Fuiste mía

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Narrado por Werner Schünemann

As gravações já tinham finalizado no estúdio, após me despedir dos colegas e obter algumas orientações com Jayme, decidi ir para casa. Não queria demorar mais e ter que enfrentar o trânsito caótico do Rio de Janeiro às sextas feiras. Já passava das seis da tarde e, por mais um dia, eu iria amargar o vazio do meu apartamento. Eu gosto de estar sozinho às vezes, porém quando isso vem acompanhado do sentimento de solidão não é um bom sinal. Logo para mim, que sempre fui extremamente simples e lógico com minhas emoções. Estar sozinho e me sentir solitário são coisas distintas, e nunca surgiram de uma só vez em minha vida, mas desde que voltei a me encontrar com Eliane estes momentos tem sido cada vez mais difíceis de suportar. Depois de nosso último encontro no Petrópolis, da cena lastimável que Leonardo fez no estacionamento do hospital e principalmente, da mensagem onde ela dizia que preferia ficar só, intui que este espaço entre nós era definitivo. Eu precisava seguir em frente e tentar aos poucos refazer a minha vida.

Eu tentei de tudo, mesmo com os erros do passado pesando sobre meus ombros, tirando-me toda a razão. Tentei mostrar a ela que posso fazê-la feliz, que ainda podemos dar certo, mas sua insegurança e indecisão nos fazem dar murros em ponta de faca. Quando finalmente achei que iríamos ficar bem, ela recuou, deixando-me confuso.

No trajeto de retorno para casa, refletia mil coisas à medida em que dirigia, recordava cada imagem dela gravada na minha memória, nossos momentos íntimos e especialmente de seu sorriso largo para mim, os olhos dela ficam ainda mais verdes quando sorri. Se tornam cintilantes.

Para não ficar mais nesta angústia e após muito pensar, optei em sair da cidade por um fim de semana. Preciso espairecer, colocar as ideias no lugar e aceitar que Eliane não me quer mais, que é bem provável que não se relacione com ninguém agora. Assim que cheguei em casa, coloquei minha pasta com os textos dos próximos capítulos em cima do sofá e fui direto para o banho. O silêncio absurdo foi uma tortura, a ducha quente que me lavava trazia uma espécie de relaxamento para o meu corpo. Fiquei debaixo da àgua por uns vinte minutos, esquecendo completamente do tempo. Quando saí, coloquei apenas uma cueca box e vesti um hobby. Direcionei-me até a cozinha, estava com fome, mas constatei que não havia nada. Passei a semana inteira comendo em restaurantes no almoço e no jantar, nem mesmo a compra do mês eu fiz. Liguei para uma cantina italiana próximo e fiz meu pedido. Em seguida, abri uma garrafa de vinho e me permiti escutar algumas músicas no rádio para relaxar enquanto esperava a comida e também aproveitei para arrumar a mala. A canção invadia meus ouvidos numa melodia lenta e nostálgica. Deixei a taça de vinho em cima da cômoda e separei as roupas que precisava, peguei outras coisas que achei necessárias e depois de guardá-las, fechei a mala. Em uma das gavetas encontrei algumas fotos antigas que tiramos juntos, olhei fixamente para cada uma delas e lembrei do dia exato em que foram tiradas. Decidi guardá-las para não sofrer mais. Segui em direção à sala e deixei as coisas num canto perto do sofá. Sentei recostando minha cabeça e passei a saborear a bebida com mais calma. A imagem de Eliane não saia da minha cabeça, fechava meus olhos e padecia por minhas tentativas frustradas de conquistar sua confiança. Respirei pesadamente ao escutar a letra da música que tocava e que tinha tudo a ver conosco. Comecei a cantarolar baixinho: “Onde você estiver não se esqueça de mim. Mesmo que exista outro amor que te faça feliz. Se resta em sua lembrança um pouco do muito que eu te quis, onde você estiver não se esqueça de mim”. Eu precisava esquecê-la, caso contrário não iria ficar bem e a vida não teria mais sentido. Esta viagem seria essencial para acertar a minha vida.

Entre um gole do vinho e um trecho da musica eu suspirava ao imaginar que tudo teve que acabar assim. Quando a campainha tocou, despertei do transe hipnótico e diminuí o volume do som. Fui até a porta atender o entregador com a comida que eu havia pedido. Contudo, minha surpresa foi clara e evidente ao abrir a porta. Fiquei um bom tempo paralisado e em silêncio. Estava incrédulo e chocado ao mesmo tempo e nenhuma palavra saia de minha boca. Não sabia se ficava feliz ou intrigado.

Não se esqueça de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora