Almas

Capítulo 2

Presente

Foi nesse dia que te conheci, Alma. Fazíamos parte da mesma turma. Durante o primeiro ano, fomos amigos, mas não muito chegados. Tínhamos interesses e gostos demasiado diferentes, pelo menos, era o que achávamos.

Nesse primeiro ano, não tivemos oportunidade de aprofundar o nosso relacionamento ao ponto de percebermos a quantidade de aspectos que tínhamos em comum.

No ano seguinte, apesar de continuar na tua turma, afastei-me. Não apenas de ti, mas de todos daquela turma. Sentia-me a sufocar lentamente. Por isso, fui procurar amigos numa outra turma. E encontrei-os. Esse ano foi fantástico, tinha amigos de quem gostava, era quem queria e tinha finalmente saído do casulo. Até que uma parte desse esplêndido castelo desmorona. Afinal, esses amigos, que eu achava tão incríveis, só estavam à espera da minha primeira falha para me fazerem cair. Mas é a vida, certo? Nem sempre se ganha.

Eu era tão ingénua. Sempre pronta para acreditar no melhor das pessoas e para confiar nelas. Sinceramente, não aprendi muito com os meus erros. Mas o pouco que aprendi, serviu para me abrir os olhos e passar a ver o mundo de forma diferente.

Em 2014, mudei de turma. Não por vontade própria, mas por logística. Não eras da minha turma o que contribuiu ainda mais para o nosso afastamento. Não te falei durante esse ano. Estava numa turma nova, com pessoas que me tinham magoado muito no ano anterior e precisei de aprender a sobreviver. Construí o meu próprio grupo de amigos e esbocei os primeiros traços da minha personalidade.

Nesse mesmo ano, tive uma experiência que me revolucionou. Claro que, na altura, não lhe dei a devida importância. Experimentei a pintura e apaixonei-me por ela. Um amor que cresceu lentamente, mas que hoje faz toda a diferença. É o meu refúgio, um espaço onde não preciso de ter medo e onde posso libertar todos os sentimentos e esquecer, nem que seja por um breve momento, da ansiedade que consume todas as minhas forças.

Em 2015, mais madura e mais ciente de quem era, volto a aproximar-me de ti. E a partir daí, o tempo passou a correr. Em tão pouco tempo, ficamos tão próximos. De amigos a melhores amigos, foi só um pequeno passo. Passámos a estar sempre juntos, a partilhar tudo um com o outro. E pouco a pouco, surgiu um sentimento nas nossas vidas que nunca tinha mostrado as garras. Até àquele momento. Se o Destino existe mesmo, pregou-nos uma grande partida, querida Alma. E, sem nem sabermos, tínhamos encontrado o amor.