Ciúmes

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Eu não deveria ter deixado Sakura sozinha. Não deveria ser idiota o suficiente para cometer o mesmo erro duas vezes. Ocorre-me que após alguma ideia de falsa sensatez, ela decidiria me deixar, percebendo de forma deturbada que fora precipitado aceitar vir comigo. A tardia percepção desse fato me fez voltar para o prédio a passos largos, provocando uma irritação absurda pela lentidão do elevador, que quase me fez socar o painel de botões que demoravam a obedecer meus comandos. Finalmente em casa, tive receio de abrir a porta e não encontrá-la, compreendendo que caso não a encontrasse, só pagaria por minha burrice

Não mudava o fato de eu ter sido idiota o suficiente para deixá-la sozinha por tanto tempo, livre para ponderar a respeito de tudo e voltar a sua opinião sobre ser um erro ficar comigo. No entanto, ela ainda estava lá. Ao adentrar a sala pude ver, pela porta entreaberta do quarto, que Sakura permanecia deitada em minha cama. Aliviado, deixei as compras do mercado na cozinha, antes de finalmente ir até ela com a sacola da farmácia e um copo de água.

Quando entrei, Sakura se remexeu nos lençóis, aparentemente despertando de um cochilo. Sentei-me ao seu lado, tocando-lhe o cabelo, vendo os traços do rosto e pensando quão bonita conseguia ser aquela garota. Ela abriu os olhos devagar, não se assustou com meu toque, em vez disso sorriu para mim, não mais demonstrando sentir tanta dor.

- Precisa tomar o remédio.

Com um pouco de esforço, ergueu um pouco as costas, aceitando quando coloquei o comprimido em sua boca. Ajudei-a também com a água.

- Comprou aquela outra coisa?

- Sim, comprei aquela outra coisa. - Sorri, desdenhando de sua vergonha desnecessária, e entregando o pacote em mãos.

- Posso tomar um banho? - pediu-me, imediatamente pondo-se de pé. Seus atos revelaram que minha concessão na verdade não mudaria nada.

- É claro. Mas, você consegue? Sozinha?

Um sorrisinho de quem ver segundas intenções foi minha primeira resposta. Não que eu estivesse querendo me aproveitar ao propor ajuda, porém confesso que, caso tivesse sido aceito, com certeza acabaria me aproveitando.

- Eu consigo. Não se preocupe. - disse por fim, antes de entrar no banheiro.

Estava preocupado, é claro, e teria sido mais insistente para ajudá-la; mas também é claro que guardei essa predisposição comigo. Ela acharia que eu só estava afim do sexo, meus argumentos não mudariam os fatos. De certa forma, não tenho porque dizer que sua impressão seria um completo equívoco. Se eu entrasse no banho junto, com certeza acabaria me complicando. Não conseguiria ver Sakura nua e não ficar excitado. O melhor que fiz foi separar uma tolha nova e uma roupa, depois abrindo a porta só o suficiente para alcançar a pia e deixá-los ali.

- Sasuke! - ela gritou. Os sons abafados que se seguiram denunciaram que tentava se cobrir precariamente com as mãos.

- Só estou deixando uma toalha limpa e roupas. Não quero espiar. - Defendi-me, mantendo a cabeça baixa e a mão na lateral do rosto.

Eu espiei. Após deixar as coisas na pia, confesso que olhei em direção ao box. O banheiro estava cheio de vapor, uma névoa tão densa que até ficava difícil enxergar e tão quente que minha testa suou. Não foi possível vê-la claramente, só o suficiente da pele molhada e para perceber que estava com o cabelo todo embrulhado na minha toalha, que havia se tornado uma espécie de turbante em seu cabelo. Porém, óbvio, a parte que mais me chamou atenção não foi isso.

- Não quer espiar, ein?

Não fui cínico o suficiente para fingir que não estava fazendo o que eu estava claramente fazendo.

WonderwallWhere stories live. Discover now