água

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A tontura não deixa Alice. Desde quando chegou naquele lugar assustador e mal iluminado, ela não conseguia ficar em pé sem cair ou vomitar, aos poucos recupera a lucidez, mas ainda não tinha forças para se levantar. Seus olhos já se acostumaram ao ambiente frio, mas ainda não via a saída, as paredes de concreto pareciam blocos empilhados, então existiam vários retângulos na parede que se assemelhavam a portas, mas ela não conseguia se levantar para investigar, tampouco ter forças para empurrar algum desses blocos, caso algum se revelasse ser realmente uma saída.

"When... the night...has come, and...the land is dark...", ela canta com o que resta de suas forças, a última vez que havia escutado essa música, foi quando sua mãe havia cantado para ela, dias antes de morrer, aquele era o momento favorito da sua vida e daria tudo para voltar para aquele dia. Sua garganta doía, estava completamente seca, ela não tinha noção de quanto tempo estava presa naquele lugar, então não sabia se sua sede era de horas ou de dias, mas mesmo assim, ela cantava, sentia no âmago de seu ser que devia cantar, até perder completamente a voz.

Ela deita no chão, olha para o teto, com as lâmpadas fracas que piscam constantemente, deixando a visão turva e borrada.

Talvez, eu já esteja morta e esse seja o inferno, ela pensa, sem esperança. O pânico de estar confinada sumiu a tempos, não ligava mais para o porquê dela estar naquele lugar ou o que iria acontecer com ela depois, já se sentia morta, suas roupas estavam sujas, estava deitada ao lado de sua própria urina, não se importava mais com o mal cheiro ou com a imundície.

"And darling, darling...stand...by me...", ela ainda cantava, cada vez mais baixo. Seus sentidos estavam tão afetados que ela nem percebeu os dois homens mascarados que tinham acabado de entrar naquele aposento. Eles estavam vestindo um macacão preto, com luvas e botas de borracha, a máscara era de pano, cobrindo todo o rosto, descendo até o pescoço. Um dos homens foi na direção de Alice e a levantou, enquanto o outro posicionava uma cadeira no meio da sala.

O homem ajudou Alice a sentar na cadeira, posicionada para a frente da porta, que estava disfarçada de um dos grandes blocos da parede.

Eu sabia que esse bloco era a porta, ela pensa, dando um pequeno e exausto sorriso. Ela vira seu rosto para o espelho e vê o seu reflexo, sua cara estava suja e oleosa, seus cabelos imundos e duros, seu lindo vestido, ainda sujo da queda que levou na floresta, com mais uma camada extra de poeira do chão da sala.

Alice aponta para o próprio reflexo.

"Acho que esqueci de pentear uma parte do cabelo", ela começa a rir sozinha. Os dois homens saem da sala, deixando a porta aberta, Alice tenta olhar para o lado de fora, mas apenas vê a escuridão, ela tenta se levantar pra correr, mas suas pernas não lhe obedecem, a fazendo cair de frente no chão, machucando seus dois joelhos.

Alice começa a chorar com dor, os dois homens voltam a sala, um com um balde de água e o outro com um esfregão, eles ignoram Alice no chão e vão direto para o canto sujo de fezes e urina. Um deles joga a água enquanto o outro começa a esfregar o chão imundo. Vendo toda aquela água no chão, Alice usa todas as suas forças para se arrastar até o piso molhado e matar a sua sede. Ela ignora a sua dor, engatinha de joelhos o mais rápido que conseguia, deixando um rastro do joelho ensanguentado no concreto, ela estava determinada a beber a água daquele chão, mesmo sendo uma água suja de restos.

Assim que Alice consegue tocar na água, duas mãos enormes seguram sua cintura e a puxa violentamente, arranhando toda a sua perna. O homem de máscara a coloca novamente na cadeira. Ele começa a tentar rasgar a roupa de Alice, ela tenta lutar, mas não tem mais forças.

Ele deixa Alice completamente nua na cadeira e sai novamente da sala com o balde, Alice chora, cobrindo seu corpo sujo e machucado com as mãos, sentindo as dores dos arranhões e cortes,  ela sabia agora que ainda viva, mas em breve desejaria estar morta.

salute! (Eu Voltei!!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora