Capítulo 14

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"Nas tuas mãos, sou um espelho prestes a cair. Um estilhaço, um fragmento, algo totalmente inútil e descartável.

Nas minhas mãos, és o maior diamante, a mais bela pintura. Valioso, mais inacessível.

Já me amaste, agora usas-me.

Já te amei, agora...

Agora não sei, sinto-me confusa. Sou um fragmento de sentimentos. Amor, raiva, desejo, repulsa.

Estou farta. Extremamente farta dos teus joguinhos, das tuas manipulações. Para ti, tudo não passa de um jogo onde queres ser o melhor jogador.

Estou farta de te amar.

Quero odiar-te, mas é-me impossível pelo que já significaste e fizeste por mim no passado. Esse passado que agora me parece tão distante. Mas, aqui, no presente, reduziste-te ao pó do solo que piso.

E de quem é a culpa de tudo isto, perguntas tu. E eu respondo, do fundo da minha desgastada e cansada alma, tua, apenas e somente tua. Por muitos erros que possa ter cometido, tu foste o que mais errou quando abandonaste a tua essência para te transformares nesse ser manipulador, frio, calculista e arrogante que pensa ter o poder e o controlo sobre tudo e todos.

E agora retiro-te da minha vida como, um dia, já fizeste comigo.

Já não me trazes nada de novo, muito menos de positivo, somente desilusões e revolta.

Já não sou o teu objeto, mas sim a minha pessoa e personalidade no seu estado natural e completamente renovada e aperfeiçoada.

Corri milhares de quilómetros e durante imenso tempo por ti, mas agora parei.

Recupero o ar.

Sinto-me a renascer.

Uns passos adiante, recomeço, mas agora corro por mim."

Caminhávamos a passos largos para o encerrar de um ciclo e de uma relação que já tinha durado tanto tempo. Atrevo-me a dizer que já tinha durado demasiado tempo.

Mas, apesar de, estar a enfrentar um dos piores momentos da minha vida, tinha dois pequenos anjos ao meu lado. E mais um já estava a caminho para me socorrer do vazio onde caía sem me aperceber.

Eles deram-me o maior e melhor apoio possível nessa fase e nos tempos conturbados que foram surgindo. Mas a maioria desse caminho tinha de ser feita por mim. Sozinha. Eu é que precisava de ter forças para dizer o "basta" e para, em seguida, começar a esquecer-me de ti, Alma.

E a nossa relação foi-se deteriorando. Apesar de te amar, já não aguentava a frieza com a qual me passaste a tratar e as sucessivas mentiras que me contavas. E, como tal, foi-me afastando de ti, Alma, mas sem nunca te dizer adeus. Apesar de tudo, ainda tinha esperança. Ainda tinha esperança na mudança que pode ocorrer nas pessoas. Ainda tinha esperança de que tudo não passasse de uma péssima história de terror.

Porque a esperança é a última a morrer.

Mas essa esperança não durou para sempre.

Já não tinha mais forças para carregar uma relação que já tinha dado provas de que já não tinha pernas para andar. 

AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora