Limerência

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Sasuke 

Eu sempre fui solitário, o esquisitão da família, talvez por acreditar na força da solidão e ignorante convicção de não dever precisar de ninguém: nasci sozinho e devo morrer sozinho, lutar sozinho, ser o único espectador de minhas angústias e alegrias. Para ser sincero, solitário é ainda pior que sozinho, tem a ver com angústia, não com o silêncio da reclusão a qual outrora estava acostumado no meu apartamento pouco frequentado. Porque nesse caso, mesmo em companhia ou sufocado pela multidão, persiste o vazio no peito, uma sensação intrínseca de não pertencer. 

Ficar sentado no chão da varanda, enquanto ouvia o velho e bom rock, fumava meu baseado e simplesmente observava o movimento da cortina de fumaça inebriante sobre a vista das escassas estrelas no céu poluído da cidade, e quando os pensamentos eram etéreos demais para me trazer alguma preocupação do mundo físico, já foi minha concepção de existência perfeita, cujas sensações me fariam aceitar o demônio do eterno retorno. 

No entanto, nada disso fazia sentido agora, o apego à solidão dera lugar a expectativa de voltar para casa e ter alguém esperando. Não qualquer pessoa. Ela. Somente ela, minha desgraça e minha salvação.  

Ficar em casa nos finais de semana havia se tornado uma punição entre o medo de não ouvir a campanhia tocar e a ansiedade de, ao abrir a porta, aprisioná-la comigo. De repente, precisava de Sakura para viver. Precisava da presença dela para preencher o vazio da minha existência. Somente seus sorrisos eram capazes de trazer algum conforto ao meu coração, apenas o cheiro doce e o corpo nu entre os lençóis expulsava a insônia de minha cama. Eu precisava dos beijos, toques e palavras, como se fizessem parte das necessidades essenciais a sobrevivência; precisava tê-la ao alcance dos olhos para não ser afrontado por um aperto angustiante no coração e não ceder aos pensamentos fodidos com grande potencial de me levarem à loucura.

Fodido. Não existe palavra mais adequada. Estava fodido, tanto quanto viciado. E os sinais da abstinência, tão presentes quando ficávamos separados durante a semana, eram os piores que já enfrentei. A simples ideia de perdê-la, deixava-me maluco. Era uma doença, sabia disso; porém desconhecia qualquer solução para a minha dependência, a não ser render-me e lutar, com todas as forças, para não deixar Sakura ir.

No último mês, passava pelos dias e contava as horas aguardando os encontros com Sakura, nos quais  poderia tocá-la, além de só observar de longe no trabalho sem dever me aproximar demais. Claro, nunca era completamente tranquilo entre nós, haviam as discussões resultantes dos meus ciúmes em relação ao noivo pau no cú ou ela me chamando atenção por minha boca suja; porém, a parte boa disso era que sempre nos entendíamos do nosso jeito: na cama. 

Na cama, no chão, chuveiro, sofá; em cima da mesa, da pia, dos armários; contra a porta, paredes... Nada escapava a urgência de nossos desejos.  

Não. Não sou otário, sei que Sakura ia atrás de mim justamente por isso, pelo sexo; portanto, não me via como nada além de um cara para fodê-la como o outro não fazia, o prêmio de consolação após a decepção da traição. E sinceramente não queria me importar com isso, mas não conseguia. Eu a queria inteira. 

Queria que Sakura fosse minha, sem a sombra de outro homem no caminho tentando tirá-la de mim com frequentes convites para jantar em restaurantes caros. Nessas encontros, corroía-me preso ao celular e a raiva latente pela hipótese do idiota conseguir reconquistá-la no fim. Machucava-me profundamente, ainda assim, não conseguia evitar ficar atento e analisar as fotos postadas por UzumakiN nos jantarzinhos, ele sempre fazia questão de marcá-la; embora o celular estivesse cheio de fotos dos peitos da amante e conversas sacanas. Sakura estava certa quanto ao fato de eu não ter um Instagram ou coisa do tipo, mas era ignorante aos meus meios de manter Naruto Uzumaki na mira. Eu via cada foto dos pombinhos, todo comentário sobre como formavam um belo casal e indagações da data do casamento. 

WonderwallWhere stories live. Discover now