XXIII. Fuga do tempo

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Capítulo 23


SILÊNCIO E DOR eram as únicas testemunhas do que havia acontecido. Meu corpo foi retomando a consciência pouco a pouco, e dentro de alguns instantes eu já estava lúcido de novo, repleto de cortes de cristais que a explosão havia causado.

— ARH... — gemi em ardência, apalpando os ferimentos.

De repente, sem que eu pudesse esperar, elas acenderam. As minhas mãos estavam pegando fogo de novo, e eu nem sequer havia feito esforço. Simplesmente aconteceu. Naturalmente. E o melhor de tudo era que não queimavam ou ardiam, mas curavam — relembrei ao perceber que elas fechavam os ferimentos de onde quer que eu tocasse.

— Todas as marcas! Eu tenho todas as marcas! — Exclamei ao me levantar.

Quando virei para trás, me deparei com o pior, com o inacreditável, o tempo, ele... Estava parado: congelado numa substância densa e etérica que fazia com que todo aquele instante passasse em uma velocidade extremamente lenta e anormal.

Faya estava congelada no ar no mesmo momento em que ainda refletia o seu feixe púrpuro sobre a árvore Súria. Ela estava caindo lentamente, de minuto a minuto, e mesmo que aparentasse, não estava parada — observei.

Eu não podia mais esperar para tomar alguma decisão. Meu tempo era curto e eu estava convicto de que fugiria.

Meus passos se apressaram em busca da Lesly e pelo caminho encontrei Sírian. E quando já estava pensando em como carregá-la para longe dali, toquei por descuido em sua face, fazendo-a despertar, como em um passe de mágica.

— Sírian! — Exclamei, fazendo a princesa suspirar.

— Órion?! Como? Como você...

— Calma, eu vou te explicar tudo. Eu prometo. Mas agora temos que ir, antes que o efeito acabe — disse, enquanto percebia a expressão espantada que ela fizera ao se dar conta de que o tempo havia parado.

— A dilatação atemporal do destino! Isso é muito raro, Órion. Só acontece quando um destino forte o suficiente se concretiza no tempo-espaço. Nesse caso é do seu destino que estamos falando — explicou ela.

— Então, não importa o que eu faça? E se eu não aceitar — retruquei, descendo das escadarias rumo à multidão ajoelhada.

— HAHAHAH! E quem disse que você precisa aceitar? — Riu a princesa como se eu dissesse a maior bobagem dos últimos tempos.

— Tudo bem, eu já entendi... Vou tentar acreditar que eu realmente não tenho escolha — Ironizei.

Por sorte, bem quando desci as escadarias, avistei Lesly à poucos metros de distância, sendo ainda, a única a não se ajoelhar perante a árvore. Seus cabelos estavam esvoaçados no ar e o seu rosto delicado, agora carregava ira e raiva, assim como seus punhos fechados próximos do corpo. Como sua boca estava aberta, presumi que ela estava gritando quando tudo aconteceu.

Ao me aproximar, meus olhos se encheram de lágrimas. Era horrível vê-la assim. Então, de olhos fechados eu a toquei de leve.

— AAARH! SEUS FILHAS DA PUTA! — Urrou ela assim que seu corpo descongelou. — Órion?! Como?! — Disse Lesly, envergonhada ao se deparar comigo. — Você está vivo! Achei que eles haviam te matado  —Exclamou ela me beijando num abraço apertado.

— Não, eu estou bem. Mas pelo visto você está bem irritada...

— Ei, eu estou aqui, se esqueceram?! — Reclamou Sírian se aproximando de nós.

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOOnde histórias criam vida. Descubra agora