Capitulo 6

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Estalo o pescoço e gemo. Certo, estou fora de forma. 

— Senhorita, Bonaldi. - Surge uma moça com pele de porcelana vestida de enfermeira- Parece que não quebrou nada, sorte! Aqui esta alguns analgésicos, caso sinta dor.

E a boneca se vai. Sorte? Ahh se ela soubesse que na minha vida só ha azar. Fecho os olhos e me preparo para me levantar quando, mãos nada delicadas, seguram minha cintura. 

— Precisa de ajuda. - Como respira? ele tomou banho e esta devidamente vestido todo de preto.

— Não. - Ouço seu suspiro.

— Não foi uma pergunta. Vou te levar para o apartamento da Intepol.

Concordo com a cabeça. No carro ninguém fala nada. Agradeço. Geralmente mantenho minhas emoções sob controle, mas hoje, esta difícil. Volto a pensar no passado, nas minhas escolhas que, infelizmente, me trouxeram ate aqui. Neste carro. Com esse homem lindo, porém mortal e altamente cruel. 

Abri mão de algo muito importante na minha vida. E esta, talvez, seja a unica escolha que eu não me arrependa, mas que não tenha um dia na minha vida que eu deseje que tudo fosse diferente. Que tivesse tido uma outra saída. 

Aperto minhas mãos e me deixo levar pelas lembranças de um dia memorável.

— Chegamos.- Aceno e abro a porta do carro. Gabriel caminha até a mim e seu rosto demonstra surpresa. Franzo a testa e o encaro, esperando uma resposta.

— Chorando? - Imediatamente levo as mãos ao rosto. Nem havia percebido.

— Pode... - Limpo a garganta - Pode me mostrar onde ficarei? Preciso descansar.

Ele simplesmente se vira e caminhamos ate um elevador. Gabriel parece aquelas pessoas raras, que nada as atingem. Inabalável. Tento ser assim, mas há uma fraqueza em minha vida. E qualquer um que saiba dela, vai me abalar. 

— Você só me tem aqui, pois sabe da minha fraqueza. -Gabriel levanta uma sobrancelha e inspira fundo.

— Você fez suas escolhas. Esta aqui por elas.

— Idiota. Um grande idiota! Aposto que tem um pinto minusculo.  

O homem se move como um leopardo.  Logo estou presa contra a parede do elevador mais ofegante que corredor de 100 metros. Sinto a porra do seu perfume amadeirado, forte,  com um toque de suavidade que não consigo identificar, mas esta lá. Ele agarra minha mão direita e a segura.

— Qual é Bonaldi! - Idiota, todo idiota! tento sair do seu aperto, mas ele é mais forte. - Você escolheu aquele cara, e eu sou idiota? Ele te tratava pior que cachorro. Depois engravidou do idiota! Grande inteligencia! Mas ainda havia uma saída. E você escolheu a pior delas. Isso não é fraqueza que te trouxe ate aqui. É burrice. - E então ele arrasta minha mão ate o meio de suas pernas- E a unica coisa minuscula aqui, é seu cérebro. 

Ele diminui seu aperto e eu me solto dele. Lagrimas escorrem por todo meu rosto. Que essa merda abra as portas logo. Ouvindo meus pensamentos as portas se abrem e eu salto para fora. Gabriel aponta para a unica porta no final do corredor. 

— Está aqui a chave. Eu fico no andar de cima. Este é só seu. Passe o cartão e depois coloque suas digitais no leitor.

Pego o cartão magnético de suas mãos e o encaro. 

—  Gabriel, sei que estou fedendo e suja. Sei que cometi erros e fiz escolhas erradas. Mas é isso que acontece quando temos humanidade. Somos fracos e burros,as vezes. E eu prefiro cometer alguns erros a ser como você, frio e sem amor.

Gabriel revira os olhos e me dá as costas. Aperta o botão e chama o elevador.

— Olhe para mim e olhe para você, Bonaldi. Acha mesmo que o amor compensa? Estou limpo, cheiro e ganho super bem. Você esta toda ferrada, mente para as pessoas que diz amar ou que já amou. e pior sempre faz as escolhas erradas.

Vejo Gabriel sumir para dentro do elevador. Arrasto meu corpo para perto da porta onde passo o cartão e coloco minhas digitais no leitor, e então a porta se abre. Dando uma olhada rápida, tudo parece bem limpo e muito bem decorado. Tudo no lugar. Menos eu.

Queria pode desabar como essas mocinhas de filmes fazem. O que Gabriel disse, foi como jogar soda caustica em feridas que eu já nem sabia que existiam.  Caminho até a cozinha, ou o que acho que é a cozinha, abro portas e gavetas, ate achar uma garrafa de vinho na pequena adega que fica ao lado da ilha que separa a sala da cozinha. 

— Taça e vinho.

Sorrio. Sentir o vinho é uma das coisas que sempre faço, mas hoje não é por prazer, para descansar e esquecer. Hoje é para me afogar e sentir o que ha muito tempo venho evitando sentir. 

Dor.

—Merda! - sorrio- O filho da puta do Gabriel esta certo. Mas errado também. O amor me salvou e me destruiu. Primeiro me destruiu e depois me salvou. - Largo a taça de vinho na mesinha de centro, em frente ao enorme sofá em que estou, e ando pelo amplo corredor branco. - Preciso dormir. Preciso de um novo dia para esquecer e finalizar esse dia de merda.

Elisa Bonaldi Onde histórias criam vida. Descubra agora