Capítulo 21

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Seguimos pelo caminho feito de pedras decorativas que levavam até a casa em estilo vitoriano de minha vó, Mónica.

A varanda da frente continuava a mesma coisa. Decoração nenhuma, a não ser a cadeira de balanço do meu avô e um bonsai triste e esquecido.

-Como você está, querida? -Minha vó tinha um forte sotaque mexicano e isso me fazia rir às vezes. Mas não naquele momento.

Seu rosto estava idêntico, desde a última vez que a vira. Não havia uma ruga de expressão. Seus lábios continuavam grossos e com bastante batom vermelho. Seus olhos eram de um castanho tão claro, quase verdes.

Observei minha mãe respirar e me olhar pelo canto dos olhos. Sua expressão se tornou séria.

-Depois conversamos, mãe.

No lado de dentro, estava muito quente. Meu avô estava sentado em sua poltrona verde Arlo & Wallis, com uma grande xícara de café em suas mãos. Ele nunca usava o porta-copo.

Senti as mãos de minha vó apertar meus ombros, um pouco forte demais.

-Você está bem, querida?
Olhei para minha mãe, depois para baixo.
-Com saudade de casa.
Mónica suspirou.
-Você irá voltar logo, querida.
Assenti vagamente com a cabeça.

Ao me instalar no antigo quarto de minha tia Ana, me sentei na cama e enviei uma mensagem de texto para Amy, que respondeu logo depois.

Amy❣️: meu pai está em casa. eu realmente não sei o porquê dele estar aqui.

Grace: ele apareceu aí do nada???

Amy❣️: disse que queria falar com a minha mãe, mas não esperei para ouvir o resto. minha mãe sabe sobre nós.

Senti meus dedos congelarem e estremeci ao ouvir um trovão ali perto.

Grace: vai ficar tudo bem, ok? Eu te ligo mais tarde.

Ouvi passos por trás da porta e guardei o celular debaixo do travesseiro. Meus cabelos da nuca se arrepiaram ao ver minha mãe entrar no quarto.

-Você está bem, querida? Quer alguma coisa?
Balancei a cabeça negativamente.
-Quanto tempo ficaremos?
-Não me pergunte algo que não sei, Grace.
Levantei da cama.
-Meu pai vai vir atrás de nós.
Roxanna esfregou as têmporas um pouco forte demais.
-Que venha. Porque eu chamarei a polícia se ele fizer.
Pisquei os olhos rápido demais e cruzei os braços.
-Você faria isso?
-Claro. Para nossa proteção...
Mas a interrompi.
-É sério, mãe? Como se você pudesse me enganar. Eu vi o jeito que você olhava para o Sr.Thomas, e não era nada amigável. Melissa sabia que você o olhava daquela maneira?
Minha mãe arqueou as sobrancelhas e reprimiu os lábios, os deixando em linha reta.
-Eu irei descer e tomar um banho. Quero que arrume suas coisas e desça para o jantar.

Fechei os olhos com força depois que a porta bateu. Passei os dedos pelo cabelo e abri o MacBook.

Havia um e-mail da treinadora Cathy, me convidando para o campeonato na Universidade de Portland essa semana, no qual eu com certeza não poderia ir.

Meu telefone bipou e rolei para ver três novas mensagens de Cristina e uma de Kristin, perguntando sobre mim e sobre Amy.

Amy.

Nem começamos um relacionamento ainda e está tudo de cabeça para baixo.

Ouvi duas batidas na porta e esperei minha mãe entrar novamente mas era só minha vó me convidando para o jantar.

As 21:45 da noite, troquei minha roupa por um conjunto de baby-doll comprado na saks em Eugene. O qual Amy parecia ter gostado bastante quando dormimos juntas.

Me sentei no banco próximo à janela e cruzei os braços em cima do joelho apoiando meu queixo. A casa de minha vó ficava em uma rua, que mais parecia uma colina na verdade, próximo a um riacho. Dava pra ver tudo ali de cima. Avistei um esquilo tentar roer uma pinha mas sem sucesso, a jogou em um arbusto.
Uma chuva torrencial caiu de repente e tudo ficou embaçado por trás do vidro. Peguei meu celular em cima da cama, desbloqueando a tela, avistei três ligações perdidas de Amy.

Na segunda chamada ela atendeu, sua voz parecia embargada.

-Amy?
Escutei uma fungada pelo telefone.
-Meus pais não estão em casa.
-Como assim?
-Eles saíram. Deixaram Tristan aqui comigo e já faz mais de 4 horas que estão fora.
Ouvi Tristan chamá-la.
-Já tentou ligar para sua mãe?
-Sim, mas ela não atende. Nem meu pai.
Por um momento, prestei atenção na confusão de vozes no cômodo abaixo.
-Amy...Espera um momento. Acho que tem alguém aqui.

Abri a porta bem devagar, xingando pelo rangido que fez, mas ao perceber que as vozes não tinham parado, andei sorrateiramente sobre o assoalho, tomando cuidado para não ranger.

No topo da escada, pela fraca luz do lustre italiano de minha vó, observei minha mãe e meu pai?

Minha mãe estava vestida com seu roupão de seda e meu pai parecia mais um cachorro molhado. Seu terno de tweed estava encharcado e seus óculos tinham inúmeros pingos de chuva sobre a lente.

-Por favor, querida. Eu quero conversar.
Minha mãe tentava fechar a porta, enquanto olhava para baixo.
-Eu não tenho nada para conversar com você, Richard.
Richard tirou os óculos.
-Eu te amo. Por favor, me dê uma chance.
Minha mãe o fuzilou com os olhos.
-Uma chance? Te dei 4 anos de chances para me contar a verdade e eu soube logo por quem? Por Jonathan! Você tem noção disso?
Observei meu pai fechar a boca e piscar seus olhos castanhos escuros.
-Por favor, Roxanna.

Roxanna fechou a porta, trancando meu pai do lado de fora naquela tempestade. Ela apoio a cabeça na porta e me segurei no braço da escada para não ir até minha mãe.

Enquanto voltava para o quarto, pensei no que minha mãe disse sobre os 4 anos de chance que tinha dado ao meu pai. Talvez em nenhum deles, meu pai estava preparado para perdê-la de vez.

BROKED - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora