XIII | new year, old problems

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🦉

Tracejou com o grafite o que parecia um desenho sem forma definida. Não fazia aquilo a tanto tempo que tinha certeza de que dali não sairia nada bonito, mas continuou. Um traço aqui, outro ali, quando viu já esfregava os dedos sobre a folha áspera criando sombras.

Estava sentado sob a luz dourada que entrava por entre as persianas, uma brisa com cheiro de poeira e alecrim o envolvia enquanto deixava seus dedos trabalharem, depois de alguns minutos identificou a forma sobre o papel, uma mão.

Longa e delicada, as veias fortes e as falanges perfeitas. A mão que segurava a sua enquanto caminhavam pelo parque a noite, a mão que limpou suas lágrimas, a mão que segurava sua nuca enquanto se beijavam, que agarrava sua cintura enquanto faziam amor... Namjoon.

Em seus traços, mesmo quando não era ele, era sobre ele.

Parou de desenhar e fitou o esboço se sentindo um tanto trêmulo, encarou os próprios dedos sujos de lápis e respirou fundo.

Não sabia como descrever a sensação de estar no limite de todos os seus sentimentos, a confusão se misturando com aquela segurança ilógica que sentia na presença de Namjoon, aquele ódio que vinha crescendo em seu coração por tantos anos, que mal se lembrava como era não sentir raiva o tempo todo.

— Não é justo — falou baixinho e apertou entre os dedos o crucifixo em seu peito, cerrou os olhos e tentou respirar fundo de novo se engasgando em um soluço. — Não é — sua voz se misturou entre soluços e o corpo tombou sobre o caderno apertando com força o objeto contra o peito, sujando a blusa branca que usava.

— Taehyung? — Jimin entrou no quarto assustado, nem deu tempo do amigo tentar o afastar antes de o puxar para guardá-lo em seus braços. — O que foi, meu amor?

Ali nos braços de seu melhor amigo ele se deixou chorar, se agarrou a Jimin enquanto o corpo tremia em um choro doído que ele vinha guardando por muito tempo. O mais velho apenas se ocupou de acariciar seus cabelos e repetir baixinho que iria passar, que ia ficar tudo bem.

— Jiminie — a voz frágil do outro doeu em seu coração, mas Jimin afastou o amigo com delicadeza para olhar em seus olhos.

— O que foi, Taetae? — limpou as lágrimas que ainda desciam pelo rosto bonito mantendo um sorriso calmo no rosto, mesmo que também quisesse chorar por ver o amigo naquele estado. — O que aconteceu?

— Eu o amo... Amo tanto — soluçou de novo e cerrou os olhos tentando se controlar. — Eu não aguento mais.

— Tae...

— Eu sinto tanto ódio — falou entre dentes e abaixou o olhar apertando entre os dedos a camisa do outro. — E eu sempre usei disso pra fazer o que tem que ser feito, e eu sei que é o que eu tenho que fazer, mas... Jimin... Quando eu estou com ele, eu não consigo sentir nada além desse amor, dessa coisa tão... Não é justo — terminou em um fio de voz.

— Você tomou a culpa pelo que aconteceu, e decidiu que era o que você tinha que fazer, mas você tem razão — pegou o rosto do amigo entre as mãos. — Tae, não é justo que você tenha que abrir mão de você.

— Eu preciso...

— Não, você não precisa — disse firme sem desviar o olhar do dele.

— Não tem volta — falou por fim e Jimin suspirou o puxando de volta para os seus braços por não saber mais o que dizer. — Não tem mais volta, hyung.

— Isso é azul? — Ryujin perguntou tombando a cabeça para o lado e apontando para o terno que o pai usava.

Amor Fati | VmonOnde histórias criam vida. Descubra agora