XVII. Cuidados do amor

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Capítulo 17


TÃO FASCINATES ERAM OS OLHOS DAS FADAS, porque além de curiosos esboçavam expressões um tanto quanto complexas. Não dava sequer para adivinhar se estavam furiosas ou admiradas, uma vez que nos envolviam pelo ar com enorme agilidade.

Devido a minha série de ferimentos meu passo estava cada vez mais devagar, tornando difícil a minha caminhada até o abrigo. Conforme íamos se aproximando também nos deparávamos com um delicioso aroma de jasmim e lavanda, exalado pelas flores à nossa frente. Ao redor havia um jardim repleto de casinhas pequenas modeladas ao interior das raízes e troncos do local, sendo também por onde luzinhas amarelas piscavam e sons de flautas e violinos ecoavam.

— Elas são sempre assim? Agitadas? — Indaguei.

— Sempre — respondeu Lesly. — Perfeccionistas, belas e bem mais espertas do que você sequer imagina.

— O que quer dizer com "bem mais espertas"? — Retruquei.

— Que elas podem ler os seus pensamentos, humano. Suas intenções e os seus segredos...  Nunca tente mentir para uma fada, ou ela ficará furiosa — intrometeu-se Faya mais à frente.

Ao cruzarmos o jardim repleto de casinhas adentramos em uma área de um vasto gramado verde, que dava destaque a uma árvore espessa de raízes contorcidas. Seus galhos ondulados carregavam folhas, cuja coloração roxeada exalava um perfume que eu nunca havia experimentado na vida. Nesta árvore, os abrigos eram maiores do que os anteriores, fazendo da casa ao topo a mais bela dentre as outras.

— Enfim chegamos! Bem vindos à Faderick, ou o lar das fadas — saudou a rainha empolgada.

— Que lugar incrível! Então é lá que vamos dormir? — Indaguei admirado.

— Bom, não exatamente... — Respondeu Lesly com uma expressão azedada.

Nesse momento Líria aproximou-se de mim, fisgando a minha atenção.

— Órion, vocês estão feridos e aquele lar pertence a rainha. Somente quem tem sangue de fada pode adentrar a cabana.

— É como castelo um real, entende? — Completou Lesly, como se já estivesse habituada.

— Tudo bem, mas então aonde você ficou por todo esse tempo? — Questionei.

— Ali — apontou Lesly para o lado esquerdo da árvore mágica, na direção de uma cabana média de galhos e cipós.

— Espero que fiquem bem, humanos. Wotcha! — Despediu-se a rainha levantando vôo rumo à sua morada. Levando consigo as poucas fadas que ainda revoavam fora de suas casinhas.

Meu olhar de preocupação se voltou a Líria.

— Não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. Agora vá, a Lesly cuidará de você.

— Eu não preciso que cuidem de mim. — Retruquei.

— Ah, você precisa sim —, olha só a sua perna! Vamos cuidar logo disso... — Chamou Lesly, retomando o trajeto até a cabana.

Enquanto seguiamos, Líria foi pelo lado oposto, retornando ao jardim de onde saímos. Pela nossa frente a iluminação era sustentada pelo brilho azulado das Blérys e pelo grande violeta da barreira acima. Por incrível que pareça, estávamos a sós novamente e eu torcia para não estragar tudo como da última vez. Aquele cenário era sem dúvidas o mais romântico possíveil.

***

— Que tal?! — Indagou Lesly próxima à cabana de não mais de um metro e meio de altura.

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOOnde histórias criam vida. Descubra agora