cama

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Mia volta a respirar. Aos poucos, vai recobrando a consciência.

Ainda estou viva?, ela se perguntava, sem acreditar. Se lembrava dos seus últimos momentos de consciência antes de sufocar naquele poço cheio de fezes, se lembrava da agonia, do fedor, do desespero, mas também se lembrava da cena que havia visto.

Aquela garota, era Alice? Ela era minha amiga?, seus pensamentos acendiam. Nessa bagunça de pensamentos, ela percebe que não sabia onde estava, Mia se levanta num salto, talvez rápido demais, já que a vertigem toma conta do seu corpo.

Aos poucos, vai recobrando o equilíbrio e a noção de espaço, o lugar era escuro, mas uma tímida luz a sua frente começava a ganhar espaço naquele crepúsculo.

Seus olhos já estavam se acostumando ao local e ela já podia ver algumas formas familiares, um armário, uma pequena poltrona, os olhos de Mia foram explorando aquele cômodo até se separar com um criado-mudo, acima dele, um abajur, que Mia, prontamente, vai na direção para o acender.

Ao ligar o abajur, a luz que saiu do objeto era tão forte que iluminou todo aquele local, fazendo Mia ver, finalmente, onde realmente estava.

- Estou em outro quarto, perfeito - ela diz, com ironia.

Era um quarto grande e chique, parecendo o quarto de um rei, com uma cama grande de casal, um armário com entalhes detalhadíssimos de pessoas, cavalos, árvores e mais o que a criatividade do escultor permitiu; uma mesa de chá com 4 cadeiras no centro e várias outras coisas que ela ainda não conseguia distinguir. O chão era xadrez igual ao salão do baile e as paredes eram de uma cor salmão, com meia dúzia de quadros que não faziam sentido.

-E porque não me colocaram na cama?- reclama a garota, ao olhar novamente a bela cama e perceber que foi colocada no chão.

-Porque você estava suja de fezes, garota-  uma voz rouca responde de um canto do quarto, atrás de Mia.

Em um salto assustado, Mia se vira na direção da voz, ela se depara com uma figura inusitada, era um velhinho, com uma barba branca comprida, chegando aos pés, usava um pijama azul, estava sentado numa cadeira ao canto do quarto.

- Quem é você? - ela pergunta, em alerta.

- Que grosseria, nem recebi um agradecimento por ter salvo a sua vida - responde o velho, levantando da cadeira e andando lentamente em direção a cama, Mia o acompanhava com os olhos.

- Quando me disser quem você é, talvez eu agradeça.

- Bom - ele senta na cama - me chamo Jojo.

Mia tenta segurar o riso.

- Tá falando sério? Você acha que eu vou acreditar que alguém tenha um nome ridículo desses?

- Ei, não precisa ofender, acredite no que quiser - ele deita na cama, dá um suspiro de alívio quando sua cabeça encosta no travesseiro - eu já fiz mais do que devia quando salvei você, pode ir embora.

Uma grande passagem se forma na parede atrás de Mia, um corredor escuro, mas ao final,a uns 40 metros, pequenos raios de claridade. Mia se dirige em direção ao escuro corredor.

- Mas se você for embora agora, você provavelmente vai morrer - diz o velho deitado confortavelmente na sua cama de rei.

Mia estava com o primeiro pé fora do quarto, mas ao ouvir essas palavras, parou e ficou imóvel, realmente não sabia se devia dar o benefício da dúvida ao velho sonolento, mesmo sabendo que ele não devia ser tão bonzinho assim.

Não custa nada tentar conseguir informações dele, só tenho que tomar muito cuidado, pensa a pequena ruiva.

Ela se vira, vê que o idoso senhor está quase dormindo, olhando para o teto do quarto, com suas pálpebras se fechando lentamente. Com rapidez, Mia vai em direção a cama, dá tapinhas em seus pés para que ele acorde.

- Misericórdia do céu!!! - ele diz, num susto - Já é a minha hora?

- Eu acho que não - responde a menina.

- Ah, olá, jovem moça - ele diz, esfregando os olhos.

Mia puxa a cadeira e se assenta à frente da cama.

- Tá bom Jojo, me conta tudo o que eu preciso saber.

salute! (Eu Voltei!!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora