XII. Travessia dos temores

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Capítulo 12


A

NOITE E AS TREVAS se conciliaram como nunca vira antes, numa dança maligna que acobertava praticamente tudo ao nosso redor, com excessão apenas das Slambas que brilhavam pelo entorno da ilha.

Como se o vento e a escuridão não fossem o suficiente para me causar os piores pesadelos, era evidente que ainda tinha que lidar com o peso de toda aquela agonia que me assolava. Agonia aquela, causada por ter adentrado num planeta nítidamente bizarro e de morrer de saudade dos meu pais, principalmente da Lesly que despedaçava meu coração por estar desaparecida.

O estremecer de meu corpo sujo, aliado às lembranças de minha família, acabaram por me despertar com uma breve sensação de desconforto. Enquanto acordava, via que Líria e Triston dormiam serenamente ao meu lado, sem demonstrar quaisquer indícios de inquietação ou insônia, como se por estarem habituados com este planeta, nenhum medo ou insegurança os assolacem, nem mesmo numa noite como aquela. Já eu tremia e rangia os dentes de frio, tomado pela aflição daquele momento solene onde dormira pela primeira vez na companhia de seres estranhos.

Inquieto, decidi-me rastejar pra fora do abrigo me expondo perigosamente às trevas que vagavam por lá, o fato é que eu não estava mais tão consciente quanto antes mal podendo controlar-me de tamanha curiosidade. Me levantei, andei e cai, percebendo também que minhas pernas não aguentavam mais sustentar o meu próprio peso. - Droga! - desdenhei.

Logo, a escuridão tomou posse dos meus olhos me deixando cego enquanto à todas as coisas pela minha frente, me fazendo se sentir ainda mais dominado pelo medo das sombras.

De repente, murmúrios familiares ressoaram pela escuridão, assim como gritos enlouquentes que sondavam pelo completo breu. - Mas que diabos?! - perguntava-me tentando encontrar a origem daqueles sons, embora por mais que tentasse parecia algo impossível de se descobrir.

- Órion... - sussuraram atrás de mim.

- Órion! - gritaram à minha frente.

- Nos libertem! - sussurrou uma voz trêmula ao meu ouvido.

- An... QUEM SÃO VOCÊS?! Afastem-se! - disse rastejando-me de volta ao abrigo, porém agora confuso, sobre onde ele se encontrava.

- Somos a verdade, Órion... - murmuraram à minha esquerda.

- A verdade! - A verdade! - repetiram ecoando pelos ares.

- Saiam! Me deixem em paz! - ordenei rastejando-me pela escuridão, ainda cego.

- Não confie na anja! - gritaram à poucos metros, me fazendo arrepiar.

- Parem! - Saiam daqui! - urrei.

- Ela não diz a verdade! - Ela quer apenas o seu poder. - Ela não diz a verdade! - pronunciou uma das diversas vozes, sendo que esta em especial, agonizava-se ainda mais.

- Ela quem?! - indaguei.

- A RAINHA! - gritaram as vozes enfurecidas. - LIBERTEM-NOS DE TREVORYAND! - Implorou a voz sombria, empurrando-me contra o chão com uma força árdua. Fazendo-me finalmente acordar de todo aquele SONHO SINISTRO que me aprisionava. Sim, era tudo um sonho! - percebi, enquanto finalmente abria os olhos.

***

Agora acordado, podia jurar que aquilo tudo tinha sido real. Tão real quanto nesse instante: esparramado pelo interior do pequeníssimo cristal ao lado de Triston, o qual ainda dormia completamente tranquilo. Sendo a excessão dada apenas por Líria, que não se encontrava mais em seu devido local.

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOOnde histórias criam vida. Descubra agora