia, mas de preparação.