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Um ano atras

— Corra, Elisa! Corra como se sua vida dependesse disso! — Meu personal trainer, amigo e insuportável berra em meu ouvido.

— Se você quer me matar. Bom, você é bom em torturar. Diogo, me tire dessa esteira!

E o tapa na minha nadega direita chega com tudo. Um berro e toda a academia olha em nossa direção.

Deu por hoje!

Aperto qualquer botão que pare essa maquina de tortura e quando me viro para matar Diogo ele já não esta mais entre nós.

— Filho da puta!

Seco meu rosto com a minha toalha e recolho minha garrafa d'agua do apoio da maquina de tortura. Esfrego minha nadega e sinto o ardor se espalhar.

Maldito!

Passo pela área de musculação e corro dali. Vou para fora. Não quis tomar banho na academia por estar cheia hoje. Desço direto para o estacionamento. Avisto meu carro e entro.

Selena Gomes toca suavemente enquanto manobro o carro. Toda vez que estou ao volante minha vontade de sair por ai dirigindo da maneira que gosto bate à porta. Mas devido a merda de uma maldita escolha, fui privada do que mais gosto de fazer.

Correr.

Sou motorista profissional. Corridas são meu hobbies. Mas infelizmente, por inveja, armaram para mim e a Polícia me levou em cana.

Muy belo.

Deve estar pensando: Uau, mas você?
Meu irmão é melhor do que eu nisso, mas foi ele quem me ensinou tudo que sei e eu aprimorei com o tempo. Claro, não fiquei nem um ano presa. Meu irmão me tirou de lá.

E com sua ajuda abri minha empresa de pequeno porte. Vendo carros esportivos e personalizados. Únicos.

E depois de passar em casa e tomar um banho descente, é para lá que irei.  Batucando os dedos no volante do meu Chevrolet Camaro Z/28 1967 Off Road - Roman. Tem um motor GM 6.2 LS3 de 500 cv. Essa beleza arrebenta na estrada.

Estaciono e subo os lances de escadas. Depois de um banho e uma rápida mordida no bolo de fuba que Henry deixou, estou pronta para ir ate a loja.

Meus cabelos estão molhados e eu apenas coloquei uma calça de alfaiataria preta. Possui modelagem reta, dois bolsos posteriores não funcionais, barra desfiada e fecho lateral por zíper, botão de pressão e botão e encaixe. Em cima, uma regata branca. No rosto? Óculos estilo aviador.

Odeio maquiagem. Por isso sempre saio sem. So uso quando é extremamente necessário.

Sinto o celular vibrar e no visor o nome da menina mais doce, mas manipuladora que já conheci. Sabe aquele ditado? Quem vê cara não vê coração. Descreve perfeitamente Bia. Beatriz.

— Diga, Bia.
— Ai graças a Deus! Tem um cliente que só quer ser atendido por você, Lisa. — Mais essa agora. Bom, não incomum isso acontecer. Mas isso deixa Bia puta da vida, afinal ela é a vendedora e entende de carros tanto quanto eu.
— E qual o nome dele? Talvez eu conheça— O que também não é incomum. Pode ser algum affaire do passado ou do presente.
— Ele não quis se identificar, Elisa. — Por um segundo para o que estou fazendo. Quem diabos deve ser? Meus sentidos já se afloram e eu não posso cair em mais armadilhas. Perder a loja seria cruel.

— Certo. Ligue para meu irmão, Bia. Diga que tem um cara suspeito na loja  e peça para ele conversar com ele. Verifique as câmeras, vê se estão ligadas e diga a esse sujeito que me aguarde. Estou chegando.

— Certo.

Todo cuidado é pouco. Pode ser nada mas meu instinto não diz que não é nada. E bom, medo eu tenho, mas nem fudendo fujo da raia. Retiro os saltos para dirigir meu bebê, ligo o som e Taylor Swift- Cruel summer enche meus ouvidos, me obrigando a cantar também.

Depois de dez minutos chego a loja. Vejo o carro do meu irmão do outro lado da Rua e antes de descer ponho os saltos. Ando confiante e dono de mim. Assim que entro na loja Bia vem até mim.

— Bom dia, Beatriz.
— Bom dia, Elisa. — Bia olha para mim e logo me empurra o tablet com as imagens das câmeras — Esse é o cara que esteve aqui. Ele perguntou se a loja era sua, se você estava e eu disse que sim e que você não estava. Então ele perguntou sobre seus horários...

Bia é excelente mas devo confessar, ela fala pra cacete. E sem parar. Por isso, as vezes, a interrompo.

— Certo. Você disse estava? Ele se foi?
— Sim... e... — sua pausa dramática me faz tirar os olhos das imagens do tablet e focar nela. — Seu irmão parece extremamente incomodado com esse cara. — ela diz apontando para o tablet, no exato momento em que o rosto do homem surge.

— Pelo menos bonito ele é.
— Tem que ver ao vivo e a cores... — Bia diz distraída. Sorrio de sua postura sonhadora. Entrego o tablet para ela e vou encontrar o cara mais protetor do mundo.

— Hey, amor da minha vida! — Me jogo em seus braços fortes. Bill é toda a família que tenho. Sem ele eu não sem o que seria de mim.
— Lisa... — Seu abraço se intensifica e isso me preocupa. Da última vez que recebi esse abraço, foi quando a Polícia chegou e queria me prender.

— Bill, me conte tudo.

Meu irmão se afasta e se senta em uma das poltronas a frente da minha mesa. Esfrega o rosto com as mãos e depois de longos minutos ele me olha sério.

— Aquele cara não me parecia cliente, Lisa.

Opa! Me afasto da mesa e meu corpo fica tenso.

— E quem sera ele, Bill? Melhor... o que um não cliente quer comigo?
— E eu sei? — Mais uma vez ele esfrega o rosto e me encara nervoso— Só sei que agora eu vou e volto com você.
— Justo. Não quero andar sozinha mesmo.
— Você nunca estará sozinha.

Dito isso sinto-me protegida em seus braços. Mas como nem tudo são flores... o dever nos chama. Passo o dia dando conta dos problemas da empresa. Confesso que ser minha própria chefe é bom.

Não responder a ninguém! Uma liberdade e tanto, meus amigos! Óbvio que também do jeito que sou, jamais serviria para ser pau mandado de alguem! Já fui, mudei e não volto pro passado nem fudendo.

Mas tem também as dificuldades. A responsabilidade é grande, onde eu mesmo tenho que policiar para não cometer erros crasso.

Minha vida era totalmente diferente desta que tenho hoje e por mais que me sinto uma mulher foda, ainda não sou totalmente livre e por isso acabo prendendo algumas pessoas também.

Elisa Bonaldi Onde histórias criam vida. Descubra agora