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A imaginação sempre tinha sido para Taehyung, o refúgio perfeito.
Podia apenas fechar os olhos e se imaginar em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Não tinha noites frias no orfanato, não tinha que se encolher no banco da igreja por não ter família para dar as mãos no Natal, não existia dor ou solidão, bastava fechar os olhos e imaginar bem.
Fazia quatro meses que estava trabalhando na West Village, e era na verdade muito simples, só tinha que levar os documentos para Woosik ou Kyushik assinar e entregar para os responsáveis, imprimir algumas coisas, grampear outras... Era um trabalho metódico, mas ele o adorava.
Sempre acordava animado para ir trabalhar, de lá teria que ir para a escola, e de repente não precisava mais fechar os olhos para imaginar algo melhor. Sua vida pela primeira vez, parecia ter uma chance de significar algo.
Se esforçava ao máximo, sempre ficando depois do horário mesmo quando não podia, e no final do mês sempre recebia congratulações pela sua dedicação.
Naquela tarde em especial, havia muito trabalho a ser feito.
Decidiu faltar de aula para acabar com a papelada e não correr o risco de causar uma má impressão. Se sentou a mesa e ficou ali até que o sono acabou o vencendo e ele acabou adormecido sobre a pequena mesa.
Ele não devia estar ali. Ninguém esperava que ele estivesse ali, e não eram raras as ocasiões em que ele se pegava imaginando como estaria sua vida, se ele não tivesse jamais entrado naquele prédio.
— Vamos para a minha sala.
Acordou assustado e viu que o escritório estava sobre a penumbra, olhou em volta e viu Woosik entrar com o pai dentro de sua sala.
Pegou a mochila se sentindo envergonhado e foi à sala do chefe para pedir desculpas por ter dormido ali, mas paralisou ao escutar o conteúdo da conversa.
— ... Você pode esconder os malotes em cargas de sílica, não é difícil — reconheceu a voz de Kyushik e se encostou contra a parede. — Heroína é mais lucrativo?
— Em Seoul sim, mas aqui eu acho arriscado. Cocaína e heroína tem um custo alto.
— Mas são mais lucrativas também.
— Sim, vamos ter que pensar na distribuição.
Taehyung apertava a alça da mochila entre os dedos, o coração batendo tão forte no peito que ele temia poder ser escutado. Queria correr, apenas sumir dali e fingir que não tinha escutado nada, que não sabia de nada, mas...
— Pai, pensou sobre as garotas?
— Não tem muitas não é? O orfanato costumava ser masculino, meninos não tem muito valor — o Choi mais velho falou em um tom pensativo.
— Mas tem algumas meninas, é o suficiente. Se comprar o orfanato elas não vão ter para onde ir, a aproximação fica mais fácil, e também os garotos podem ser aviõezinhos, ninguém vai desconfiar de crianças.
— Ótimo! — o tom animado na voz do homem causou náuseas no adolescente que escutava tudo atrás da porta. — Vamos dar entrada na papelada.
Não adiantava mais fechar os olhos, sua imaginação já não o ajudava em nada. Taehyung não conseguia esquecer, quando via as garotas correndo pelo pátio, ele não conseguia esquecer, quando via os viciados jogados na sarjeta, ele simplesmente não podia esquecer.
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Amor Fati | Vmon
Fanfiction[CONCLUÍDA] Namjoon cresceu em um orfanato católico até ser adotado por um casal de policiais. Achou que seu passado nunca mais cruzaria seu caminho após tantos anos, até se deparar com seu primeiro caso no cargo de detetive: investigar uma associaç...