Amanheceu e por volta de 6:15 da manhã, tudo se encaminhava normalmente, escravos a trabalhar e Daniel os ordenando, trabalho que ele fazia obrigado, era o único jeito de ainda continuar vivendo naquela fazenda, já era praticamente um escravo também. A mente dele estava um turbilhão, lembrava da conversa que ouvira outrora a respeito do casamento de Carlota e não conseguia se concentrar em suas obrigações, o prejuízo era imenso na lavoura, Atevaldo não aguentou ver tamanhas besteiras e tomou o serviço do jovem, mandando-o ir cuidar de uns problemas na senzala.
Na senzala, Daniel encontra com Rosa Maria que estava com o menino João nas costas.
- Cuma foi a viage sinhô. Disse a escrava curiosa.
- ... Disses algo??.Respondeu Daniel.
- Nada não sinhô, pidi pro cê sai da porta pra eu passá pra fora. Disse Rosa.
- Perdão Rosa podes passar, estou um pouco pensativo hoje e prestando pouca atenção. Disse Daniel.
- Cundé farta de prestá assunto é sinár de amô o de medo e se for os dôi é pió, o consei que eu dô pra vosmecê é, fala com ela homi. Respondeu sabiamente a escrava.
- De veras, sábio foi este teu comentário Rosa, do que adianta eu pensar, pensar e não ouvir o que ela tem para fal...
Nesse momento Henrique interrompe os dois e chama Daniel para o casarão.
- num tem de quê, hahaha. Disse gargalhando a escrava Rosa.
No casarão Henrique conta a Daniel que está muito satisfeito com o trabalho dele para com a família, nesse momento Cristina desce pelas escadas abraça o filho e diz a Daniel que apesar de ser meio enxerido, ele é um bom rapaz, porém ela ainda precisa de um grande serviço para que a dívida seja totalmente encerrada.
- Como você sabe, o casamento de Henrique com Aurora vai ser marcado ainda nesta semana, porém algo ainda não me deixa feliz, como aquela valiosa adaga sumiu do livro? Preciso que você a encontre. Disse a Baronesa.
- Com isso não fico mais em débito com vocês?. Perguntou Daniel.
- Sim isso e é claro com o seu voto de silêncio a respeito da morte de meu querido marido, você assina e pronto, está livre de dívidas conosco. Disse a Baronesa Cristina.
Daniel já tinha tantos problemas para resolver, e agora este, onde estaria aquela maldita adaga a qual ele nem lembrava mais a existência. Se colocou a pensar, mas não raciocinava direito, seus pensamentos eram somente em uma pessoa, Carlota!
A fim de amenizar os pensamentos escreveu uma carta com as mais belas palavras, marcou um encontro em um determinado local e horário, pegou a carta selou-a com cera, aplicou-lhe o carimbo da Família de Lajedos e enviou para a donzela amada.
Em seguida, o jovem tratou de procurar a dita adaga, claro resolveu começar por quem trabalha diretamente com a casa grande, e é óbvio que ele foi ligeiramente até a escrava Rosa Maria. Questionou-a e após muita pressão a escrava lhe confessou que aproveitando o momento oportuno a furtou, dizendo com sinceridade que apenas queria um dia fugir e ter o que vender para poder sobreviver e dar vida melhor para o filho João. Daniel não questionou os motivos de Rosa, sabia o quão difícil era a vida que os escravos levavam, apenas disse que precisaria pegar o objeto para poder devolver a Baronesa, ele não tinha escolha. A escrava já sem saída, contou-lhe que escondeu a adaga em uma botija de barro debaixo de uma árvore gameleira, indicou a localização certa, e Daniel espantou-se, era o mesmo lugar em que havia marcado um encontro com Carlota, seria aquilo apenas uma coincidência ou seria um daqueles acontecimentos em que ele havia lido em alguns livros? "Destino"!?.
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Vosmecê
RomanceUma história que se passa nos anos de 1806 em diante, onde é retratada as reviravoltas que cercam a Fazenda Lajedo, os acontecimentos que marcaram a vida de seus proprietários e escravos. Essa História trata de assuntos delicados como amor proibi...