Descobertas

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Girei a maçaneta vagarosamente e entrei em casa na ponta dos pés; fazer isso aos 23 anos de idade, quando já saíra da casa dos meus pais, acabou arrancando de mim um sorriso bobo, que tive de lutar para conter e manter o silêncio.

O fato da luz da antessala estar apagada denunciava que Naruto havia chegado antes de mim. Das duas uma: ou ele estava dormindo ou no computador. Em qualquer dos casos, minha presença passaria facilmente despercebida, na hipótese de conseguir ir para o quarto sem movimentos bruscos.

— Onde você estava? — a voz séria chamou minha atenção para a figura sentada no sofá em meio a escuridão, desfazendo minhas suposições. Inevitavelmente meu coração disparou com o susto.

— Não te interessa — respondi simplesmente. Não daria satisfações.

Sem me importar, segui para o quarto. Eu chegar tarde parecia o fim do mundo para Naruto, algo que ele justificava com a preocupação por minha segurança, embora a mesma justificativa utilizada por mim soasse como um disfarce para os ciúmes. As coisas não eram justas, ele achava que podia trabalhar até tarde e chegar em casa o horário que bem entendia; mas quando eu fazia o mesmo, as coisas mudavam de tom.

De verdade, preferia ter passado despercebida, como sempre; mas se Naruto viesse me questionar, dessa vez não seria eu a baixar a cabeça. Ele conseguiu, apenas com sua presença, me fazer esquecer a noite animada e voltar a irritação. Só olhar para a cara dele me deixou com raiva.

— Não me interessa? — Indagou furioso, entrando no quarto logo atrás de mim.

Tive de rir, não sei se pelo efeito do álcool, ainda pelo meu corpo, ou se sinceramente achando o tom dele exaltado demais para quem tinha sua grande parcela de culpa em toda situação.

— Como não me interessa? Em que sentido, a minha namorada chegar bêbada em casa, depois da meia-noite, não me interessa?

De novo minha resposta foi um sorriso sonoro. E enquanto tirava os lençóis para me deitar, só senti meu braço ser puxado para trás, colocando-me diante do rosto cínico que só aumentava minha aversão.

— Estou falando com você, Sakura!

O grito foi suficiente para fazer a raiva me dominar por completo, eu travei os punhos do tanto que o odiei naquele momento, e com a força súbita a ganhar-me, empurrei-o.

— Não ouse encostar um dedo em mim! Me agarre de novo e verá do que sou capaz.

— Não agarrei você. Só quero que olhe para mim e me diga onde estava, em vez de ficar rindo da minha cara como se eu fosse um idiota.

— Você é, um idiota! E eu quero que suma daqui. Suma daqui! — gritei, sem desviar meus olhos dos dele. O sangue parecia borbulhar em minhas veias, como se de repente tudo que vinha guardando explodisse. — Acabou, Naruto. Acabou! Quer saber? Acabou há muito tempo.

— Qual o seu problema, Sakura? Desde quando bebe até perder a razão e chegar em casa nesse estado?

— Desde quando percebi que o meu relacionamento com você é uma porcaria. Desde o momento que fui capaz de enxergar que tenho feito tudo sozinha, e você não está nem aí para mim, não se esforça o mínimo para manter essa droga de noivado. Eu não vou perder minha vida por sua causa, não vou ficar mais em casa chorando porque você não dá a mínima; perguntando-me qual o problema comigo, quando o problema é você! Estou cansada de me olhar no espelho e me sentir um lixo, toda vez que sou recusada, porque você nem ao menos transa comigo, porque me recusa como se eu não fosse boa o suficiente para atraí-lo. Não sabe como me sinto toda vez que tento alguma coisa e você simplesmente diz que está cansado ou com coisa demais na cabeça para pensar em sexo, quando na verdade, fica olhando pornografia no computador quando não estou em casa. Você acha que não sei? — esbravejei, e ele sorriu descrente, fingindo ouvir uma mentira absurda. — Você nem ao menos se dar ao trabalho de apagar a porcaria do histórico! Ou é burro o suficiente para não achar que vou olhar.

WonderwallWhere stories live. Discover now