Estas alegrias violentas

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Aguardando ser atendido pelo tal médico que Sakura indicou, começava pensar se ela tinha razão quanto a teoria em relação a sanidade mental das pessoas que gostam de música clássica. Tocava Mozart em volume baixo. E sobre a mesinha de centro diante do sofá havia um livro específico sobre as inúmeras revistas, o título era “Arte, Clínica e Loucura”, folheando rapidamente na esperança do tempo passar, li por alto sobre pacientes que pintavam e compunham sinfonias.  

Até aí tudo bem, nunca compus uma sinfonia e além de esboçar minhas tatuagens para dar uma vaga ideia ao tatuador, não fazia nada de especial nesse campo.  Nem sabia porque exatamente estava preocupado. Não era louco. Estava alí pelos vícios. Reconhecia meus problemas com dependência, apesar de não estar tão disposto a admitir. 

— Então... — O homem olhou a ficha, após ter me indicado sentar na cadeira acolchoada. Devia ter uns 40 anos por aí. Percebi que tentava entender meu nome, talvez não soubesse a pronúncia, e poderia me apresentar sem rodeios; porém não estava afim de facilitar o trabalho dele. — Sasuke? 

— É. 

Ele ficou um tempão me olhando de um jeito estranho, como se apenas com isso pudesse me decifrar inteiramente. Não falei nada, seja lá o que esperava ouvir. 

— O que te trouxe aqui, Sasuke? 

Dei de ombros. Mas ele continuou esperando. Irritado com sua análise silenciosa, respondi finalmente: 

— Minha namorada pediu. 

— Isso é tudo? 

— Bom, é o que me trouxe aqui. 

Percebi os lenços sobre a mesa, talvez quisesse me ver contando toda minha vida nessa primeira visita, chorando e soluçando igual a provável maioria dos seus pacientes. Então passaria uns exames, recomendações para largar o vício e uns remédios, e por fim me diria para fazer terapia. Porra de terapia, pensava comigo.

— Por que ela achou que deveria me procurar? 

— Cigarros, maconha e cocaína. Cocaína nos dias chuvosos. — Achei por bem pontuar. Na minha cabeça isso significava algum controle, embora no fundo soubesse não o possuir.

— Você quer parar? 

— Preciso. — Querer eu não queria. 

— Precisa parar ou precisa da garota? 

Foi uma boa pergunta. Porém não respondi. Novamente voltamos ao silêncio. Analisei a sala por completo, sem ter nada mais interessante para fazer ou dizer. Havia uma estante de livros. Alguns eu conhecia. 

— O que faria se eu dissesse agora que tenho vontade de pular dessa janela? — Apontei para a parede atrás dele. 

— Seria a busca da morte, então perguntaria o porquê, tentaria entender seus problemas, as angústias, diria que há solução para tudo.

— Saberia disso antes mesmo de ouvir?

— Sempre há solução. É preciso força, Sasuke. E, principalmente, diria que você não está sozinho, tentaria fazê-lo lembrar pelo que vale viver: suas conquistas até aqui, planos e sonhos, as pessoas que o amam...

— Não quero pular. A não ser que fosse pela emoção da queda, sem a tragédia do impacto. 

Caso sincero, deveria ter dito: a garota acha que estou me matando, mas não quero morrer agora, estou pulando pela emoção, apesar de saber para qual fim tenho me guiado. Só quero me sentir vivo. Desligar do mundo, ainda assim, me sentir vivo. 

WonderwallWhere stories live. Discover now