XVIII. O plano da noite

68 6 11
                                    

Capítulo 18


DE REPENTE, UMA FORTE IRRITAÇÃO surgiu de dentro das minhas narinas, fazendo o meu corpo inteiro acordar em êxtase e deixando-se levar por uma série de espirros subsequentes.

- ATCHIM!... AAATCHIM! AAAAATCHIM!

Ao passar as mãos no rosto, encontro uma grande quantidade de pó amarelado espalhado pelo entorno do meu nariz. Assustado, sacudo-me, perguntando como aquilo havia parado ali.

Olhando a escuridão da cabana percebo que Lesly ainda adormecia ao meu lado e que nenhum barulho, além dos ventos uivantes daquela noite, ressoavam do lado de fora. Minha atenção foi chamada somente por um detalhe suspeito: a porta de madeira da cabana estava aberta.

Meus olhos fitaram os cantos do lugar, até eu me deparar com um enorme par de olhos verdes esbugalhados no escuro.

- AH! TRISTON? O QUE VOCÊ FAZ AQUI?! - Berrei em adrenalina, pulando da cama.

- Ó... Óhion... Me dersculpe. Eurh perciso da sua arhjuda! Usei um pourco de pórh de cíliums parha te despertarh - explicou o gnomo com o olhar assustado.

Ao examina-lo, percebi que sua roupa de folhas e tecidos naturais estava repleta de rasgos, bem como sua face, que estaca marcada por um enorme arranhão próximo à boca.

- Depois de tudo o que você me fez... Ainda tem a coragem de vir aqui para pedir por ajuda?!

- Eurh precisava escarpar, era turdo um plano. Eurh jarmais te abandonahia, Óhion - Confessou ele cabisbaixo.

- Um plano? Sem me contar... E como eu adivinharia, Triston?!

- Vorhcê estarh sabendo agorha. Érh por isso que erstou aqui. Líria não me aceitarhia, e muito menos Fayarh. Era isso, ou perder a Sírian... Parha sempre! - Seus olhos se entristeceram.

Eu definitivamente não sabia o que fazer, estava divido entre a lógica e a intuição. Enquanto parte de mim dizia que Triston era um impostor, a outra concordava que ele havia feito o melhor que poderia, para salvar tanto sua namorada, quanto a minha própria pele.

Meu olhar se voltou à Lesly, pois eu estava ciente de que se eu fosse com Triston ela jamais me perdoaria de novo. Naquele momento eu estava mais uma vez enroscado entre o drama do amor e da amizade.

- O que houve com você? Porque está ferido? - Indaguei preocupado.

- Sombrhas - Respondeu ele em decepção.

- Oh céus, é claro! Aliás, como você entrou aqui? A barreira não... - Meu raciocínio cessou, ao lembrar das habilidades mágicas que os gnomos também possuíam. - Você usou magia?

Ao ouvir isso, seus olhos verdes tomaram um aspecto brilhante pulsando numa breve luminescência esverdeada.

- Os Gnomos também são márgicos, Órhion - seu olhar se desviou do meu. - Mas se não puderh ajurdarh... eu irhei emboha - terminou ele de costas, caminhando em direção a porta.

De fato, eu realmente não queria ajudá-lo.

No entanto, Triston era meu amigo. Era tão importante como Isack fora para mim. E eu não o deixaria pra trás daquela forma. Não seria capaz.

- Triston! - Chamei, fazendo o seu minúsculo corpo se voltar de novo. - Você fica, eu tenho um plano!

***

Saímos da cabana com o máximo de silêncio possível. A quietude reinava no reino das fadas, sem cantoria, flautas ou danças, apenas o som monótono de assobios e roncos, os quais de tão histéricos, assemelhava-se até mesmo a apitos e notas musicais.

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOOnde histórias criam vida. Descubra agora