Muito Bela, Eliane !

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Narrado por Werner Schünemann

Estava distraído na varanda de casa, olhei para o mar e vi um barco ao longe, imediatamente me remeteu às vezes en que levei Eliane para o Rio Grande. Sorri sozinho com minhas lembranças, até a areia me recordava os momentos felizes, da primeira vez que eu disse “eu te amo.” Ainda me pergunto o que estava fazendo naquele momento e de como as coisas chegaram àquele ponto. A forma com que acabou foi a pior possível, eu fiz o certo, algo dizia para mim que era melhor solução, mas porque não fui feliz nessa atitude?

A brisa batia em meu rosto e por alguns segundos senti o perfume da Eliane, despertei de minhas lembranças quando lembrei do nosso último abraço, fui tão infeliz quanto ela naquela partida. Me senti isolado no tempo que passei em Porto Alegre e nas vezes em que voltei para o Rio, tudo era estranho. Passava em frente ao antigo apartamento de Eliane e algumas vezes a avistei de longe. Pensei diversas vezes em voltar e pedir desculpas por minha decisão, o divórcio tinha sido a melhor solução naquele momento.

Hoje, meus filhos são adultos e já trilham seus próprios caminhos, nada me prende. Tanta coisa tinha mudado na minha vida e mesmo assim eu não conseguia esquecê-la. Fui até a parte lateral da varanda e peguei o penduricalho que a Eliane tinha me dado, o admirei por longos minutos.

- Ah você está aí? - olhei para atrás e sorri.

- Oi Larissa, estava distraído - ela se aproximou e sorriu.

- Você sempre está distraído por aqui, várias vezes eu já te flagrei olhando para esse penduricalho e olhando para o mar, mas nunca me contou o motivo - coloquei o penduricalho no lugar e me aproximei dela.

- Lembranças, os meus filhos cresceram por aqui, e o penduricalho foi tudo o que restou do Rio Grande - ela acariciou o meu cabelo e me deu um selinho e se direcionou para o interior do apartamento.

- Tudo bem! Vamos almoçar, daqui a pouco eu preciso ir para a Ancine - balancei a cabeça concordando, ela entrou e eu ainda olhei por alguns segundos para areia.

Almoçamos e ela contou como estava feliz com as aulas, tirei algumas dúvidas e ficamos conversando sobre filmes e atores. Assim que ela saiu, peguei meu celular e vi que tinha uma notificação no Facebook da Eliane, ela tinha curtido o meu comentário, me sentia culpado com a frieza dela, o tempo não conseguiu aplacar as mágoas.

Narrador por Eliane Giardini

As conversas com Werner, pelo Facebook, mexeram muito comigo, era difícil esquecer alguém que esteve tão próximo e intimamente de mim. As mensagens que trocamos me fez ter a certeza de que poderia lidar de forma madura com o que passamos, mas os convites para nos encontrarmos, iam além do meu limite. Quando olhei a notificação em meu celular, vi que era o seu comentário, com uma frase que me fez despertar sentimentos e lembranças que passei anos tentando esquecer.

“Muito Bela, Eliane.” Essas palavras entraram de forma voraz no meu camarim a quatorze anos atrás, no frio do Rio Grande do Sul, onde pela primeira vez nos entregamo. Apesar de termos um acordo de pouco envolvimento na época, eu sabia internamente que ele não seria passageiro. “Muito Bela, Eliane.” Foi frase que ele disse quando estávamos apaixonados, trocando carícias, declarações e promessas em seu barco, o “Rio Grande.” Tenho a certeza que assim como eu, o Werner tem ciência do que existiu por detrás desta simples frase, não escreveu apenas como elogio a uma foto, mas sim, como uma forma de despertar sentimentos que eu sei que ele ainda carrega.

Curti seu comentário e fiquei sentada numa cadeira olhando para piscina, pensando nele, nos momentos bons, no que já passamos e decidi dar uma chance para que pudéssemos nos acertar e conversar pessoalmente. Eu estaria mentindo para mim mesma se dissesse que não estava com saudades daquela voz rouca e daquele olhar penetrante, azul.

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