Persuasão

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Após a pizza com o pessoal da banda, finalmente estávamos no apartamento de Sasuke. Eu o abraçava pelas costas, beijando-lhe o pescoço enquanto ele fechava a porta.

Para minha total surpresa, um miado fez-se ouvir. Ao me virar, curiosa pelo som, vi um gatinho preto correndo em nossa direção. O bichano bonitinho esfregou-se nas pernas do Uchiha, que o colocou no colo e levou para a cozinha.

- É o Vader. Encontrei-o na rua, mexendo no lixo do prédio, e trouxe para casa. - explicou-me. Estava encantada demais para perguntar. Mas provavelmente minha expressão denunciava a curiosidade.

- Ele é muito fofinho. - Abaixei-me para acariciar-lhe o pelo negro e macio. Ele comia a ração que Sasuke acabara de derramar em seu pote. - E se veste de preto, como você - brinquei. - Por isso o chamou de Vader?

- Não. Coloquei esse nome por causa da vizinha.

- Vizinha? Não sabia que tinha uma vizinha.

- Está com ciúmes?

- Não, por que estaria? - Ergui-me, colocando-nos de frente inevitavelmente. Estava enciumada sim. Ok, tudo bem que atender um pedido para nome do animal de estimação ainda não se comparava a escrever uma música, como ele fez para mim, duas afinal; porém, que história era essa? - Por acaso você já dormiu com ela? Ou será que ela veio aqui pedir açúcar e sugeriu o nome?

Sasuke sorriu de canto, aparentemente animado por me afetar.

- Não para as duas perguntas... Se quer tanto saber, a vizinha da direita tem uma gatinha toda patricinha que se chama Padmé. Ela vive chamando a gata lá embaixo, quando descem para passear. Escuto daqui, aliás; nunca entrei na casa dela, que fique claro.

- Sei... Mas como a gatinha pode ser patricinha, Sasuke?

Ele deu de ombros, afastando-se de mim para voltar a sala. Sentou-se no sofá e tirou os sapatos. De pé, também tirei minhas sapatilhas, deixando-as jogadas por ali.

- Ela parece aquela do desenho - tornou, depois do silêncio demorado.

- Marie?

- Deve ser... O fato é que quando trouxe o gato para cá, e ele viu a gatinha do lado na varanda, ficou miando sem parar.

- E ela?

- Não deu a mínima.

- Está apaixonado, Vader? - perguntei animada com o romance, observando o gato passar correndo para a varanda. Talvez estivesse indo atrás de ver sua amada.

- Eu tinha decidido levá-lo para minha mãe, ela adora gatos. Depois pensei que seria um bom amigo para mim, já que gostamos de patricinhas mimadas que nos tratam como cachorros.

A animação sumiu de imediato. As palavras com certa carga de amargura me entristeceram. Para fingir não me importar, dediquei-me a mexer nos vários discos da estante ao lado do sofá, colada na parede. O móvel era bem interessante, tinha uma vitrola em cima e as subdivisões internas estavam preenchidas de discos e alguns livros. Tentei me distrair dando uma olhada nos títulos, porém, na realidade estava me sentindo mal.

Acho que Sasuke pretendia soar engraçado, sem entender como me deixava desconfortável ao dizer essas coisas, que eu o pisava ou que o tratava como um cachorro. Não pretendia estragar nossa noite, tão maravilhosa até então, por ficar afetada com brincadeiras, então não falei nada.

No entanto, o fato é que me machucava ser vista dessa perspectiva, porque nunca foi minha intenção magoá-lo. Se não fosse tão difícil lidar com meus próprios sentimentos e soubesse antes o quanto Sasuke gostava de mim, nunca o teria tratado com indiferença. Havia chegado a conclusões precipitadas, confundido nosso envolvimento com algo meramente sexual, ignorando seus sentimentos por mim, e agora me arrependia por ser tola a ponto de não ver que meu comportamento defensivo, mesmo sem querer, o fizera sofrer de alguma forma.

WonderwallWhere stories live. Discover now