Capítulo 20

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Foi um caminho longo, mas bastante recompensador. Acima de tudo, foi um caminho de mudança e de aprendizagem. Ganhei alguma maturidade, aprendi a observar o mundo, a escutar os outros e reformulei o meu pensamento e, sem dúvida, que reformulei o tipo de música que ouço. Fiz o meu próprio retiro espiritual sem sair de casa e aprendi muitas coisas sobre mim.

Com tudo este caminho e este processo de aprendizagem, tinham-se passado as férias de verão e um novo ano letivo estava à porta. Sabia que este início de ano iria testar tudo o que tinha aprendido e melhorado durante as férias e, acima de tudo, iria servir para perceber se realmente já te tinha esquecido na totalidade. De corpo e alma. Se já te tinha tirado totalmente da cabeça e do coração.

Foi um início de ano letivo um pouco complicado. Eu tinha mudado demasiado de comportamento para o que as outras pessoas estavam habituadas. Já não era a rapariga que estava aberta às pessoas. Tinha perdido a confiança que depositava nas pessoas e era-me difícil reconhecer que os outros se importavam e que queriam conviver e, de certa forma, cuidar de mim.

Ainda estava demasiado abalada. Confiava em poucas pessoas. Ainda sentia os efeitos da ansiedade no meu corpo e na minha mente.

Inevitavelmente, as nossas vidas voltaram a cruzar-se, Alma. Semanalmente, encontro-te no autocarro no regresso a casa. Nas primeiras vezes, foi difícil olhar para ti e não pensar na nossa história. Custou-me imenso perceber a tua drástica mudança de comportamento. Até de amigos mudaste. Sei que te afastaste de muitas mais pessoas do que apenas de mim e tenho pena das pessoas que também sofreram por terem perdido a tua amizade. Contudo, também reconheço que nem eles foram capazes de perceber todas as tuas mudanças e de se adaptarem às mesmas.

Mas, com o tempo, até estes reencontros semanais, se tornaram banais. Nunca mais nos falamos. Sempre que, por acaso ou obra do Destino, os nossos olhares se cruzavam, rapidamente se desviavam para qualquer outra direcção. Passamos a ser dois estranhos.

Nunca mais voltei a escrever sobre ti até ao momento em que comecei a relatar a nossa história nestas folhas. Continuo a pintar, mas tu já não és o foco dos meus desenhos. Já não és a chama condutora para a minha arte.

Contudo, ainda não estou completamente recuperada.

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