VI. Caçaya da punição

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Capítulo 6

DEPOIS DAQUELA CONVERSA meu tio pareceu ter se arrependido de ter me contado tudo aquilo, visto que a sua expressão sóbria perdurou pelo resto do dia, denotando traços de uma pessoa completamente magoada. Vai ver por que todo aquele assunto mexeu com o lado emocional dele e ele detestava isso. Odiava ter sentimentos, e para falar a verdade nós tínhamos mais coisas em comum do que eu realmente imaginava.

Me sentei diante à lareira da sala e então pude sentir não só o aroma das madeiras de abeto, mas todo aquele calor proveniente das brasas. Era aconchegante demais para um alcoólatra da meia idade - reparei, tentando raciocinar quem poderia estar por trás de toda aquela decoração.

Josefa estava comendo um prato repleto de pedaços de pão, quando se assentou na outra poltrona, bem ao meu lado. Me dando a grande chance de fazer minha pergunta:

- Josefa? Quem foi responsável pela decoração daqui?

Ela fixou o olhar no meu rosto, antes de desviar a atenção para uma pintura pendurada bem ao lado esquerdo da chaminé: um quadro inteiramente escarlate impossível de não ser notado. Quando voltou a atenção para mim, respondeu em desgosto:

- Ela... A Elisabeth... Ela foi a responsável pela tamanha luxúria dessa casa.

Desviei o olhar para Josefa, que acabara de colocar mais pedaços de pães na boca, mas antes que eu continuasse, ela reivindicou a palavra:

- Mas muita calma, Órion! Eu sou apenas uma governanta. Não posso ficar lhe oferecendo informações, assim... - Você sabe muito bem como é o seu tio, ele detesta esse tipo de assunto.

Visto que ela não cederia às minhas perguntas, me aproximei do quadro para analisá-lo melhor. Observando também que meu pai e meu tio estavam quietos demais, embora o barulho das canecas estivesse só aumentando. Estariam bêbados? - Imaginava, enquanto percebia que as gargalhadas estavam num tom baixo e rouco.

- Ela era tão bonita... - respondi honestamente, enquanto admirava o quadro cor de sangue que esboçava uma jovem sorridente de cabelos ruivos e cacheados.

Josefa suspirou em desdém.

- Na época, talvez... Mas agora... Ela não é mais. Hoje em dia, ela é... – Josefa desviou o olhar. – Olhe, é melhor deixarmos o passado quieto, não acha? - Replicou com um tom de seriedade.

Percebi então, que o que quer tivesse acontecido entre o meu tio e a rainha, essa coisa com certeza deve ter ficado no passado: como uma cicatriz, de algo que não precisava ser tocado de novo.

- TUM! TUM! TUM! - Ecoou o som da porta mais próxima de nós.

Josefa levantou-se num piscar de olhos, deixando cair migalhas de pão por toda parte.

- Olá, o Órion está? - Recitou a voz enjoada daquele garoto mimado.

Sacudi a cabeça em negação enquanto Josefa me encarava, mas ela não ousou mentir.

- Sim! Claro, ele está bem aqui, Eidrew, queira entrar por favor...

Revirei a cabeça em desgosto, quando percebi que era tarde demais. Lá estava ele, se sentando bem ao lado da poltrona em que eu me encontrava.

- Oi Órion? Tá tudo bem com você, cara? Soube que estava meio doentinho... - ironizou ele.

- O faz aqui, Eidrew? Já não se cansou do seu joguinho?! - Insinuei sem muita paciência.

Josefa suspendeu as sobrancelhas soltando um breve suspiro, surpresa com a minha arrogância.

- Não trate o garoto assim, Órion! Tenha modos! - Insinuou ela, fazendo com que Eidrew interferisse dizendo:

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOOnde histórias criam vida. Descubra agora