XVI. Os refugiados

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Capítulo 16


A ESCURIDÃO MENTAL SE APOSSOU DE MIM, assim como um raio se apossa de uma tempestade. Eu não me encontrava lúcido mesmo estando de olhos abertos.

- Não se preocupa... eu não vou te machucar - disse, enquanto observava um minúsculo serzinho estremecer por detrás de uma pedra. - Eu só preciso encontrar a saída, você sabe aonde fica?

Eu jamais esperaria por respostas, mas o inesperado surgiu quando a criatura viu em meus olhos verdes algo que a fez finalmente se acalmar, saindo de seu esconderijo e aproximando-se. O serzinho me tomou com vislumbre ao encarar com astúcia a minha grande face humana, acalmou-se e veio lentamente até mim, admirando toda a minha aparência assim como eu admirava a dele: éramos seres tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais.

- UÊN? - Indagou ele enquanto me encarava.

Eu simplesmente não sabia o significado daquele dialeto, mas pela tamanha expressão esperançosa que a criatura esboçou, concordei.

- Sim. Eu acho...

- UÊN?! - Repetiu ele ainda mais alto, agora a somente poucos centímetros de mim.

- UÊN! - Berrei enquanto tudo a minha frente se dissipava em fumaça. - UÊEEN! - Era tudo uma ilusão. Resquícios da minha memória. - UÊEEEEN! - Mesmo que eu quisesse muito reviver aquelas coisas - Puf! - Já era tarde demais.

***

Os últimos raios de luz daquela tarde invadiram os meus olhos a medida em que estes foram se abrindo. Meu olhar encontrou o de Lesly nos primeiros segundos em que voltei à realidade. Minha cabeça estava apoiada em seu colo e o seu olhar se mantinha fixo em meu rosto. Sua expressão não era nada agradável.

- Órion?! Me diga que você está bem, por favor. Qual é?! Você só sabe se me meter em furadas... - Reclamou Lesly, dando tapinhas para me manter acordado.

Os olhos brilhantes de Líria também vieram a me confrontar enquanto ela se aproximava lentamente da minha presença. De relance tive um súbito pressentimento de medo.

- Aonde está o Triston, Órion?! Não me diga que você o perdeu...

Ao recitar isso, minha mente me levou a segundos antes de eu ter aceito aquelas "sementes"; me levou ao momento em que Triston havia escapado, e que evidentemente, era de total responsabilidade minha. Eu estava com medo de ter que me confessar, assumindo toda a responsabilidade por ter agido por impulso. Mas sabe de uma coisa? Triston não merecia ser exilado: era contra à sua vontade, não era justo. Ademais, eu já tinha um plano em mente e não pouparia esforços para executá-lo.

- Triston?! - Olhei ao redor instintivamente. - Quem é esse? Eu por acaso conheço? - Disse com uma voz abafada, esforçando-me ao máximo para parecer sincero.

Líria me encarou com um olhar semicerrado causando-me uma leve palpitação de medo. Induzindo a luz interna de seus olhos a piscarem numa fração de segundo, como se quem pudesse farejar os meus sentimentos.

- Ele está delirando, Lesly. Precisamos levá-lo para Fonday, aonde cuidaremos dos seus ferimentos. Já está escurecendo, temos que ir. - Completou a loba puxando-me pela roupa e confortando-me sobre as suas costas macias.

- Espero que ele fique bem... - Confessou Lesly enquanto levantava-se de um punhado de Slambas que havia apanhado nesse meio tempo.

- Ele ficará. Mas e você? Não vai levar as suas Slambas?

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOOnde histórias criam vida. Descubra agora