De volta a Gramado

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Narrado por Werner Schünemann

Sempre adorei participar do Festival de cinema de Gramado. Obviamente por me interessar em conhecer as novas produções nacionais e também por ser um evento importante que traz muito reconhecimento para o meu Estado. Mas principalmente, pelas lembranças que esse lugar me trazia. Depois de 2003, visitar Gramado, passou a ser especial. Era impossível estar naquela terra e não me lembrar de Eliane. Estava no táxi rodando a cidade e o momento de nossa despedida ali passou imediatamente pela minha cabeça quando o carro parou no farol vermelho em frente à praça onde nos separamos pela primeira vez. Tantos anos se passaram mas tudo que dizia respeito à Eliane Giardini, continuava vivo em mim. A distração dos pensamentos me fez demorar para perceber o telefone vibrar em minha mão, me dei conta e vi Larissa me ligando.

- Alô? - atendi prontamente.

- Oi querido. Já está em Gramado? - perguntou séria.

- Cheguei há pouco. Estou indo para o hotel. Aconteceu alguma coisa? - perguntei.

- Na verdade sim. Já não aguento mais essas mensagens. Diz a verdade pra mim. Você está me enganando? - mudou o tom de voz.

- Do que você está falando? - me irritei. - Você está viajando há dias, mal me dá satisfação e agora estou recebendo mensagens constantemente ainda sobre o assunto de você estar fazendo coisas erradas - desabafou.

- Larissa, eu estou trabalhando. Você precisa entender! Fiz diversas publicidades nas cidades do interior, no meu tempo livre precisei ver as coisas da nova novela e agora estou me preparando para o festival. Se você não tiver maturidade pra lidar com isso, vai ficar complicado! - retruquei.

- Como tu quer que eu aguente isso? É muita pressão. Falam mal de ti pra mim, falam mal do nosso relacionamento e agora que você me trai - respondeu com a voz embargada.

- Você sabe que tem gente que não gosta de mim e não vai sossegar enquanto não me afetarem, por isso, ignora, bloqueia. Não quero saber desse assunto - reclamei.

- Tudo bem, vou tentar - falou mais calma.

- Preciso desligar. Cheguei no hotel e vou ensaiar para a apresentação - expliquei.

- Ok. Me liga depois. Bom trabalho - falou carinhosa.

- Obrigada. Beijos - desliguei e depois de pegar minha pequena mala, fui fazer o check in no hotel. Já na entrada dei de cara com vários rostos conhecidos e cumprimentei a todos. Nessa época a cidade ficava lotada e o mesmo acontecia com os hotéis. Eu sabia que Eliane também estava hospedada ali e a procurava com os olhos em cada lugar que passava. Entreguei meu documento para a recepcionista e enquanto ela checava meu quarto, perguntei.

- Tu sabe em qual andar a equipe de A fera na selva está hospedada? Queria falar com o Paulo Betti - perguntei simpático.

- Ele desceu agora pouco com a namorada, se não me falha a memória estão no segundo andar - a moça me respondeu olhando para o computador.

- Obrigado! Vou procura-lo - sorri e peguei minha chave cartão. Eu estava hospedado no quarto andar e a cada passo que eu dava em direção à minha suíte, minha curiosidade por ver Eliane de perto aumentava. Fui de escada até o segundo andar. Dei uma volta pelo corredor e não havia ninguém. Me senti ridículo por estar assim e resolvi sair dali. Cheguei no meu quarto e deixei minhas malas. Estava cansado, tomei um banho e relaxei alguns minutos. Quando deu o horário, me dirigi ao Palácio dos Festivais que ficava ali perto e incoscientemente procurei por Eliane no tapete vermelho. Em vão, pois não a encontrei. A noite estava animada, Dira Paes iria receber o oscarito, outra atriz e cantora receberia o kikito de diamante. Seria uma noite esplendorosa. Não é possível que ela perderia isso. Já estava ficando louco com esses pensamentos e resolvir esquecer. Em poucos minutos estaria na frente de um teatro lotado e precisava me concentrar para que tudo desse certo. Durante a apresentação procurei por cada rosto na plateia, mas não a encontrei. Sai para tomar um drink com meus colegas e não a vi em nenhum barzinho ali perto. Tão pouco no hall do hotel ou no café da manhã do outro dia, que por sinal era o dia do festival. Passei o dia ansioso, o evento seria transmitido ao vivo e apesar de estar acostumado a participar, fiquei o dia todo com um frio na barriga.

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