Capítulo 4

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Para te conseguir descrever melhor, Alma, preciso de falar primeiro sobre os meus amigos na altura. Afinal, tu também eras um deles antes de passares a ser algo mais. Eles foram bons para mim, deram me bons momentos, boas recordações. Cresci muito com eles. Eles ajudaram-me a construir uma personalidade que realmente se adaptava ao que eu achava que era. Nunca precisei de esconder o meu verdadeiro "eu" quando estava com eles. Eles percebiam-me e apoiavam-me. Mas até a maioria deles foi capaz de me magoar. Não mantenho quase ninguém na minha vida dessa época. Preferi esquecê-los e seguir em frente. Mas ainda guardo as inúmeras cartas e postais que alguns deles me escreveram. E também guardo a tua, Alma.

"Namoro é simplesmente feito de liberdade. É ter a liberdade de ter muitas opções todos os dias e ainda assim fazer a mesma livre escolha, ficar contigo para o resto da minha vida. Te amo"

Escreveste-me isto para o meu aniversário desse ano e junto daquele pequeno papel, onde tão cuidadosamente juntaste palavras tão bonitas, entregaste-me um livro. Quando tu eras meu. Nunca cheguei a lê-lo e arrependo-me todos os dias por ainda não o ter feito. Mas, a verdade é que sou uma cobarde e tenho medo do que esse livro representará para mim.

Mas voltemos ao início da nossa história de amor. Cedo concordamos que a nossa relação deveria permanecer em segredo, pelo menos para as nossas famílias. Eu sabia que a minha mãe não iria reagir bem ao descobrir que a filha mais nova estava a namorar. As tuas razões nunca fiz questão de saber, passavam-me ao lado. Isso nunca importou. Estávamos felizes juntos. Por vezes, tinha um ataque de ciúmes e passávamos um tempo sem falar. Mas acabávamos sempre por resolver as coisas. Estávamos sempre juntos. Vivíamos um para o outro, éramos completos companheiros um do outro. Éramos o que as pessoas vulgarmente chamam de almas gémeas. Nunca acreditei que isso realmente existia, mas percebia que a nossa relação tinha pernas para andar se ambos o quiséssemos.

Mas chegou o verão e, com ele, as férias e o meu aniversário. Já não podíamos estar sempre juntos, mas sempre que conseguíamos, encontrávamos às escondidas. Tenho óptimas recordações desses encontros.

Eu tinha encontrado paz ao teu lado e não a queria perder. Contudo, uma noite desse verão veio perturbar essa paz.

Anos atrás - julho de 2016

Adoro a época das tasquinhas e da feira medieval. É aquela altura do ano em que tu sais à noite, vais comer uma sandes de porco e passas um bom momento com a tua família e com os teus amigos. E este ano não é excepção. Eu e a minha mãe vamos às tasquinhas e espero passar um bom bocado. Talvez encontrar alguns amigos.

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