BROKED - Concluída

Capítulo 14

O Golden Retriever da vizinha ao lado não parava de latir, enquanto eu me acomodava entre a almofada em formato de concha e a de coração na cama de Grace.

Após chegar em casa na madrugada passada, encontrei minha mãe massageando as têmporas com os cotovelos apoiados no balcão de mármore da cozinha. Ela parecia exausta e eu não queria perturbar.

Ao subir o primeiro degrau da escada, escuto minha mãe chorar e me viro, indo em direção à cozinha. O rosto dela estava inchado e quando me avistou, limpou os olhos chorosos com as mãos.

-Oi filha. Já chegou?
Como assim? São 2:15 da manhã.
-A mãe de Grace me trouxe.
Minha mãe pigarreou alto e desviou o olhar.
-Que gentil da parte dela.

Eu dei mais um passo e me sentei ao seu lado, no banquinho de madeira.

-Meu pai passou aqui, não foi?
Ela assentiu e mexeu em um fio solto da sua blusa de lã vermelha.
-Ele já foi.
-Por que ele veio?
Melissa pareceu travar e depois balançou a cabeça, olhando para a escada.
-Eu preciso dormir. Amanhã preciso corrigir vários trabalhos e não posso estar cansada. Seu irmão está na Carolyn?
Assenti com a cabeça.
-Ótimo. -minha mãe me deu um beijo na cabeça e subiu as escadas antes de eu questionar algo mais.

E aqui estava eu, na casa de Grace.

-Você está bem?
Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela usava uma blusa da Gucci escrito "Princess".
Eu assenti com a cabeça.
-O clima lá em casa está muito estranho.
E aqui também, pensei.

Grace se achegou mais um pouco e sentou-se ao meu lado, mexendo na almofada de franjas rosas. Seu hálito cheirava a panqueca e café preto.

-Seu pai estava aqui hoje de manhã.
Mordi minha língua ao falar e xinguei baixo.
-Como assim? O que ele estava fazendo?
-Eu não sei. Minha mãe não quis me contar e ele saiu assim que eu desci do quarto.
-Seu pai está em casa?
Grace balançou a cabeça negativamente.
-Ele não estava quando eu acordei, e minha mãe saiu logo depois que você me mandou mensagem.
Cocei a parte de trás da orelha e pensei no que poderia estar acontecendo. Sobre tudo.

-Eu queria conversar sobre ontem.
Desviei o olhar.
-Nós não precisamos. Você não preci...
Grace pôs as mãos em cima das minhas.
-Mas eu quero.
Engoli em seco.
-Eu não me lembro de muita coisa mas sei que nos... -ela corou ao falar- beijamos.
-Sim. Nos beijamos.
-E isso é estranho pra você?
Suspirei e me levantei da cama, cruzando os braços.
-Eu não sei. Eu nunca me senti assim antes. Nunca beijei uma menina antes.
-Eu gosto de você.
Meu olhar encontrou os castanhos dos olhos dela e uma batida na porta interrompeu nosso segundo beijo.

Roxana girou a maçaneta e congelou o olhar quando me viu. Eu ergui as sobrancelhas.

-O jantar está servido. -ela olhou para mim e perguntou com muito esforço- Você jantará conosco?
Eu fiz menção de responder mas Grace foi mais rápida.
-Ela vai sim. E vai dormir aqui hoje.
Eu dei um sorriso amarelo para Roxana, que fechou a porta rapidamente.
-Sua mãe está brava comigo? -perguntei.
Grace bufou.
-Ela não está brava com você. Só está em um dia ruim.

Depois do jantar baixo astral que tive com os Ramirez, tirando o pai de Grace que não estava ali e não parecia voltar tão cedo, Grace e eu subimos para seu quarto.

As paredes eram azuis bebê e no teto estavam coladas pequenas estrelinhas que brilhavam no escuro. Grace jogou um short vermelho e uma blusa escrito Eugene para mim e uma toalha branca.

Depois de tomar um banho quente e me esforçar para não surtar por estar no quarto da garota que eu tinha beijado ontem, abri a porta do banheiro e encontrei Grace deitada de bruços na cama com um conjunto de baby-doll da Dolce & Gabbana.

Ela cruzou as pernas e olhou para mim sobre o ombro.

-Será que nossos pais brigaram?
Demorei um pouco para absorver sua pergunta.
-Por que acha isso?
Grace sentou-se de pernas cruzadas e eu me sentei ao seu lado, ignorando seu cheiro doce de Lady Million da Paco Rabanne e Poison Girl da Dior.
-Seu pai estava dizendo algo como "Não sou o vilão" para a minha mãe.
Franzi as sobrancelhas.
Eu não lembrava mais de como meu pai era. Ele ficou fora por 4 anos e eu aprendi a esquecê-lo na marra.

Grace largou o livro de história na mesinha de cabeceira de madeira branca e se sentou de frente para mim.

-Eu terminei com Jake.
Fiz um "Oh" de surpresa. E eu realmente estava.
-Não espero que façamos nada. Eu só quero que tudo aconteça naturalmente. Se for para acontecer.
Posicionei meu olhar em seus lábios rosados e na curva de sua mandíbula que eu queria tanto beijar, mas me mantive.
-Você acha que as meninas viram algo?
Grace suspirou e encostou um joelho abaixo do queixo.
-Eu não lembro de nada, Amy.
Assenti com a cabeça.
Nossos dedos roçaram e eu senti uma corrente elétrica passar por meu corpo. O corpo dela estava quente, quase febril e eu me arrepiei quando ela encostou seus lábios nos meus, o metal gelado de seu piercing contra minha pele quente.
Pus minhas mãos em seu pescoço e suspirei quando sua língua entrou mais fundo em minha boca. Nosso beijo tinha gosto de Crest Complete.
Grace começou a beijar meu pescoço e eu senti uma pontada no meio das pernas. Eu nunca, em hipótese alguma, tinha me relacionando com alguém antes, principalmente no quesito sexual. Eu sabia muito bem que tinha beijado apenas 3 pessoas durante toda a minha vida e foram horríveis. Menos com Grace. Era fácil e prazeroso ao mesmo tempo.

-Amy...-suas mãos vagaram sobre meu colo e seu dedo indicador roçou o bico do meu seio esquerdo. Eu gelei.
-Eu...
Ela me olhou e suas pupilas estavam dilatadas. Seu batimento cardíaco estava acelerado e sua boca vermelha pelos beijos que demos.
-É melhor irmos com calma.
Grace assentiu e se deitou na cama. Deitei ao seu lado.

-Você beija muito melhor que o Jake.
Eu ri, olhando para as estrelinhas no teto.
Grace se apoiou em um cotovelo e me observou.
-Esse beijo eu não vou esquecer. Prometo.

E naquela constelação falsa de estrelas, percebi que estava completamente apaixonada por ela.