Talvez mais que Amigos

C.a.p.í.t.u.l.o 17

- Quando você vai? - Abbie pergunta, enquanto íamos para nossa sala.

- Eu não sei, tenho que falar com meu pai. Juro que não quero deixar vocês, mas não posso fazer com que meu pai perca essa chance, é importante para ele. Eu não iria me perdoar.

Algumas lágrimas cismam em sair de meus olhos, fungo meu nariz, e as enxugo com as costas da mão.

- Vêm cá - Liam me puxa para seus braços, e afaga meu cabelo. Sinto seu peito subir e descer. Seu carinho e contato acalma meu coração. Ergo meus olhos e encontro os seus. Se eu não me enganava uma das únicas vezes que vi Liam chorar foi quando o Marley do filme Marley e eu, morreu.

Não queria ver meus amigos assim.

As aulas da manhã seguiram melancólicas. Hora ou outra ouvia Abbie fungar o nariz a minha frente. Isso só fazia com que o meu coração voltasse a se partir. A julgar pela dor que sentia no peito, ele estava se despedaçando.

Cada vez que pensava em ir embora, minha vista embaçava, com as lágrimas que surgiam, algumas vezes gotas caiam na folha que estava escrevendo, se fundindo a tinta da caneta das palavras que havia escrito, e manchando o meu caderno.

Quando o sinal bateu anunciando o final da última aula, Abbie, Liam e eu nos levantamos juntos. E seguimos para o lado de fora do colégio em silêncio. Um silêncio doloroso.

- Eu ainda não estou acreditando no que você nos contou, Isa, parece mentira - Abbie me olha nos olhos parecendo esperar que eu diga que estava brincando.

- Nos diga que isso não é verdade, Isa - olho para ao moreno ao meu lado, desolado. Seu rosto transparecia a tristeza que sentia.

Suspiro. Eu queria que fosse mentira, uma pegadinha dos meus pais, mas sabia que não se tratava disso. A realidade era essa, eu iria me mudar, e a única coisa que poderíamos fazer, é aceitar.

Quando cheguei em casa, meus pais estavam na sala, assistindo algo na televisão. Quando entrei, seus olhares caíram sobre mim.

- Oi - disse, em um sussurro. E me preparei para subir as escadas.

- Podemos conversar? - papai perguntou, se levantando.

Assenti, e esperei ele se aproximar.

- Não precisamos nos mudar se você não quiser - ele diz. - Só quero seu melhor, só quero que seja feliz.

Uma vontade de sorrir me atinge com a consideração de meu pai. Ele era bom, um homem íntegro. E merecia ser feliz também. Ele tinha que aceitar a proposta, essa era coisa certa a se fazer.

Foi a pouco que percebi, que as vezes temos que por a necessidade do outro a cima da nossa.

Essa era uma oportunidade única que não poderia ser desperdiçada. Com o tempo iríamos conseguir nos adaptar seja lá para onde iremos, e eu também poderia ver meus amigos, daria certo.

- Pai, também quero seu melhor - digo. - Eu pensei, e eu acho sinceramente que o senhor deve aceitar a proposta.

- Mesmo? - ele arqueia uma sobrancelha em minha direção. - O quê a fez mudar de ideia?

- Mesmo! O senhor merece, e não pode deixar essa chance passar, se não for o senhor, vai ser outro.

- Isso não é tão importante... Se você não...

- Pai, tudo bem pra mim.

- Tem certeza, filha? - mamãe aparece atrás de meu pai. - Eu e seu pai estávamos falando agora pouco sobre desistir...

- Não devem desistir por mim, se trata de todos nós, não é? Então, vamos decidir juntos.

- Então, você quer mesmo ir? - mamãe indaga.

- Se vocês forem, eu vou.

Meus pais se entreolham.

- Tem certeza que não vai se arrepender? - meu pai questiona.

- Se não formos eu vou me arrepender - minha voz sai decidida, e eu não sabia dá onde essa coragem tinha surgido.

De baixo do chuveiro, me ponho a pensar. Na reprimenda dos meus sentimentos com relação a Liam, e na decisão que espero não ter sido equivocada, em aceitar me mudar. Eu não estava deixando para trás somente meus sentimentos por Liam, mas a ele também. Mas ele teria a Abbie e a Roxie. Não poderia estar melhor. E eu seria forte para enfrentar seja lá o que estivesse por vim. Mergulharia com confiança em um oceano cheio de dúvidas que esperava pelo meu salto.

Papai avisou que tínhamos em torno de uma semana para organizarmos nossa mudança. Ele estava bem animado e minha mãe também. Depois da aula de música que tive na terça, ajudei- os a encaixotar algumas coisas. Cada cômodo da casa ia sendo esvaziado.

No meu quarto ia guardando os objetos aos poucos. Tinha várias caixas espalhadas por ele, que iria preencher conforme os dias.

Estava deitada na cama, quando Abbie me ligou.

"Posso ir aí mais tarde?"

Ela pediu, sem antes me dizer um oi.

"E precisa pedir."

Respondi, com um sorriso.

Quando o sol se escondia no horizonte, Abbie apontou no portão de casa. Ela vinha com uma sacola e mochila nas costas.

- Oi - ela diz, me abraçando. - Trouxe sorvete.

- Hm, que delícia! - exclamo.

- Olá, Abbie - Mamãe a cumprimenta, ao sair para o lado de fora descascando uma laranja.

- Olá, senhora Hart - Abbie sorri. - O quê posso fazer para senhora deixar a Isa morar comigo?

Mamãe sorri.

- Não se preocupe, Abbie, nós a deixaremos vir visitar você e o Liam sempre que puder.

Abbie me olha, seus olhos tristes.
Ela assenti devagar, antes que entremos. Passo na cozinha e pego duas colheres. E subimos até meu quarto para assistir fimes e saborear o sorvete.

Meus últimos dias aqui, ao lado dos meus amigos, deveriam ser vividos intensamente, eu iria aproveitar cada segundo. Não queria ficar em um silêncio de lamentação. Eu queria aproveitar. Construir lembranças que pudesse reviver em minha memória com alergia.

- Eu estava pensando - Abbie olha para mim. - Você vai embora, ficar longe de mim e principalmente do Liam e não vai dizer a ele o que realmente sente?

- Abbie, nós já falamos sobre isso. Ele está com a Roxie.

- Eles só ficaram, não significa nada.

- Como você sabe? Ele pode muito bem estar apaixonado por ela.

- Ou não.

- Eu não vou falar nada para ele. O quê você quer que eu faça? Chegue para ele e diga: Liam, eu tenho sentimentos por você e esses sentimentos vão além da amizade.

- Sim.

- Não - rio. - Não vou estragar nossa amizade.

- Você viu como ontem ele te puxou para te consolar? Talvez ele goste de você, e esteja com esse seu mesmo pensamento...

- Abbie, por favor, vamos esquecer isso. Eu não vou falar nada, tente não insistir.

Abbie bufa.

- Você está cometendo um grande erro.