Os raios de sol começaram a adentrar a senzala, mostrando que um novo dia nasceu e que os trabalhos deveriam ser iniciados. Rosa Maria logo deu peito a João e em seguida dirigiu-se para a cozinha da casa grande. Feliciano ainda estava com as costas em carne viva, mas já sem dor, pois a benzedeira Bastiana já havia colocado ervas para que amenizasse o sofrimento do pobre homem.
Após o ocorrido da noite passada Bastiana teve a ideia de esconder os instrumentos e objetos dos ritos da religião dos escravos dentro de santos católicos, logo que o Barão se dizia muito católico e não havia de esbravejar com os escravos supostamente rezando com os santos. Para a ideia dar certo só lhe faltava os santos e para isso contou com a ajuda do senhorzinho Henrique que como sempre ou a dedurava ou queria algo em troca.- O que posso oferecê pra vosmecê é remédio pra modo dormir, batidas de fruitas ou ervas ou algum amuleto, disse a benzedeira.
- Quero o sonífero, isso vai ser-me muito útil algum dia, respondeu o senhorzinho.
- Sunífiru, donde tem isso?, perguntou Bastiana.
- É o remédio de dormir, velha, respondeu Henrique.
Bastiana entregou ao senhorzinho o sonífero e ele a entregou alguns santos, que por ventura haviam sido trocados por novos na casa grande por estarem com aparência de velhos, por pura estética da Baronesa Cristina. Logo pela tarde a benzedeira se encarregou de esconder os objetos dentro dos santos e criar uma espécie de altar para eles.
O capataz logo deu por fé do altar e mostrou ao Barão, que vendo-o lotado de santos admirou-se.- Se até os meus escravos rezam pelos santos, minhas terras hão de progredir cada vez mais, disse o Barão de Lajedos.
Bastiana que até então era chamada de velha feiticeira pelo Barão, passou a ser chamada até pelo próprio nome. O Barão aproveitando o momento, pediu ao capataz para ir até a cidade de Cruzeiro do Sul para marcar com padre Cícero o batizado da sinhazinha Helena.
Por volta das 16:45 da tarde o capataz retornou dizendo que o batizado estava marcado para daqui a sete dias. A Baronesa logo tratou de enviar cartas para os padrinhos que eram o comendador e sua mulher, mandou carta também às famílias nobres e todos os amigos mais próximos. Além disso, o Barão daria uma festança em comemoração; Henrique vendo do alto da escada o que haveria de acontecer, deu um breve sorriso no canto do rosto que mais parecia um ato de malícia do que de alegria.
Já estava ficando tarde e todos já estavam terminando seus afazeres, quando ouve-se um grande barulho de tiro vindo da região do córrego do ouro, os escravos se assustaram e ficaram todos em silêncio, do alto da escada do casarão podia se ver também o Barão curioso e espantado com o acontecido, a sinhazinha Helena não parava de chorar e isso irritou muito o Barão que desceu da escada em direção ao Jardim a fim de se distanciar do choro e ouvir o que se passava no córrego que ficava a alguns metros do casarão.
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Vosmecê
RomanceUma história que se passa nos anos de 1806 em diante, onde é retratada as reviravoltas que cercam a Fazenda Lajedo, os acontecimentos que marcaram a vida de seus proprietários e escravos. Essa História trata de assuntos delicados como amor proibi...