Você acreditaria?

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A verdade às vezes dói um pouco. A mentira, por sua vez, é capaz de proporcionar alegria, por mais que seja breve.

Depois de muito pensar, ainda não havia chegado a uma conclusão, gostaria de me permitir sentir sem receios os sentimentos despertados em meu coração, e não me afetar por um passado superado; porém, não queria uma brevidade que ruiria quando as verdades viessem a tona. Tudo bem se, de alguma forma, inevitavelmente estivéssemos fadados a não passar de mais um romance fracassado. No entanto, para tentar precisávamos nos entregar de corpo e alma, e isso exigia uma análise adequada da situação, sobre estar disposta ou não a mergulhar de cabeça.

Havia tomado a decisão certa de explicar ao Uchiha a verdadeira situação com meu falso noivo, antes de aceitar o pedido de Naruto para almoçar no domingo. Talvez, obviamente, devesse ter contado tudo pessoalmente, e não mandado mensagem num sábado a noite.

Quando você conversa com alguém face a face, pode ver suas expressões, ouvir possíveis esbravejo de descontentamento,  e nesse caso, quantos cigarros serão tirados do bolso após a discussão. Ao contrário de qualquer um desses confortos, tudo que uma mensagem me revelou foi uma incrível habilidade para ignorar. Sasuke não respondera. Visualizou, mas não respondeu. Também não ficou mais online. O fato de eu olhar para tela o tempo inteiro não mudou a realidade dos fatos.

Não poderia culpá-lo, de qualquer forma. Agora só me restava ficar inquieta.

— … Você escutou alguma coisa do que falei? — Naruto perguntou, disfarçando com um sorriso achar graça de minha distração.

Não escutara praticamente nada do que ele estava contando. Somente ouvi por cima que falava sobre os problemas da empresa, como sempre.

— Não, desculpa.

— Está esperando algum telefonema?

— Só me distraí um pouco com algumas mensagens. Mas continue, por favor. Posso deixar para depois.

Eu não podia. Não conseguiria. Não sei se me detestei mais por dizer algo assim, ou por não ser capaz de sustentar minha própria mentira. A verdade é que, apesar de me dispor a escutá-lo falar, por baixo da mesa apertei uma vez no botão do volume do celular, tirando do silencioso. Caso o Uchiha me respondesse, sua mensagem seria anunciada pela vibração do aparelho.

— Estava dizendo que estamos sendo roubados por hackers.

— É mesmo? — fingi interesse.

Estava feito, bastou só um pequeno incentivo e Naruto tornou a falar. Ocupei-me de balançar a cabeça às vezes, forçando uma reação sempre que ele aparentava esperar uma. Primeiro, ele contou sobre a nova empresa de segurança da informação que meu pai estava contratando, depois já emendou um assunto sobre balanço, a ideia de abrir o capital da H&U, colocando algumas poucas ações disponíveis na bolsa e blá blá blá. As coisas ao qual eu estava habituada.

O engraçado é que a pretensão dele era me reconquistar; contudo, o almoço inteiro foi sobre trabalho, não sobre nós. Tudo bem também. Melhor assim. Seria terrível se eu tivesse de fingir mais. As condições, de todo modo, possibilitaram-me aguentar o encontro até o fim.

O pior mesmo foi passar o resto do dia ainda esperando uma palavra de Sasuke. Não deveria esperar tanto por isso, ser tão imediatista, quando na verdade não estava sendo cobrada por meu próprio posicionamento sobre a situação. Sasuke havia me deixado livre para pensar, sem cobranças, sem a determinação de um prazo específico. Era injusto da minha parte, principalmente considerando que ainda não sabia, com certeza, se estava preparada. Porém me angustiava a dúvida se, como eu, ele olhava inúmeras vezes o celular e aguardava por um sinal, ou simplesmente os pensamentos o disseram "É melhor cada um seguir seu caminho".

WonderwallWhere stories live. Discover now