I wish I was special

468 49 45
                                    

Acordei com o rosto sendo acariciado por um mar de cabelo cor-de-rosa macio e que cheirava muito bem.

— Sakura — sussurrei com um sorriso, tão logo a típica confusão do despertar foi engolida pela consciência da realidade.

Ela estava nua entre meus braços, pois nossa segunda rodada de sexo fora intensa o suficiente para praticamente fazê-la desmaiar e dormir do jeito que estava. Sua pele quente e aveludada estava ao meu completo alcance; a respiração compassada de seu sono soava aos meus ouvidos como um mantra; o perfume característico de seu corpo, tão acolhido no meu, inundava prazerosamente meu olfato. Todos os detalhes levaram-me a desejar ficar o dia inteiro no quarto. Com certeza não reclamaria se tivesse de acordar com Sakura todos os dias, tampouco me pareceria um enfado passar horas e horas na cama, apenas naquela posição confortável em que estávamos.

Apesar de realmente não querer soltá-la, depois precisei levantar. Pretendia surpreendê-la, para isso tornava-se obrigatório renunciar temporariamente do nosso pequeno ninho de conforto. Tomei um banho rápido. Mas antes de sair, separei uma camiseta grande minha e uma cueca, para que Sakura pudesse usar depois de também tomar um banho. A camisola não dava mais para ser utilizada, estava suja de mim, já que a usara para limpar as evidências no corpo feminino, que de tão mole no fim de nossa noite, sequer ousou levantar. Ela realmente parecia ter desmaiado depois do último orgasmo. Obviamente, eu estava mais do que satisfeito com isso.

Fui ao mercado e a padaria, comprei algumas coisas para o nosso café. Também passei na farmácia, a fim de encontrar os tais adesivos de nicotina. Queria passar o dia com minha hippie colorida, e como ela não gostava do meu lado fumante, pensei que deveria me livrar dele sem ser atormentado pela ânsia da abstinência. Pelo menos enquanto Sakura estivesse por perto, eu não tocaria em cigarros. Isso fazia parte do meu plano de não deixá-la escorregar pelos meus dedos, diante dos meus olhos, sem que pudesse impedir por ser quem sou. Agiria diferente por ela, pois sempre soube que não era seu homem perfeito. Sabia que, se a quisesse de verdade, eu deveria mudar.

Fiz alguns planos, estava esperançoso quanto a eles; porém, quando voltei para casa e após deixar as compras na cozinha, encontrei o quarto vazio. Só havia um bilhete.

Obrigada pela noite, foi maravilhosa. Você foi muito legal por ter me deixado ficar, por assistir filme comigo e ainda fazer pipoca.

Ps.: Peguei as roupas que separou, entendi que eram mesmo para mim. Prometo devolver em breve.

Ps2.: Será que podemos manter segredo sobre o que aconteceu, por favor? Não quero que as pessoas na ONG saibam que saímos”

Precisei sentar e reler essas frases várias vezes. Entendi na primeira, é claro. Mas gostaria que estivesse confundindo alguma coisa. Minhas opções eram acreditar em um engano ou me perguntar o que diabos fiz de errado. O pior de tudo foi que Sakura me pediu segredo, como se acreditasse que sou o tipo de cara que dorme com uma mulher e sai espalhando como comeu ou deixou de comer. Ela não confiava em mim.

Não deveria reclamar. Nenhum homem reclamaria em meu lugar. Para qualquer um, é perfeito quando uma mulher bate em sua porta atrás de sexo sem compromisso, mesmo acreditando que esse homem é o pior espécime, um provável assassino, que vai trabalhar armado, sequer sabe ler e, como se nada bastasse, ainda espalha o que faz com suas amantes na cama. Puta que pariu, admito que nunca fui dos melhores, mas Sakura conseguia me transformar em um completo cretino ordinário.

Desdenhando da minha própria desgraça, após amassar o maldito bilhete para nunca mais ter o desprazer de lê-lo, sentei no sofá e toquei algumas músicas na guitarra, enquanto fumava um baseado e pensava em coisas aleatórias.

WonderwallWhere stories live. Discover now