Narrador por Werner Schunemann
Os dias se passavam, as coisas pareciam ter ficado mecanizadas e para quase tudo eu tinha que destinar uma energia acima daquela que eu podia dar. Minhas forças para prosseguir eram cada vez mais reduzidas e somente meus filhos me davam ânimo. Só eles.
A cada milésimo de segundo eu me questionava sobre a escolha que fiz, se realmente tinha tomado a decisão certa. O queria sido de nós se eu tivesse ficado? Se ao invés de pegar o voo para Porto Alegre eu tivesse levado as minhas malas para a casa dela? Eu daria qualquer coisa para não ter visto o choro dolorido que ela derramava ao me ver contar a verdade. Sua face de decepção não sai de minha mente e é como se eu pudesse ouvir suas palavras de indignação antes de abrir a porta para que eu pudesse sair. Sair para nunca mais voltar. Eu estava colhendo aquilo que plantei. Sei que Eliane deve ter sofrido ao lembrar as juras de amor que fizemos, todos os nossos planos. Nós dois padecemos, mas sei que eu a deixei frágil e logo depois tirei o chão por debaixo dela. Eu não estava lá para segurá-la. Ela desabou por minha causa.
Fiquei anos preso junto às lembranças, saía com frequência para lugares com espaço suficiente para poder pensar, refletir sobre a minha vida, sobre o meu casamento e os meus filhos e por diversas vezes, fui à praia. Entrava no Rio Grande e me afastava da costa. Chorava desesperado, relembrando-me de Eliane, enquanto apertava contra o peito o penduricalho que ela havia me dado de presente. Cada canto do barco havia sido batizado com o nosso amor. Eu não consigo esquecer um detalhe sequer de nossos passeios. Ela adora este barco.
Os primeiros meses foram loucamente terríveis, algumas vezes meus filhos e a Tânia me perguntavam o que estava acontecendo comigo, mas eu apenas alegava que era o cansaço devido a distância do meu trabalho para a casa, entretanto minha esposa sabia o real motivo. Conversamos diversas vezes, ela sempre me motivava e eu estava disposto a ouvir seus conselhos porque eles de certa forma me aliviavam, mesmo que por pouco tempo ou mesmo alguns minutos. E era esse tempo que eu tinha para voltar à realidade e pensar que eu podia superar a falta que Eliane me fazia.
Viajei com Tânia e meus filhos para vários países, mas quem eu queria não estava lá. Parecia que os lugares me sufocavam, e essa sensação tornou-se frequente. Com muita luta interna é que as vezes eu conseguia curtir o momento em família, em paz. Só que esses momentos eram raros, pois bastava ligar a televisão ou ver alguma matéria sobre ela que o passado voltava e me corroía por dentro. Me sentia a pior das pessoas por ter causado tamanha dor. Em momentos de desespero discava seu número em um celular qualquer, só para ouvir sua voz, mas desistia instantaneamente antes que ela pudesse atender.
O meu casamento, como já era de se esperar, aos poucos foi se desgastando. Tânia tinhas seus projetos e eu os meus trabalhos, a distância entre nós, a correria do cotidiano e principalmente a escassez de nossos sentimentos mais íntimos, contribuiu para o término do nosso casamento.
O divórcio era a melhor solução para nós dois. Nossos filhos tinham crescido, Arthur já estava na faculdade e Dagui, a mais velha, estava terminando a graduação nos Estados Unidos. Então eu voltei à morar sozinho no Rio de Janeiro.
Andar novamente pelas ruas do bairro do Recreio e na orla de Ipanema me fez despertar um sentimento que estava ilhado, então me vi perdido. Tinha muitas coisas, exceto a felicidade. Entrei em contato com alguns amigos e descobri que ela estava isolada em Itanhangá, mas eu não tinha coragem ir atrás e bagunçar sua vida novamente.
Com a vida normalizando aos poucos, fui buscando outras ocupações, e durante a correria do meu trabalho, avistei Eliane algumas vezes passando pelo Projac. Em nenhuma dessas ocasiões tive coragem de falar com ela. Eu me acovardei.
Agora, já maduros, sem ninguém para nos impedir ou atrapalhar, quem sabe possamos nos entender. As redes sociais fizeram com que essa coragem voltasse, para um possível contato. Foram dez anos, sem o perfume, sem o sorriso, sem seus olhos verdes. Sem ela. Que falta me fez essa mulher. É muito tempo para se afastar de quem se ama. Me será que com o festival de gramado e as novas novelas que vamos iniciar no mesmo período, poderei resgatar o que um dia deixei para atrás?
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Não se esqueça de mim
Fanfiction"Dez anos se passaram e muita coisa mudou e o que ficou na lembrança foram as paixões, declarações e promessas, mas será que tempo conseguiu aplacar essa história? Será que um novo encontro poderia resgatar o que um dia foi chamado de amor?" E nessa...