01 | Seja Uma Boa Esposa!

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Antes de começar a ler ''Poeira Cósmica'', é de suma importância que leia estes avisos prévios:

 A história se passa em 1903 e Mina mora no campo, então, por ser uma época tão conservadora e que as mulheres eram submissas aos maridos, vamos presenciar algumas cenas de machismo e outras hipocrisias que Mina pode concordar. Isso não significa que defendo este tipo de ato, muito pelo contrário, mas devo ser honesta sobre a época da história;

 Os diálogos são mais formais justamente por causa da época;

 Instrumentos musicais e outros objetos que não existiam em 1903 podem ser citados, portanto considerem que o universo dessa história é alternativo;

 Antes de fazer qualquer comentário ruim, lembre do ano em que esse romance se passa e se pergunte se vale a pena comentar, não irei tolerar ignorâncias;

↬ Caso se interessar em ter uma maior imersão enquanto lê, a playlist da história está na bio do meu perfil ou você pode pesquisar pelo meu user (fleursjeong) no Spotify.

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A silhueta em frente ao espelho constantemente se movia para observar cada detalhe do longo vestido. Ali, Myoui Mina deslizava suas mãos magras e pálidas por todo o comprimento da saia azul marinho que se encaixava perfeitamente em suas pernas, juntamente com o espartilho da mesma cor excessivamente apertado em sua cintura e as mangas bufantes brancas que escondiam uma pequena parte de seus braços. Em sua cabeça, tinha um chapéu branco com uma fita azul caída e uma flor posicionada em um dos lados. Ademais, em seu peito havia um grande crucifixo marrom pendurado em seu pescoço por uma corda fina.

Após ajeitar o longo vestido em seu corpo alto e magro para que não parecesse amassado, ela caminhou até a grande mesa de madeira no centro da cozinha, há alguns metros da onde se encontrava o espelho, e alcançou a lamparina acesa, que rangeu quando foi movida pela mão de Mina. O metal já estava um tanto quanto velho e enferrujado, mas ainda não era uma necessidade trocar aquele objeto, afinal, teria que ir até a cidade e demoraria algumas horas apenas para comprar outro daquele. Mina graciosamente caminhou de volta ao espelho, erguendo a lamparina na altura de seus ombros e sorrindo sem mostrar os dentes quando se observou melhor.

Aquele era apenas um dos tantos vestidos que tinha e podia comprar, mas aquele em especial era um dos mais bonitos e caros que seu marido comprou, este é claro, em comemoração aos três anos de matrimônio completados em 1903, ou seja, aquele mesmo ano.

– Por que há tanta necessidade em se olhar? Para que tanta vaidade, amor meu? – escutou a voz grossa ecoar há alguns metros atrás de si. Quando se virou, esticando a lamparina um pouco mais para frente para que a silhueta se tornasse alguém de carne e osso, percebeu que seu marido já estava vestido para a grande festa que iriam dali algumas horas, e ele realmente ficava charmoso quando trajava qualquer roupa social que não fosse o uniforme de militar. Agora, ele tinha o braço levantado e terminava de ajeitar o relógio de ouro em seu pulso.

– Para nada, Ezequiel. Estou apenas conferindo se meu vestido está adequado para tal ocasião. Tenho certeza que iria odiar se algum parente seu comentasse que tem uma esposa desajeitada.

– Está certa! – Ele abaixou o braço e a manga de seu terno também azul marinho. Em seguida, se aproximou de Mina e posicionou as mãos na cintura fina da mulher, agora ainda mais fina devido ao espartilho extremamente estreito naquela região. – Esse é um dos nossos primeiros fins de semana juntos depois de quase um ano, devemos aproveitar, certo? – Ele olhou no fundo dos olhos pequenos de sua esposa.

Diferente de si – que possuía grandes e intensas orbes – Mina tinha olhos pequenos e puxados, resultado de sua família de origem japonesa que havia chegado ao Brasil quando ela ainda era criança. Ezequiel achava que todas as características de Mina que remetiam ao oriente eram extremamente bonitas, principalmente os olhos diferentes que lembravam 'a terra do sol nascente'. As vezes, se incomodava com a quantidade de marcas que Mina possuía por todo seu rosto, as denominadas pintinhas, e sempre dizia que ela deveria fazer algo para apaga-las, o que deixava Mina triste, mas a mulher achava que aquilo não era um grande problema.

Poeira Cósmica | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora