Louise Hassell mora em uma pequena cidade dominada pela tecnologia. Desde cedo, tem sonhos com uma garota misteriosa e um lugar que nunca visitou.
Aysel Saizelgi é a garota dos sonhos de Louise. No entanto, ela mora em outro universo: Andenworld, um...
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A minha mão era aquecida pela palma quente da mão de meu pai, e eu a segurava firmemente enquanto observávamos, em pé e lado a lado, as rosas caindo, uma a uma, sobre a madeira polida.
As pessoas pairavam sobre a abertura aberta na terra, jogando sobre ela rosas brancas que caíam sobre o caixão. A cidade sofria uma perda; mais uma entre milhares, mas sempre tem quem se importe, ou quem finge se importar.
Acontece que Elorai era querida por quase todas as pessoas que ela conhecia, pois, segundo o meu pai, ela emanava positividade para todos. Ele também me disse que ela era uma mulher muito inteligente. Talvez ele tenha dito essas coisas apenas para me tranquilizar e para que eu tenha uma boa imagem formada de Elorai, afinal ela era a minha mãe e morreu antes que eu tivesse a chance de crescer com ela para conhecê-la melhor.
Naquela tarde, o cemitério parecia um lugar carregado de energias ruins, e isso afetava todas as pessoas. Elas estavam tristes, e papai estava chorando. Eu também não me sentia bem, mas eu não chorei naquele dia. E enquanto as rosas caíam pela abertura no solo, eu estava atenta na figura que se aproximava entre a multidão.
Ela me encarou com seus olhos castanhos e sorriu para mim com seus lábios carnudos. Um sorriso entre uma multidão de lágrimas e lamentos. Eu sorri de volta, observando cada detalhe da desconhecida: desde sua aparência jovem – mas ainda assim alguns anos mais velha do que eu – até sua pele escura, seus cabelos castanhos e cacheados, e as covinhas que se formavam diante do seu sorriso.
Em suas mãos, ela segurava uma gérbera azul. Eu a observei jogá-la para o interior da cova cavada na terra, e a flor caiu em cima do caixão onde o corpo de minha mãe descansava. Eu me inclinei para observar mais de perto, uma gérbera azul em meio a incontáveis rosas brancas, e antes que meu pai me puxasse de volta para o teu lado, uma gota de sangue surgiu entre as pétalas de uma das flores.
Rosas brancas sendo tingidas com vermelho.
— Papai — eu disse —, as rosas estão sangrando.
Eu o encarei, e ele pairava sobre meu corpo pequeno e jovem, e enquanto eu olhava para cima para encará-lo, via também atrás dele o céu nublado daquela tarde fria de inverno em Londres.
Ele olhou de volta para mim, seus olhos estavam molhados das lágrimas, e disse:
— Rosas não sangram, Louise.
O sangue havia caído de minhas narinas. Meu nariz estava sangrando sem motivo algum. Papai disse que devia ser o frio, e limpou o sangue com um único dedo.
Quando olhei novamente para onde estava a garota do outro lado da cova, ela havia desaparecido. A gérbera também não estava mais ali.
Foi a primeira vez que eu a vi. Não iria ser a última.
Eu voltei a ter as visões dias depois, e na semana seguinte, e elas continuaram pelos anos que se seguiram. Visões dessa garota, de lugares que nunca visitei e de outras pessoas que nunca cheguei a ver, apareciam o tempo todo. Lembranças de coisas que nunca aconteceram de fato. Sonhos acompanhados de uma sensação intensa de se estar sendo atraída para algo ou algum lugar.