Capítulo 24

206 21 0
                                    

A campainha tocou e eu corri para pegar uma meia que tinha fugido do meu pé. Olhei para Tristan que dormia no sofá da sala enquanto assistia Backyardigans.

Ao atender, os pêlos da minha nuca se eriçaram. Era a mãe de Grace. Roxana.

Eu não sabia o que dizer, então fiquei apenas parada em pé na soleira da porta, esperando ela dizer algo.

Roxana ergueu uma sobrancelha e deu uma olhada para dentro de casa.

-Sua mãe está?
Neguei com a cabeça.
-Imaginei. O carro dela não está do lado de fora.
Engoli em seco, enquanto ela tirava algo da bolsa Prada.
-Peça para ela me ligar. Este é o meu novo número. -sua voz parecia embargada. Eu queria dizer algo, mas eu não sabia como.
Então apenas assenti.
-Grace está bem?
Roxana se virou no meio do caminho de pedrinhas.
-Sim. Imagino que tenha conversado com ela esses dias.
-Não muito.
-A situação é complicada. É melhor vocês darem um tempo.
Senti meu rosto esquentar.
-Nós não vamos dar um tempo. Ficamos anos separadas quando ela foi para Eugene.
Roxana fechou os olhos e abriu bem de leve.
-Ir para Eugene foi ótimo. O erro foi ter vindo para Portland e ter conhecido sua mãe.
Cruzei os braços sobre o peito, ignorando a tremedeira das minhas mãos.
-E o seu marido não tem uma parcela de culpa nisso?
Roxana se virou totalmente.
-Eu não vou discutir com uma adolescente.
-Pois devia, já que está fazendo isso.
Vi o rosto da mãe de Grace ficar vermelho e desdobrei os braços.
-Eu sinto...
-Não chegue perto de mim. Foi um erro ter vindo aqui de qualquer jeito.

Eu estava preparada para mais um pedido de desculpa, mas neste exato momento, minha mãe estacionou o carro ao lado da calçada.

-Roxana?
Senti a tensão entre as duas e dei dois passos para o lado de fora.
-Eu já vou indo.
De repente, minha mãe deu dois passos em direção a Roxana, se colocando cara a cara com ela.
-Eu preciso falar com você. Eu sei e vejo que não quer escutar nenhuma palavra da minha boca mas eu preciso conversar com você.
Roxana cruzou os braços sobre o peito.
-Estou fingindo ouvir. Pode começar.

Por um momento, eu pensei ver minha mãe vacilar e olhar para mim, mas ela abaixou a cabeça, apertou bem os olhos e disse para Roxana:
-Me desculpe. Eu fui uma filha da puta com você. Sempre fui sua melhor amiga e te traí com seu próprio marido, amigo do pai dos meus filhos. Você quer uma explicação, mas eu não tenho nenhuma. Não tem justificativa para o que eu fiz. Mas eu te juro, do fundo do meu coração, que eu me arrependo amargamente de tudo o que eu fiz. Acabei com nossa amizade, com o seu casamento, com o meu e com o relacionamento das nossas filhas. -sua mandíbula tremeu na hora-Eu só posso pedir seu voto de confiança agora para poder fazer tudo diferente e ser uma amiga melhor. Eu devia ter te contado! Todos esses anos e eu fui tão covarde em esconder isso tudo e fazer o Jonathan guardar segredo. O meu próprio marido? Eu não te peço perdão e nada disso. Eu só quero que você não pense que eu sou sempre assim. Uma ladra de maridos e uma pessoa que estraga amizades.

Roxana cruzou os braços.

-Então o que você é?
-Alguém que cometeu um erro e se arrepende amargamente disso todos os dias.

A mãe de Grace deu um passo em frente à minha que permaneceu imóvel.

-Você teve coragem de convidar a minha família para almoçar na sua casa e fingir que estava tudo bem e que você não tinha dormido com o meu marido? -ela deu mais um passo-Você olhou na minha cara e sorriu com essa boca de puta!
O momento a seguir foi tão impactante que eu bloqueei exatamente todos os segundos presentes nele.
Roxana deu um tapa tão forte no rosto da minha mãe que seu lábio sangrava.
-Mãe! -corri até as duas e afastei a mãe e Grace com as mãos -É melhor você ir embora! Agora!
Roxana ficou parada por um momento, olhando as mãos e depois seguiu para o seu carro do outro lado da calçada.

Me virei rapidamente, e observei as lágrimas quentes escorrendo do rosto de minha mãe. Seu lábio inferior estava machucado e um barulho na porta da frente nos fez olhar diretamente para Tristan, que esfregava os olhos.
-Mamãe?
Peguei nos ombros de Tristan e o levei para o lado de dentro.
-Fica aqui, está bem? Eu já volto.
Ao retornar para o lado de fora, minha mãe estava virando o carro na calçada, eu gritei mas nada aconteceu.
Peguei meu celular e mandei mensagem para Jonathan, meu pai.

Ele me ligou minutos depois, dizendo que minha mãe o tinha ligado para se encontrarem.

-E onde ela foi?
Meu pai respondeu meio confuso.
-Eu não sei. Ela só me mandou a localização do destino.
Puxei os cabelos.
-Então me manda também!
-Você precisa ficar em casa com seu irmão, Amy! Eu vou encontrar sua mãe.

BROKED - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora