Sadie vai à minha casa sempre que possível para estudar, sem que meus pais saibam.
Meu professor não se incomoda, já que o salário dele continua o mesmo e mais uma pessoa não faz diferença alguma.
Confesso que gosto da companhia dela de vez em quando, acho que me sinto um pouco menos solitário com a minha vida monótona.
Nada que seja tão relevante, mas posso dizer que somos colegas de estudos.
Pelo menos é isso que eu acho.
- Eu já te disse, Finn! Não se usa crase antes de palavras masculinas! Se você não aceita nem a regra básica, como pretende aprender a usar? - Sadie diz, impaciente com minha discórdia.
- Mas deveria!
- E por quê?
- Porque se com palavras femininas é permitido, deveria ser o mesmo com as masculinas! Vocês são melhores que nós em algum ponto por acaso?
- Você está brincando?! - ela aumenta o tom de voz, como se o que eu tivesse dito fosse uma grande ofensa. - Como você é capaz de encaixar o machismo até mesmo no português?!
- Não é machismo! Esse é meu ponto de vista! Liberdade de expressão você conhece?
- Seu ponto de vista não se encaixa com a norma padrão e não influencia em absolutamente nada. Aceite isso. - diz, jogando uma almofada na minha cara.
- Tudo bem, cabeça de fogo. Não vou discutir com que está certa.
- Obrigada. - ela sorriu, observando alguns móveis do meu quarto, até seus olhos se encontrarem com meu instrumento musical. - Você diz que toca violão. Compõe músicas também?
- Não. Ninguém gosta de música.
- Bom, eu gosto. - a mesma vira o rosto para o lado, sem se importar com mais um de seus traços nada usuais.
- É, eu também. Mas não componho. Não tenho criatividade e ninguém nem estaria disposto a ouvir.
- Eu estaria. Bom, talvez você descubra um novo talento. Se observar as coisas à sua volta, talvez consiga encontrar uma inspiração.
- É, talvez. - concordei, indiferente.
- Bom, eu tenho que ir. - ela se levantou da minha cama e pegou alguns livros que havia trazido. - Minha mãe não deve demorar a chegar.
- Entendo. - digo, vendo a garota ameaçar se retirar do cômodo. - Espera aí! - chamo sua atenção, e a mesma gira os calcanhares, voltando a olhar para mim.
- O quê?
Arrasto minha cama para longe da parede e retiro um piso de madeira meio desencaixado do chão, pescando o que havia dentro do buraco não tão fundo.
Vou em direção a ruiva, que me observava com uma expressão curiosa.
- Romeu e Julieta. - digo, entendendo a mão para que ela pegasse o livro.
- O-onde conseguiu isso?! - ela indaga, com os olhos quase pulando para fora. - Foram vendidos poucos desses livros na época em que ainda era permitido e todas as outras cópias foram queimadas!
- Era da minha avó. Só tenho porque ela pediu pra eu guardar. Sei que nunca vou ler, mas ainda deixo aqui, apodrecendo. Talvez você cuide melhor dele. - coloco o livro nas mãos dela, vendo que a mesma não se manifestaria para pegar.
- Meu Deus!!! - sorriu, dando pulinhos. - Você é incrível!
Em um ato repentino, ela simplesmente me prendeu em um abraço, o que me deixou imóvel, fazendo com que a ruiva se afastasse rapidamente.
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Smile | Fadie
Hayran KurguUma história onde Finn Wolfhard não sabe o conceito de felicidade, e Sadie Sink é uma garota sorridente.